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sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Joaquimismo e o Universalismo - Base do Vaticano II

Joaquimismo

O Joaquimismo é originado a partir do pensamento de Joaquim de Fiore. Foi um abade cisterciense e filósofo místico nascido por volta de 1135 na Calábria, Itália. Ele é uma figura significativa na história do pensamento religioso cristão, especialmente por suas contribuições teológicas.
O Joaquimismo é um sistema teológico e filosófico que propõe uma interpretação da história da humanidade em três idades, cada uma correspondente a uma das Pessoas da Santíssima Trindade. A Primeira Idade é associada a Deus Pai e ao Antigo Testamento; a Segunda Idade corresponde a Deus Filho e ao Novo Testamento; e a Terceira Idade, que ainda está por vir, será dominada pelo Espírito Santo. Esta última fase é vista como um tempo de amor universal, igualdade e compreensão espiritual plena.

Universalismo

O movimento do Universalismo tem suas raízes na história do Cristianismo. A primeira manifestação documentada e incontestável dessa crença ocorreu no século XVII, na Inglaterra, e no século XVIII, na Europa e na América colonial. Durante esse período, figuras como Gerrard Winstanley (Inglaterra, 1648), Richard Coppin (Inglaterra, 1652), Jane Leade (Inglaterra, 1697) e George de Benneville (França e América, século XVIII) ensinaram que Deus concede a todos os seres humanos a salvação.

O Universalismo, por sua vez, é uma doutrina que defende a ideia de que todos os seres humanos são dignos de salvação e que as verdades espirituais são acessíveis a todos, independentemente de suas crenças ou práticas religiosas. No contexto do Joaquimismo, o Universalismo se manifesta na visão de Joaquim de Fiore sobre o advento do Império do Divino Espírito Santo. Este império é caracterizado pela ausência de hierarquias religiosas tradicionais e pela promoção da igualdade entre todos os membros da comunidade cristã.

Intersecções

Igualdade Espiritual: O pensamento joaquimita antecipa um futuro onde não haverá necessidade de instituições disciplinares para regular a fé, pois todos terão acesso direto à inspiração divina. Essa ideia ressoa com o princípio universalista de que todas as pessoas têm igual valor espiritual.

Unidade Cristã: Joaquim acreditava que o advento da Terceira Idade traria uma unidade entre as diversas tradições cristãs (ocidentais e orientais), refletindo assim um ideal universalista onde as divisões sectárias seriam superadas em favor de uma compreensão comum.

Acesso à Revelação: O conceito joaquimita da Eterna Revelação sugere que novas verdades espirituais serão reveladas à humanidade em um futuro próximo. Isso se alinha com o Universalismo na medida em que implica que essas revelações não são exclusivas para um grupo particular, mas estão disponíveis para toda a humanidade.

Ética do Amor Universal: A visão joaquimita do Império do Divino Espírito Santo enfatiza o amor universal como base para as relações humanas. Essa ética se conecta diretamente aos princípios universalistas que promovem a aceitação mútua e o respeito entre diferentes culturas e religiões.

Rejeição das Hierarquias Religiosas: Tanto o Joaquimismo quanto o Universalismo criticam as estruturas hierárquicas tradicionais das instituições religiosas. Joaquim propôs uma nova ordem monástica baseada na contemplação e na igualdade espiritual, enquanto o Universalismo busca desmantelar barreiras criadas por dogmas rígidos.

Vaticano II

O Concílio Vaticano II promoveu uma série de reformas significativas que buscavam atualizar a Igreja em relação ao mundo moderno. O concílio abordou questões de ecumenismo, liberdade religiosa, e a relação da Igreja com outras tradições religiosas. A abertura da Igreja para o diálogo inter-religioso e a promoção de uma compreensão mais inclusiva da fé refletem algumas das ideias presentes no Joaquimismo e no Universalismo.

Ecumenismo e Unidade Cristã:
O Vaticano II enfatizou a importância do ecumenismo, ou seja, o esforço para promover a unidade entre as diversas denominações cristãs. Essa ideia ressoa com o pensamento de Joaquim de Fiore, que previa uma era futura onde as divisões sectárias seriam superadas em favor de uma compreensão comum entre os cristãos. O documento “Unitatis Redintegratio”, que trata da promoção da unidade dos cristãos, ecoa essa visão joaquimita.

Liberdade Religiosa:
Um dos documentos mais significativos do Vaticano II é “Dignitatis Humanae”, que afirma o direito à liberdade religiosa como um princípio fundamental. Essa abordagem se alinha com os ideais universalistas que defendem que todas as pessoas têm direito à busca espiritual e à salvação independentemente de suas crenças específicas. O Joaquimismo também sugere um acesso direto à revelação divina para todos, sem intermediários.

Diálogo Inter-religioso:
O Vaticano II promoveu ativamente o diálogo com outras religiões, reconhecendo a validade das experiências espirituais fora do cristianismo. Essa abertura reflete a ética do amor universal presente tanto no Joaquimismo quanto no Universalismo. A ideia de que todos são dignos de salvação e têm valor espiritual é central para ambas as correntes de pensamento.

Rejeição das Hierarquias Religiosas:
Tanto o Joaquimismo quanto o Vaticano II criticam as estruturas hierárquicas tradicionais dentro da Igreja. Joaquim propôs uma nova ordem baseada na igualdade espiritual e na contemplação, enquanto o Vaticano II buscou reformar práticas que poderiam alienar os fiéis ou criar barreiras desnecessárias entre eles.

Ética do Amor Universal:
A mensagem central do amor universal presente nas obras de Joaquim se reflete nos ensinamentos do Vaticano II sobre a dignidade humana e a necessidade de construir comunidades baseadas no respeito mútuo e na solidariedade. Os princípios universalistas promovidos pelo concílio incentivam uma visão inclusiva da humanidade.