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domingo, 20 de outubro de 2024

Teologia da arte de beijar - Cardeal Víctor Manuel Fernández (Tucho)

Dom Víctor Manuel Fernández foi nomeado em 1º de julho de 2023 como Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF) pelo Papa Francisco, sucedendo o cardeal Luis Francisco Ladaria Ferrer. Dom Fernández, também conhecido como "Tucho", é um teólogo argentino próximo ao Papa e anteriormente ocupou os cargos de reitor da Pontifícia Universidade Católica da Argentina e arcebispo de La Plata
A nomeação de Dom Fernández suscitou diversas reações, especialmente devido à sua visão teológica, à proximidade com o Papa Francisco e ao próprio papel do DDF na preservação da doutrina. Aqui estão os principais pontos de controvérsia:

Teologia de Fernández

Fernández é conhecido por suas abordagens teológicas mais progressistas e por suas obras que, segundo alguns críticos, não seguem estritamente a doutrina tradicional da Igreja. Seu livro mais controverso, "Sana-me com a Tua Boca: A Arte de Beijar", escrito em um estilo poético e informal, foi fortemente criticado por setores conservadores da Igreja, que consideram seus escritos inadequados para alguém em uma posição tão influente. Embora o livro tenha sido defendido como um experimento literário e não teológico, é frequentemente mencionado como uma fonte de desconfiança em relação à sua seriedade acadêmica.

Proximidade com o Papa Francisco

Víctor Manuel Fernández é muito próximo de Jorge Bergoglio (Papa Francisco), sendo frequentemente visto como uma das mentes por trás de importantes documentos eclesiásticos, como a exortação apostólica "Amoris Laetitia". Essa proximidade é vista por críticos como um sinal de nepotismo ou favoritismo. A nomeação foi interpretada por alguns como uma forma do Papa reforçar sua linha de pensamento teológico no Vaticano, afastando o DDF de sua tradicional função conservadora de salvaguardar a ortodoxia e a pureza doutrinal da Igreja.

Reforma do DDF

Sob o Papa Francisco, o DDF (anteriormente a Congregação para a Doutrina da Fé) passou por mudanças significativas, que incluem uma mudança de enfoque. Historicamente, o órgão era responsável por proteger a Igreja de heresias e preservar a ortodoxia doutrinal. Com a nomeação de Fernández, há uma preocupação entre os setores mais conservadores da Igreja de que o DDF possa se desviar ainda mais de sua função tradicional de guardião da doutrina, em direção a uma abordagem mais pastoral e menos dogmática. Isso gerou tensões sobre o futuro do DDF.

Interpretações sobre a Moral Sexual

Fernández é associado à abordagem mais aberta e menos rigorosa de Francisco em relação a questões como o casamento, o divórcio e as uniões civis. "Amoris Laetitia", que sugere uma maior inclusão pastoral de pessoas em situações de "pecado", como divorciados que se casam novamente, causou muita controvérsia. Isso criou divisões entre aqueles que defendem a posição tradicional da Igreja de que essas uniões são inadmissíveis e aqueles que veem a necessidade de maior misericórdia e compreensão pastoral.

Críticas dos Setores Conservadores

Cardeais e bispos conservadores, como o cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito do DDF, criticaram abertamente a nomeação de Fernández. Para eles, o teólogo argentino não tem a formação ou o histórico necessários para liderar um órgão de tamanha importância doutrinal, temendo que sua teologia possa diluir a clareza dos ensinamentos da Igreja.
Resistência dentro do Vaticano

A nomeação de Fernández também gerou resistência entre altos clérigos e intelectuais dentro do Vaticano. Eles apontam para uma mudança no papel do DDF, que tradicionalmente tinha como foco a vigilância doutrinária e agora parece estar se tornando uma ferramenta mais alinhada com a agenda pastoral de Francisco. Isso preocupa aqueles que acreditam que a clareza doutrinal não pode ser sacrificada por uma abordagem pastoral que pode ser vista como permissiva.

Criado cardeal

Víctor Manuel Fernández foi criado cardeal pelo Papa Francisco no consistório realizado em 30 de setembro de 2023. Essa nomeação ocorreu após ele ter sido nomeado Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, consolidando sua posição de destaque na hierarquia da Igreja Católica.

Sua elevação ao cardinalato reforça ainda mais a influência de Fernández dentro da Cúria Romana e no pontificado de Francisco, já que ele é visto como um dos teólogos mais próximos ao Papa. Como cardeal, ele também terá o direito de participar de um eventual conclave para a escolha de um futuro papa.

Breve História do Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF)

1542: Fundada como a Congregação da Sagrada Inquisição Romana e Universal, mais comumente conhecida como a Inquisição Romana. Esse órgão foi criado durante o período da Reforma Protestante, quando a Igreja Católica enfrentava desafios doutrinais e ameaças de heresia. Seu papel principal era investigar e julgar casos de heresia, com foco em manter a unidade doutrinal da Igreja.

1908: Durante o pontificado do Papa Pio X, o nome foi alterado para Sagrada Congregação do Santo Ofício, refletindo uma mudança em suas funções, com menos ênfase na perseguição e mais na vigilância da doutrina.

1965: O Papa Paulo VI, após o Concílio Vaticano II, reformou a Congregação e alterou seu nome para Congregação para a Doutrina da Fé. Essa mudança marcou um afastamento do antigo caráter da Inquisição e direcionou a congregação para o estudo e a promoção da doutrina da Igreja.

2022: O Papa Francisco reestruturou a Cúria Romana e mudou o nome da congregação para Dicastério para a Doutrina da Fé, como parte de uma série de reformas administrativas. O termo "dicastério" reflete uma organização mais pastoral e moderna dentro do governo da Igreja.