Com base no livro A Impostura do Marxismo Cultural de Jean-Marie Rioult, a análise de James Lindsay é a descrição exata do resultado prático de uma estratégia revolucionária meticulosamente planejada. No entanto, essa estratégia não nasce com o marxismo; ela é a secularização de um impulso subversivo que remonta às origens da civilização. Rioult não veria essa dinâmica como um fenômeno espontâneo, mas como o objetivo final de um projeto de engenharia social. Aprofundando a partir de sua obra, os pontos de Lindsay seriam explicados da seguinte forma, enriquecidos pela compreensão de que o conflito moderno é a continuação da guerra entre a Cidade de Deus e a Cidade do Homem (Meinvielle, 1970, p. 11):
📜A Transposição da Dialética para a Cultura
A "lógica opressor vs. oprimido" que Lindsay descreve é, para Rioult, a transposição direta da dialética marxista do campo econômico para o campo cultural. O marxismo clássico falhou porque o proletariado ocidental não se tornou o agente revolucionário esperado. A Nova Esquerda, especialmente a Escola de Frankfurt, precisava de um novo proletariado. Encontraram-no não em uma classe econômica, mas em uma coalizão de minorias (raciais, sexuais, etc.), transformando-as no novo motor da revolução. O "opressor" deixou de ser o burguês para se tornar o homem branco, heterossexual, cristão e, em última análise, a própria civilização ocidental. Essa busca por um novo agente revolucionário nada mais é do que a tentativa de materializar o impulso gnóstico de subversão. A tradição cabalística sempre operou através da cooptação de grupos descontentes para minar a ordem estabelecida, que é vista como uma criação imperfeita e opressora de um demiurgo inferior, em vez de uma obra de um Deus bom e transcendente (Meinvielle, 1970, p. 138-141).
⚔️A Inversão Gnóstica do Bem e do Mal
O que Lindsay chama de "releitura secularizada da luta do bem contra o mal" é identificado por Rioult como uma paródia maniqueísta e gnóstica da religião. A civilização cristã, com suas estruturas (família, pátria, hierarquia) e sua moral, é sistematicamente demonizada e classificada como o mal absoluto, a fonte de toda "opressão". Em contrapartida, tudo o que se opõe a essa ordem – a transgressão, a subversão, a desconstrução – é elevado à categoria de bem, de "libertação". Não há espaço para nuances, pois é uma guerra de aniquilação moral. Essa inversão é um pilar da gnosis, onde o Deus criador do Antigo Testamento é frequentemente visto como o mal, e a serpente do Gênesis, que incita à rebelião, é vista como um libertador que oferece o "conhecimento" (gnosis) para que o homem se torne como Deus. A "libertação" prometida não é a redenção em Cristo, mas a autossalvação através da destruição da ordem criada (Meinvielle, 1970, p. 31, 143).
🔬A Teoria Crítica como Ferramenta de Dissolução
A ferramenta para executar essa guerra é a Teoria Crítica. Lindsay observa que a dinâmica "não busca reconciliar, mas alimentar conflito". Rioult explica que essa é a função precípua da Teoria Crítica: ela não é uma ferramenta de análise neutra, mas uma arma cuja única finalidade é criticar negativamente, minar e deslegitimar todas as instituições e valores da sociedade tradicional. Ela existe para encontrar ou inventar opressão em todos os lugares, garantindo que o conflito seja permanente e insolúvel. Essa função destrutiva corresponde à cultura "mágica, operativa e fabricativa" da tradição gnóstica, que se opõe à cultura "contemplativa" da tradição católica. Seu objetivo não é entender a realidade para se conformar a ela, mas transformá-la e, em última análise, dissolvê-la para reconstruí-la segundo a vontade do homem divinizado (Meinvielle, 1970, p. 8).
⚖️A Culpa Estrutural e a Impossibilidade de Redenção
A consequência de que "se você é classificado como 'opressor', nada pode redimir você" é a chave da estratégia. Para Rioult, a culpa não é pessoal (baseada em atos), mas estrutural e existencial (baseada no ser). Um indivíduo não é culpado pelo que fez, mas pelo que é – um membro do grupo opressor. Sendo assim, o perdão é teologicamente impossível neste sistema. A única "redenção" para o opressor seria a sua completa aniquilação cultural e o repúdio total de sua própria identidade, o que na prática significa a destruição da civilização. Isso espelha a divisão gnóstica da humanidade em naturezas fixas (pneumáticos, psíquicos, hílicos), onde a salvação ou a danação é predeterminada pela essência, não pela livre cooperação com a graça. Rejeita-se a doutrina católica do pecado pessoal, do arrependimento e da redenção oferecida a todos por Cristo, substituindo-a por um destino de grupo inescapável, onde a única saída para o "opressor" é a autodestruição (Meinvielle, 1970, p. 150).
🎓A Conquista das Instituições como Estratégia Cabalística
Finalmente, a exportação desse modelo via universidades e ONGs, como aponta Lindsay, é a concretização da estratégia gramsciana da "longa marcha através das instituições". Rioult demonstra que os teóricos do marxismo cultural entenderam que a revolução não seria ganha nas ruas, mas na captura dos meios de produção cultural: a educação, a mídia, as artes. Ao dominar as universidades, eles formaram gerações de ativistas e burocratas que hoje disseminam essa ideologia de forma capilar por toda a sociedade. Essa tática de infiltração é a forma moderna da estratégia histórica da tradição cabalística, que sempre buscou penetrar e corromper por dentro as estruturas da Cristandade, desde as heresias gnósticas dos primeiros séculos até os movimentos ocultistas do Renascimento e as sociedades secretas que prepararam as revoluções modernas (Meinvielle, 1970, p. 29, 212).
📚Referências
Meinvielle, J. De la cábala al progresismo. Salta: Calchaquí, 1970.
Rioult, J-M. A impostura do marxismo cultural. Paris, 2016.
Lindsay, J. https://newdiscourses.com/author/jameslindsay/