A Liturgia da Desordem: Os Frutos Lógicos da Missa Nova


Um recente artigo de Chris Jackson, intitulado "Loreto Hosts a Protestant Priestess", documenta uma série de eventos contemporâneos — uma clériga protestante participando ativamente de uma missa católica na Santa Casa de Loreto, uma hagiografia de Paulo VI no National Catholic Reporter, propostas ecumênicas do Cardeal Koch e homilias de um "Papa Leão XIV" fictício — concluindo que tais episódios não são anomalias, mas sim "o fruto da mesma árvore envenenada... a lógica do Vaticano II, plenamente desenvolvida" (Jackson, 2025). A análise de Jackson, embora perspicaz, aponta para os sintomas. Uma crítica teológica mais profunda, no entanto, revela que a causa-raiz não é apenas uma "lógica" abstrata do Concílio, mas os princípios concretos e revolucionários embutidos na própria estrutura da Missa de Paulo VI.

🤝 A Teologia da Assembleia em Ação

O incidente em Loreto, onde uma "pastora" protestante estende a mão durante a consagração, imitando um ato de concelebração, é frequentemente descartado por conservadores como um "abuso" litúrgico. Contudo, tal evento é a manifestação visível da teologia fundamental que anima a Missa Nova. A Instrução Geral que acompanha o novo rito define a Missa não como o sacrifício incruento do Calvário, mas como "a assembleia sagrada [synaxis] ou congregação do povo de Deus reunido, que um sacerdote preside, a fim de celebrar o memorial do Senhor" (Cekada, 2010, p. 143).

Quando a essência da Missa é deslocada do sacrifício para a assembleia, o papel do sacerdote se transforma de oferente para presidente, e a ação central se torna o ato de reunir-se. Nesse contexto, a participação de um ministro não católico, embora canonicamente ilícita, torna-se teologicamente coerente com o objetivo ecumênico do rito. A própria estrutura da Missa Nova foi projetada para remover barreiras doutrinárias, eliminando gestos e orações que enfatizavam o sacrifício propiciatório, a Presença Real e o sacerdócio católico como realidades exclusivas (Cekada, 2010, p. 478-482). O gesto compartilhado na consagração é o corolário natural de uma liturgia que sistematicamente desmantelou a distinção entre o sacerdócio ministerial e o "sacerdócio comum" dos fiéis.

📜 O Arquiteto e a Amnésia Institucional

A comemoração de Paulo VI pelo National Catholic Reporter como "o grande papa do século XX", ignorando sua reforma litúrgica, é um exercício de amnésia deliberada. A Missa Nova não foi um acidente histórico, mas o resultado de um longo processo impulsionado por uma agenda teológica específica, da qual o então Arcebispo Montini era um fervoroso adepto. Muito antes de sua eleição, ele já promovia as ideias do Movimento Litúrgico modernista, incluindo a "teologia da assembleia" de Louis Bouyer e a "teoria da corrupção" de Josef Jungmann, que via a tradição litúrgica como uma decadência do ideal primitivo (Cekada, 2010, p. 66-68).

A reforma não foi uma tentativa de "domar" forças centrífugas, como sugere o artigo, mas de institucionalizar essas forças. A destruição do Ofertório católico e sua substituição por uma oração judaica de ação de graças; a introdução de múltiplas Orações Eucarísticas repletas de ambiguidades; e a remoção sistemática de referências à ira de Deus, ao juízo, ao inferno e ao pecado foram atos deliberados para criar um rito aceitável aos protestantes e alinhado com a teologia modernista (Cekada, 2010, p. 345, 481). Elogiar Paulo VI por "diálogo" enquanto se omite a demolição do Rito Romano é como elogiar um arquiteto pela sua simpatia enquanto se ignora que o edifício que ele projetou desabou.

🎲 O Falso Dilema: Submissão Litúrgica ou Pureza Doutrinal

As declarações do Cardeal Koch, oferecendo uma possível tolerância à Missa Tradicional enquanto avança com uma agenda de convergência ecumênica, ilustram a estratégia pós-conciliar de tratar a fé como uma mercadoria negociável. A proposta de coexistência de dois ritos — a "Forma Ordinária" e a "Extraordinária" — ignora o princípio fundamental de lex orandi, lex credendi (a lei da oração é a lei da fé).

É teologicamente impossível que dois ritos, um que expressa a fé católica sobre o sacrifício e o sacerdócio e outro que a destrói sistematicamente, possam ser manifestações legítimas da mesma fé (Cekada, 2010, p. 490). A sugestão de que a Missa Tridentina pode ser "permitida" em troca de silêncio sobre questões doutrinárias é uma armadilha que exige o reconhecimento implícito da ortodoxia e legitimidade da Missa Nova. O ecumenismo de Koch, que questiona a própria realidade do cisma de 1054, revela o objetivo final: a unidade não pela conversão à verdade católica, mas pela dissolução da própria verdade em um consenso humanista.

Os eventos descritos por Jackson não são, portanto, desvios ou excessos. São a expressão coerente da teologia que fundamenta a Missa de Paulo VI: uma teologia da assembleia, do ecumenismo e do modernismo, que por sua natureza produz frutos de irreverência, confusão doutrinária e, finalmente, a destruição da fé.

📚 Referências

Cekada, Anthony. Obra de Mãos Humanas: uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. Tradução de Pedro Vivas. West Chester: Philothea Press, 2010.
Jackson, Chris. Loreto hosts a protestant priestess. But don’t worry, Koch might let you have the latin mass. The Remnant. Acesso em: 8 ago. 2025.