As palavras de Nosso Senhor, registradas nas Sagradas Escrituras (Mt 26, 28; Mc 14, 24) e consagradas pelo uso imemorial no Missal Romano, são de uma clareza cristalina: pro multis. O Catecismo do Concílio de Trento explica dogmaticamente por que a Igreja sempre usou esta fórmula: o Sacrifício de Cristo, embora suficiente para salvar todos os homens (valor), só é eficaz (fruto) para a salvação de muitos — ou seja, os eleitos, aqueles que cooperam com a graça de Deus.
A substituição por "por todos" (pro omnibus), perpetrada pelos arquitetos da demolição litúrgica, não foi um mero deslize de tradução. Foi uma bomba-relógio teológica, projetada para implantar a heresia do universalismo — a noção condenada de que todos os homens são salvos, independentemente de sua fé ou estado de alma. Como o Padre Cekada demonstrou em sua obra seminal Work of Human Hands, alterar a forma de um sacramento para lhe conferir um significado que contradiz a fé católica não é uma questão de disciplina, mas uma questão de validade. Ao mudar as palavras, muda-se a intenção objetiva do rito, arriscando invalidar o próprio sacramento.
Durante duas missas em maio de 2025, Leão XIV empregou a fórmula "por vós e por todos". Esta escolha não pode ser vista como uma inocente adesão a uma prática estabelecida. É um ato de desprezo ostensivo pela verdade teológica e até mesmo pela tímida e insuficiente tentativa de correção feita por seu predecessor, Bento XVI. Em 2012, Bento XVI, reconhecendo o erro monumental, instruiu os bispos alemães a reverterem a tradução para o literal "por muitos".
A recusa de Leão XIV em seguir sequer essa meia-medida representa mais do que uma contradição. É a canonização de um erro. É a reafirmação de que a "igreja conciliar" prefere a ambiguidade modernista à clareza dogmática da Roma Eterna. Ao proferir "por todos", Leão XIV não está meramente perpetuando um erro; ele está ativamente ensinando, pelo supremo ato litúrgico, uma doutrina venenosa.
As implicações desta falsificação são devastadoras, como o Padre Cekada insistia:
Corrupção da Forma Sacramental: O ponto central. As palavras da consagração são a forma do sacramento. A teologia católica ensina que uma alteração substancial da forma sacramental invalida o sacramento. A substituição de "muitos" por "todos" não é acidental; é uma mudança substancial de significado, que introduz uma intenção objetiva diferente da de Cristo e da Igreja. Na melhor das hipóteses, torna a consagração dúbia e, portanto, gravemente ilícita.
Promoção da Heresia Universalista: A fórmula "por todos" é o veículo perfeito para a doutrina modernista da salvação universal. Ela destrói a urgência da conversão, a necessidade do Batismo e dos sacramentos, e reduz a Paixão de Cristo a um evento de eficácia automática, transformando a fé em algo supérfluo.
Falsificação da Intenção de Cristo: Ao impor a ideia de que o sangue de Cristo foi eficazmente derramado por todos, o rito mente sobre a intenção do próprio Salvador. Cristo sabia que nem todos aceitariam Seu sacrifício. A fórmula pro multis reflete essa verdade solene e terrível.
Envenenamento da Fé dos Fiéis (Lex Orandi, Lex Credendi): Os revolucionários sabiam que, para mudar a crença (lex credendi), era preciso primeiro mudar a oração (lex orandi). Ao forçar os fiéis a ouvir e a internalizar a mentira do "por todos" missa após missa, eles moldam uma mentalidade indiferentista e destroem a compreensão católica da Redenção.
Como suposto Vigário de Cristo, Leão XIV teria o dever sagrado de guardar o depósito da fé e a integridade dos sacramentos. Sua decisão de usar "por todos" não é um "passo em falso" ou uma "oportunidade perdida". É um ato positivo de infidelidade. Em um tempo em que ele mesmo lamenta o "ateísmo prático", sua ação litúrgica apenas aprofunda a crise, oferecendo um veneno teológico no lugar do antídoto da verdade. A liturgia não é um laboratório para experimentos pastorais; é o coração da fé. A recusa de Leão XIV em corrigir esta adulteração fundamental lança uma sombra não apenas sobre seu governo, mas sobre a própria legitimidade de uma autoridade que preside conscientemente a corrupção do mais sagrado dos ritos.
Referência
Padre Anthony Cekada. Work of Human Hands: A Theological Critique of the Mass of Paul VI. (2010).