O título do livro já indica uma metáfora central: assim como “quando o mar se retira” sugere um recuo ou uma retirada, o autor estabelece um paralelo com o declínio da Igreja no contexto contemporâneo. A ideia de uma “dupla queda” ou “colapso duplo” abrange tanto a esfera espiritual quanto a cultural/societal. Essa abordagem sugere que a Igreja enfrenta uma crise profunda de identidade e relevância na modernidade, ao mesmo tempo em que outros sistemas – simbolizados pelo “mar” – também se retraem ou se transformam.
Maugendre analisa a “tragédia” da Igreja hoje, refletindo sobre como as transformações sociais, culturais e possivelmente até ecológicas impactam a instituição. O autor questiona os modelos tradicionais e aponta para a dificuldade da Igreja de se adaptar a um mundo em constante mudança, marcado pela secularização e pelo questionamento das estruturas de poder e autoridade.
Embora o foco principal seja a situação da Igreja, o livro parece dialogar com questões contemporâneas mais amplas, como a crise ecológica. O recuo do mar, na metáfora, pode remeter tanto à perda de uma presença vital e ancestral quanto à percepção de que forças naturais e sociais estão se reconfigurando, exigindo novas respostas e formas de engajamento.
Maugendre não se limita a uma análise meramente descritiva da situação atual. Ele propõe uma reflexão crítica sobre a identidade da Igreja e seu papel num cenário marcado por mudanças radicais. Essa “tragédia” se manifesta na incapacidade de responder às demandas de um mundo que parece, simultaneamente, abandonar modelos antigos e requerer novas formas de espiritualidade e engajamento social.
Sobre o autor
Jean‐Pierre Maugendre é uma figura bastante conhecida no meio do tradicionalismo católico francês. Nascido em 1956 em Brest, na França, Maugendre é engenheiro por formação e estudou na prestigiosa École Navale. Essa base técnica contrasta com sua intensa atuação no campo da fé e da tradição católica. Ele foi presidente do Mouvement de la Jeunesse Catholique de France (MJCF) até meados da década de 1980 e, posteriormente, assumiu a presidência da Renaissance Catholique, movimento que defende os valores e a tradição da Igreja. Sua atuação nesse sentido o posicionou como um crítico das reformas pós-Vaticano II, defendendo a liturgia tradicional e os ensinamentos clássicos da fé. Além de sua atividade no âmbito religioso, Maugendre também teve passagem pela política. Segundo informações disponíveis, ele foi candidato do Front National (atualmente conhecido como National Rally) nas eleições regionais de 1998 no Pas-de-Calais, demonstrando assim sua disposição para defender suas ideias tanto na esfera eclesiástica quanto na política.