No seu artigo "Is Leo XIV a Great Restorer, Francis 2.0, or Simply Another Post-Conciliar Pope?", Robert Morrison (2025) aborda a complexidade de avaliar um pontificado pós-Francisco que se apresenta como mais tradicional que o seu predecessor. O autor contrapõe duas perspectivas: a primeira, alinhada com a Declaração de 1974 do Arcebispo Marcel Lefebvre, que vê a crise na Igreja como um mal sistêmico originado no Concílio Vaticano II, considerando papas como Francisco como uma consequência lógica dessa "revolução"; a segunda, de católicos que identificaram a crise agudamente com Francisco e poderiam, portanto, interpretar as ações de um novo papa como o fim da crise. Morrison adverte contra a aceitação de reformas superficiais — como a reversão de Traditionis Custodes ou a correção de Fiducia Supplicans — como solução. Ele argumenta que tais medidas são meros paliativos que não tratam o "câncer" subjacente: os erros do próprio Concílio. A única atitude fiel, conclui, é a recusa categórica da "reforma" conciliar em sua totalidade, continuando a luta pela fé católica não adulterada até que Roma abandone os princípios modernistas e liberais.
A análise proposta por Morrison (2025) sobre a situação da Igreja sob o sucessor de Francisco é oportuna, porém o diagnóstico, embora correto em sua conclusão, pode ser aprofundado com maior precisão doutrinária para evitar que a discussão permaneça no campo das personalidades papais, em vez de focar na raiz do mal. A questão central não é se um papa é melhor ou pior que o anterior, mas se ele adere ou combate a revolução que envenena a Igreja há mais de sessenta anos.
🔍Identificando a Raiz do Mal
É um erro grave situar o início da crise em um pontificado específico, seja o de Paulo VI ou o de Francisco. Estes são os executores de um plano muito mais antigo, cujos frutos foram colhidos no Concílio Vaticano II. A crise atual é a manifestação do triunfo de uma ideologia condenada repetidamente pelos papas pré-conciliares: o liberalismo. Esta "teoria monstruosa" (Lefebvre, 1991, p. 7) é, em essência, a aplicação do naturalismo e do subjetivismo protestante às normas jurídicas e à vida da sociedade, resultando na proclamação dos direitos do homem sem Deus e na organização de uma sociedade sem Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Concílio não foi uma ruptura acidental, mas a culminação de um esforço deliberado para reconciliar a Igreja com os princípios da Revolução de 1789. Foi, de fato, um "contra-Syllabus" que buscou "assimilar dois séculos de cultura liberal" (Lefebvre, 1991, p. 7). Portanto, a doença que aflige o Corpo Místico não é um pontífice, mas o próprio liberalismo que ele promove. Qualquer papa que não rejeite categoricamente o Concílio e suas reformas liberais não é um restaurador, mas um continuador da demolição.
💊O Perigo dos Remédios Aparentes
Morrison (2025) alerta corretamente contra o otimismo gerado por correções superficiais. A razão para tal cautela é doutrinária. A reversão de Traditionis Custodes seria bem-vinda, mas inútil se a missa que a substituiu, fruto do mesmo espírito liberal, permanecer como rito ordinário. A correção de documentos como Fiducia Supplicans ou Amoris Laetitia seria um alívio, mas insuficiente se a fonte de tais desvios — o falso humanismo e a primazia da consciência subjetiva promovidos pelo Concílio — não for condenada.
O erro fundamental do Vaticano II, que envenena todos os seus frutos, é a Declaração sobre a Liberdade Religiosa, Dignitatis Humanae. Este documento contradiz frontalmente o magistério constante da Igreja ao defender um direito natural ao erro. Concede "o mesmo direito à verdade e ao erro, à verdadeira religião e às seitas heréticas" (Lefebvre, 1991, p. 53). Ao fazer isso, o Concílio destronou Nosso Senhor Jesus Cristo, negando Sua Realeza Social e promovendo o indiferentismo religioso do Estado, que nada mais é do que o "ateísmo sem nome" (Lefebvre, 1991, p. 41). Enquanto este erro não for extirpado, qualquer "restauração" será uma ilusão, um mero rearranjo dos sintomas enquanto o câncer do liberalismo continua a sua metástase.
👑A Única Atitude Católica: A Realeza de Cristo
A solução para a crise não está em negociar com a revolução ou em buscar um "novo equilíbrio" com o liberalismo. A solução reside na restauração integral da doutrina católica, o que implica necessariamente a restauração do Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo. A sociedade, assim como o indivíduo, tem o dever de se submeter a Deus e à Sua lei. O Estado não pode ser neutro; ou ele reconhece a Cristo como Rei, ou se torna, na prática, um instrumento de apostasia.
Como tal, a avaliação de qualquer papa deve basear-se num único critério: ele trabalha para "restaurar tudo em Cristo" (omnia instaurare in Christo) (Lefebvre, 1991, p. 22), ou continua a promover a agenda liberal de um mundo sem Deus? Enquanto um papa, por suas ações e ensinamentos, se alinhar com o espírito do Concílio — que é o espírito de diálogo com o erro, de liberdade para todas as religiões e de um humanismo que coloca o homem no lugar de Deus —, ele será um agente da autodemolição da Igreja, por mais conservadora que sua retórica possa parecer.
A única atitude de fidelidade à Igreja e à doutrina católica, em vista da nossa salvação, é a recusa categórica de aceitar esta reforma conciliar. A luta não é meramente por uma liturgia ou por um catecismo, mas pela coroa de Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi arrancada pela apostasia liberal sancionada no Vaticano II.
📚Referências
Lefebvre, Marcel. Do liberalismo à apostasia: a tragédia conciliar. Rio de Janeiro: Editora Permanência, 1991.