14 set
Exaltação da Santa Cruz


✝️A festa da Exaltação da Santa Cruz comemora o evento de 628, quando o Imperador Heráclio recuperou a relíquia da Verdadeira Cruz dos persas e a reintegrou triunfalmente em Jerusalém. Este dia é uma adoração ao madeiro sagrado, não como símbolo de tortura, mas como trono da glória de Cristo e instrumento da nossa salvação. É o paradoxo do servo sofredor que se torna Rei vitorioso. Ajoelhados diante do Crucifixo, especialmente na hora da Consagração, a alma pode unir-se a este mistério com a oração de São Nicolau de Flüe, suplicando: "Meu Senhor e meu Deus, tirai de mim tudo o que me afasta de Vós. Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo o que me aproxima de Vós. Meu Senhor e meu Deus, tirai-me de mim mesmo para doar-me por inteiro a Vós."

🙏 Introito (Gal 6, 14 | Sl 66, 2)
Nos autem gloriári opórtet in Cruce Dómini nostri Iesu Christi... Quanto a nós, devemos gloriar-nos na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo; n’Ele está a nossa salvação, vida e ressurreição. Por Ele fomos salvos e livres. Sl. Deus tenha piedade de nós e nos abençoe; faça resplandecer sobre nós a sua Face e se compadeça de nós. ℣. Glória ao Pai…

📖 Epístola (Filip 2, 5-11)
Irmãos: Tende em vós os mesmos sentimentos que teve Jesus Cristo, que, sendo Deus por natureza, não reputou usurpação ser igual a Deus. E aniquilou-se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens e sendo reconhecido como homem pela aparência. Humilhou-se a Si mesmo, feito obediente até a morte, e morte de Cruz. Por isso também Deus O exaltou e Lhe deu um Nome [novo] que está acima de todo nome (aqui todos se ajoelham), a fim de que ao Nome de Jesus se dobrem os joelhos de todos aqueles que estão nos céus, na terra e nos infernos, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor na glória de Deus Pai.

🕯️ Evangelho (Jo 12, 31-36)
Naquele tempo, disse Jesus às turbas dos judeus: Agora é o julgamento do mundo. Agora é que o príncipe deste mundo vai ser lançado fora dele. E eu, quando for elevado da terra, tudo atrairei a mim. (Isto Ele dizia para indicar de que morte devia morrer). Respondeu-Lhe a turba: Nós sabemos pela lei que o Cristo permanecerá eternamente. Como então dizeis: É preciso que o Filho do homem seja elevado? Quem é esse Filho do homem? Disse-lhes Jesus: Ainda por um pouco de tempo estará a Luz [Cristo] entre vós. Caminhai, enquanto tendes luz, para que as trevas não vos surpreendam; quem anda em trevas, não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, a fim de que sejais filhos da luz.

🤔 Reflexões

📜A Epístola revela o movimento descendente da humilhação de Cristo, que se esvazia de Sua glória divina para assumir nossa humanidade, culminando na obediência até a morte de Cruz. O Evangelho, por sua vez, mostra o movimento ascendente: é precisamente por ser "elevado" nesta Cruz que Ele é exaltado e atrai todas as coisas para si. Cristo foi exaltado por Deus porque se humilhou; e atraiu tudo a si porque foi elevado. Assim, o madeiro da Cruz é o ponto onde a mais profunda humilhação encontra a mais sublime exaltação. (Santo Agostinho, Tratado 52 sobre o Evangelho de João). A Cruz não foi um fim acidental, mas o cume da obediência, através da qual o Nome de Jesus foi colocado acima de todo nome; esta obediência desfez a desobediência de Adão, e o madeiro da Cruz reparou o dano causado pelo madeiro da árvore no Éden. (Santo Irineu, Contra as Heresias, Livro V).

🗺️O Evangelho de São João apresenta a elevação na Cruz com uma conotação de glória e vitória ("quando for elevado... tudo atrairei a mim"), focando no significado teológico do ato. Os Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), ao narrarem as predições da Paixão, enfatizam mais os detalhes do sofrimento, da rejeição e da traição (Mt 16, 21), descrevendo que o Filho do Homem "deve sofrer muito". São Lucas, na Transfiguração, acrescenta uma perspectiva única, afirmando que Moisés e Elias falavam do "êxodo" que Jesus realizaria em Jerusalém (Lc 9, 31), enquadrando Sua morte como um evento libertador e pascal, não apenas como um sacrifício.

✉️Além da profunda teologia da kenosis (esvaziamento) na Epístola aos Filipenses, São Paulo desenvolve outros aspectos cruciais da Cruz. Em 1 Coríntios 1, 18, ele a chama de "escândalo para os judeus e loucura para os gentios", mas "poder de Deus para os que são salvos", contrastando a sabedoria divina com a lógica do mundo. Em Colossenses 1, 20, a Cruz é o instrumento de reconciliação cósmica, através do qual Deus pacificou "tudo o que existe, na terra e nos céus". Em Gálatas 6, 14, ecoando o Introito, São Paulo declara que seu único motivo de glória é a Cruz, pela qual "o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo", indicando uma morte mística para o pecado e uma nova vida em Cristo.

🏛️Os documentos oficiais da Igreja aprofundam o mistério da Cruz, estabelecendo-a como o centro da doutrina. O Concílio de Trento define que o Sacrifício da Missa é a representação incruenta e a aplicação dos frutos do único sacrifício cruento do Calvário (Sessão 22). Na encíclica Miserentissimus Redemptor, o Papa Pio XI ensina que a reparação pelas ofensas cometidas contra Deus é uma exigência de justiça e amor, que encontra seu modelo perfeito no sacrifício de Cristo na Cruz. A encíclica Mystici Corporis Christi do Papa Pio XII explica que foi na Cruz que Cristo adquiriu a Sua Igreja e que a fonte de toda a graça sacramental, que vivifica o Corpo Místico, jorra do Seu lado aberto no madeiro.