❤️🩹Neste domingo, a liturgia nos apresenta o drama da condição humana: escravos do pecado, estávamos mortos para a vida da graça, sendo carregados para o sepulcro eterno. Contudo, a compaixão divina intervém. Cristo, movido por misericórdia ao ver o sofrimento da Igreja, nossa Mãe, que chora por seus filhos, nos encontra em nosso cortejo fúnebre e, com sua palavra poderosa, ordena: "Jovem, eu te digo, levanta-te". Ele não apenas nos ressuscita da morte espiritual, mas nos restitui à vida na Igreja. Essa nova vida, porém, exige uma conduta correspondente: viver pelo Espírito, carregar os fardos uns dos outros e semear para a eternidade, não para a corrupção da carne.
🙏Introito (Sl 85, 1 e 2-3 | ib., 4)
Inclína, Dómine, aurem tuam ad me, et exáudi me... Inclinai, Senhor, os vossos ouvidos para mim, e atendei-me. Meu Deus, salvai vosso servo que em Vós espera. Tende piedade de mim, Senhor, pois eu clamo por Vós todo o dia. Sl. Alegrai a alma de vosso servo; porque a Vós, Senhor, elevo a minha alma. ℣. Glória ao Pai…
📜Epístola (Gl 5, 25-26; 6, 1-10)
Irmãos: Se vivemos no Espírito, conduzamo-nos também pelo Espírito. Não cobicemos a vanglória, provocando-nos mutuamente e invejando uns aos outros. Meus irmãos, se um homem for surpreendido em algum pecado, vós, que sois espirituais, instruí-o com espírito de mansidão, considerando a vós mesmos, para que não venhais também a ser tentados. Carregai o peso uns dos outros: assim cumprireis a lei de Cristo. Porque se alguém se julga alguma coisa, quando nada é, a si mesmo se engana. Examine cada um suas próprias ações, e então terá sua glória somente em si mesmo, e não se compare com outro. Porque cada um carregará o seu próprio peso. Aquele que é catequizado na palavra, reparta de todos os seus bens com aquele que o catequiza. Não vos enganeis; de Deus não se zomba. Pois aquilo que o homem semear, isso também colherá. O que semear em sua carne, recolherá da carne corrupção, e o que semear no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. Não nos cansemos, pois, de fazer o bem, porque em tempo propício colheremos o fruto, se houvermos sido constantes. Portanto, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mormente aos companheiros de fé.
✨Evangelho (Lc 7, 11-16)
Naquele tempo, ia Jesus para uma cidade chamada Naim. Iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. E quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade. Vendo-a, o Senhor moveu-se de compaixão para com ela, e disse-lhe: Não chores. Depois, aproximou-se e tocou no esquife. (E os que o levavam, pararam.) Então Jesus disse: Jovem, eu te digo, levanta-te. E o que estava morto se sentou, e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. Todos porém se encheram de temor; e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande Profeta surgiu entre nós; e Deus visitou o seu povo.
🤔Reflexões
💡Aquele jovem morto era levado para fora da cidade; da mesma forma, a alma morta pelo pecado é carregada para fora da comunhão da Igreja. A mãe viúva que chora é a própria Igreja, que lamenta a perda de seus filhos. Cristo, movido de compaixão por essa Mãe, diz à alma: 'Jovem, eu te digo, levanta-te'. Ele toca o esquife, isto é, o corpo sujeito às paixões, detendo o curso do pecado, e com sua palavra vivificante restaura a alma à vida da graça, entregando-a novamente à sua Mãe, a Igreja. (Santo Agostinho, Sermão 98). O apelo para carregar os fardos uns dos outros não se aplica apenas às falhas morais, mas a toda forma de sofrimento, pois ao aliviar a aflição do irmão, seja por correção ou por consolo, cumprimos a lei de Cristo, que carregou sobre si todas as nossas dores. (São João Crisóstomo, Comentário sobre a Epístola aos Gálatas).
📖O Evangelho de Lucas apresenta a ressurreição do filho da viúva de Naim com detalhes únicos. Diferente da ressurreição da filha de Jairo (Mt 9, Mc 5, Lc 8), onde Jesus age a pedido insistente de um pai, ou da de Lázaro (Jo 11), onde é chamado pelas irmãs do falecido, aqui Jesus age por iniciativa própria, movido unicamente pela compaixão ao ver a dor da viúva. Além disso, o milagre ocorre publicamente, no meio de um cortejo fúnebre, e a ordem de Jesus ("levanta-te") é dada a alguém já considerado impuro pelo contato com a morte, demonstrando seu poder soberano sobre a vida, a morte e a lei.
🕊️A Epístola aos Gálatas ecoa o grande tema paulino da oposição entre a carne e o Espírito, que é detalhado de forma mais sistemática na Epístola aos Romanos. Enquanto em Gálatas Paulo adverte que "o que semear em sua carne, recolherá da carne corrupção", em Romanos 8 ele explica a consequência teológica: "a inclinação da carne é morte, mas a inclinação do Espírito é vida e paz" (Rm 8, 6). A exortação para "carregar o peso uns dos outros" (Gl 6, 2) e assim cumprir a "lei de Cristo" é o cumprimento prático do mandamento do amor, que em Romanos é chamado de "plenitude da lei" (Rm 13, 10).
🏛️Os documentos da Igreja, como o Catecismo Romano, explicitam a doutrina por trás do milagre de Naim. A ressurreição do jovem não é apenas um ato de poder, mas um sinal da missão redentora de Cristo, que veio para destruir a morte, principalmente a morte da alma causada pelo pecado mortal. O Catecismo ensina que, pelo sacramento da Penitência, a Igreja continua este mesmo milagre: a palavra de absolvição do sacerdote, agindo in persona Christi, é a voz do próprio Cristo que diz à alma morta: "Eu te digo, levanta-te", restaurando-a à vida da graça e à comunhão com sua Mãe, a Igreja.