👑Filha do rei da Hungria e esposa de Luís, landgrave da Turíngia, Santa Isabel é um dos exemplos mais luminosos de caridade e desapego na história da cristandade, falecida em 1231. Ainda jovem e no auge de sua posição social, dedicava-se a obras de misericórdia, socorrendo os pobres e doentes com as próprias mãos, o que culminou no célebre milagre das rosas, onde pães escondidos em seu manto se transformaram em flores diante da desconfiança alheia. Após a morte prematura do esposo na cruzada, enfrentou a crueldade dos cunhados, sendo expulsa do castelo e privada de seus bens, situação que abraçou com espírito franciscano, tornando-se terciária da ordem do Poverello de Assis. Construiu um hospital em Marburg, onde serviu os mais miseráveis até o fim de seus dias, morrendo aos 24 anos, consumida pelo amor a Deus e ao próximo, sendo canonizada apenas quatro anos depois por Gregório IX.
✉️Epístola (I Tim 5, 3-10)
Caríssimo: Honra as viúvas que são verdadeiramente viúvas. E se alguma viúva tem filhos ou netos, saiba antes de tudo governar a sua casa e retribuir a seus pais os cuidados recebidos; porque isto é agradável a Deus. Aquela que é verdadeiramente viúva, mas desamparada, espere em Deus e persevere noite e dia em súplicas e orações. Aquela, porém, que se entrega ao prazer, vivendo embora, morta está. Cientifica-as disto, para que sejam irrepreensíveis. Quem não cuida dos seus e máxime dos de sua casa, negou a fé e é pior que um infiel. A viúva admitida para o serviço da Igreja conte não menos de sessenta anos; tendo sido esposa de um só marido, tenha reputação de boas obras: se educou os filhos, se exerceu a hospitalidade, se lavou os pés dos santos, se acudiu aos atribulados, se praticou toda a sorte de boas obras.
📖Evangelho (Mt 13, 44-52)
Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos esta parábola: O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, esconde-o novamente e, cheio de alegria por causa disso, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo. O Reino dos Céus é também semelhante a um negociante que busca pérolas preciosas. Ao encontrar uma pérola de grande valor, ele vai, vende tudo o que tem e a compra. O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que recolhe peixes de toda espécie. Quando está cheia, os pescadores a puxam para a praia, sentam-se e separam os bons em cestos, mas jogam fora os maus. Assim será na consumação do século: os anjos virão e separarão os maus do meio dos justos e os lançarão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes. Compreendestes tudo isso? Eles responderam: Sim. Então, Jesus disse-lhes: Por isso, todo escriba instruído no Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.
🕯️Reflexões
💎A liturgia de hoje nos apresenta, através das parábolas do tesouro escondido e da pérola preciosa, a radicalidade exigida para a conquista do Reino dos Céus, que encontra eco perfeito na vida de Santa Isabel. O negociante do Evangelho, ao encontrar a pérola de grande valor, não hesita em vender tudo o que possui; da mesma forma, Isabel, nascida em berço real, compreendeu que as riquezas da corte da Turíngia eram nada comparadas ao amor de Cristo. Santo Agostinho, em seus sermões sobre estas parábolas, ensina que este "preço" a pagar não é meramente monetário, mas a entrega do próprio "eu": "O Reino de Deus vale tanto quanto tu és. Entrega-te a ti mesmo e terás o Reino" (Sermão 105). A santa de hoje personifica esta exegese, pois, ao ser expulsa de seu castelo, não apenas aceitou a pobreza material, mas despojou-se de seu orgulho e posição, "comprando o campo" onde o tesouro da graça divina estava escondido, tornando-se rica na pobreza franciscana.
⚓A Epístola de São Paulo a Timóteo traça o perfil da "verdadeira viúva", descrevendo virtudes que parecem uma biografia antecipada de Santa Isabel: "se lavou os pés dos santos, se acudiu aos atribulados". A Igreja, em sua sabedoria, seleciona este texto para mostrar que a santidade não reside no isolamento estéril, mas na caridade ativa que brota da oração constante. São Tomás de Aquino nos lembra que a vida ativa, quando ordenada pela caridade, não é obstáculo, mas meio de santificação, pois "o amor de Deus e do próximo não são dois amores, mas um só ato de caridade" (Suma Teológica, II-II, q. 25). Isabel não se contentou em dar ordens para que servissem os pobres; ela mesma lavava os pés dos lepers e alimentava os famintos, cumprindo a exigência paulina de praticar "toda a sorte de boas obras". Ela nos ensina que a viuvez e o sofrimento não são um fim, mas um novo estado de consagração onde a alma, desamparada de consolos humanos, deve "esperar em Deus e perseverar noite e dia em orações".
🔥Por fim, a parábola da rede lançada ao mar nos recorda o juízo final e a necessária separação entre os maus e os justos, uma realidade escatológica que deve pautar nossa conduta moral. O "fogo" e o "ranger de dentes" mencionados por Cristo não são ameaças vazias, mas a consequência trágica de uma vida apegada aos "peixes ruins", ou seja, aos vícios e prazeres mundanos condenados também por São Paulo ("aquela que se entrega ao prazer, morta está"). O Catecismo da Igreja Católica reforça que é pelas nossas obras e pela nossa resposta à graça que seremos julgados. Santa Isabel, como "escriba instruída no Reino dos Céus", soube tirar de seu tesouro "coisas novas e velhas": manteve a dignidade de sua estirpe (coisas velhas) transformando-a em serviço humilde (coisas novas), garantindo seu lugar entre os "bons" que os anjos recolherão nos cestos da eternidade. Sua vida nos convida a examinar o que nossa "rede" tem pescado diariamente: se obras de vaidade que serão descartadas, ou pérolas de caridade que resistirão ao fogo do julgamento.