Introito (At 12,11; Sl 138,1-2)
Nunc scio vere, quia misit Dóminus Angelum suum... Agora sei verdadeiramente que Deus enviou o seu anjo e que me salvou das mãos de Herodes e de tudo o que se esperava o povo dos Judeus. Sl. Senhor, Vós me provastes e conhecestes! Vós sabeis quando me deito e me levanto.
Epístola (At 12,1-11)
Naquele tempo: O rei Herodes mandou prender alguns membros da Igreja para os maltratar. Assim foi que matou à espada Tiago, irmão de João. Vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender Pedro. Eram então os dias dos pães sem fermento. Mandou prendê-lo e lançou-o no cárcere, entregando-o à guarda de quatro grupos, de quatro soldados cada um, com a intenção de apresentá-lo ao povo depois da Páscoa. Pedro estava assim encerrado na prisão, mas a Igreja orava sem cessar por ele a Deus. Ora, quando Herodes estava para o apresentar, naquela mesma noite dormia Pedro entre dois soldados, ligado com duas cadeias. Os guardas, à porta, vigiavam o cárcere. De repente, apresentou-se um anjo do Senhor, e uma luz brilhou no recinto. Tocando no lado de Pedro, o anjo despertou-o: Levanta-te depressa, disse ele. Caíram-lhe as cadeias das mãos. O anjo ordenou: Cinge-te e calça as tuas sandálias. Ele assim o fez. O anjo acrescentou: Cobre-te com a tua capa e segue-me. Pedro saiu e seguiu-o, sem saber se era real o que se fazia por meio do anjo. Julgava estar sonhando. Passaram o primeiro e o segundo postos da guarda. Chegaram ao portão de ferro, que dá para a cidade, o qual se lhes abriu por si mesmo. Saíram e tomaram juntos uma rua. Em seguida, de súbito, o anjo desapareceu. Então Pedro tornou a si e disse: Agora vejo que o Senhor mandou verdadeiramente o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de tudo o que esperava o povo dos judeus.
Evangelho (Mt 16,13-19)
Naquele tempo: Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
Homilias e Explicações Teológicas
A confissão de Pedro, ao reconhecer o Cristo como Filho do Deus vivo, revela a graça divina que ilumina a fé, mostrando que a verdadeira compreensão da divindade de Jesus não provém da carne ou do sangue, mas de uma revelação sobrenatural do Pai, estabelecendo Pedro como a rocha sobre a qual a Igreja é fundada, com autoridade para ligar e desligar, significando a missão de guiar os fiéis à salvação (Santo Agostinho, Sermão 295). A entrega das chaves a Pedro simboliza não apenas a primazia de sua liderança, mas também o poder de perdoar pecados, confiado à Igreja para reconciliar os homens com Deus, destacando a responsabilidade de Pedro como administrador da graça divina (São Leão Magno, Sermão 4). A libertação de Pedro da prisão, narrada nos Atos, manifesta a providência divina que protege os apóstolos em suas missões, mostrando que a força da Igreja não reside em poderes humanos, mas na intervenção celestial que sustenta os que pregam a verdade (Santo Ambrósio, Comentário sobre os Atos dos Apóstolos). A missão conjunta de Pedro e Paulo, celebrada neste dia, reflete a unidade da Igreja, onde Pedro, como fundamento visível, e Paulo, como mestre dos gentios, complementam-se na edificação do corpo místico de Cristo, unindo judeus e gentios sob uma só fé (Santo Gregório Magno, Homilia 32).
Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de Mateus (16,13-19) destaca a confissão de Pedro e a entrega das chaves, aspectos únicos em relação aos outros Evangelhos. Em Marcos (8,27-30), a confissão de Pedro ocorre, mas não há menção às chaves ou à autoridade de ligar e desligar, enfatizando apenas o reconhecimento de Jesus como Messias. Lucas (9,18-21) também relata a confissão, mas omite a fundação da Igreja sobre Pedro, focando na ordem de Jesus para não divulgar sua identidade messiânica. João (6,66-71) apresenta uma confissão semelhante de Pedro, mas centrada na fidelidade dos discípulos após a deserção de muitos, sem referência à primazia ou à estrutura eclesial. João (21,15-19) complementa Mateus ao mostrar a reintegração de Pedro após sua negação, com Jesus confiando-lhe o pastoreio das ovelhas, reforçando sua liderança, mas sem mencionar as chaves ou o poder de ligar e desligar.
Comparação com Textos de São Paulo
Os textos litúrgicos de Atos (12,1-11) e Mateus (16,13-19) destacam a liderança de Pedro e sua proteção divina, enquanto os escritos de Paulo oferecem uma perspectiva complementar. Em Gálatas (2,7-9), Paulo reconhece a missão de Pedro como apóstolo dos circuncisos, distinta de sua própria missão aos gentios, sublinhando a harmonia entre suas vocações sem referência à autoridade das chaves. Em 1 Coríntios (3,10-11), Paulo descreve-se como o fundamento da Igreja em Corinto, mas enfatiza que o único fundamento verdadeiro é Cristo, diferentemente da ênfase de Mateus na rocha de Pedro como fundamento eclesial. Em Romanos (1,16-17), Paulo exalta a salvação universal pela fé, complementando a narrativa de Atos sobre a libertação de Pedro, que ilustra a providência divina, mas sem abordar diretamente a autoridade petrina. Em Efésios (2,19-22), Paulo descreve a Igreja como edificada sobre os apóstolos, com Cristo como pedra angular, ampliando a visão de Mateus ao incluir todos os apóstolos no fundamento, sem destacar Pedro exclusivamente.
Comparação com Documentos da Igreja
O Concílio de Calcedônia (451), em seu Cânon 28, reconhece a primazia de honra de Roma por sua fundação por Pedro e Paulo, mas subordina essa autoridade à unidade conciliar, um aspecto não explicitado em Mateus, que foca na autoridade singular de Pedro. A carta Cum Sicut de Leão I (447) reforça a libertação de Pedro em Atos como sinal da proteção divina à Igreja, mas amplia a ideia ao afirmar que a sé de Pedro em Roma perpetua sua missão de confirmar os irmãos, um tema apenas implícito no Evangelho. O Decreto de Gelásio (494) distingue os poderes espiritual e temporal, complementando Mateus ao esclarecer que as chaves de Pedro referem-se à autoridade espiritual, não política. Esses documentos enfatizam a continuidade da missão petrina e a proteção divina, enriquecendo os textos litúrgicos com uma visão eclesiológica mais ampla.