O Assassinato de Charlie Kirk: Doença Mental ou Pecado Mortal?


A seguir, discute-se uma tese recentemente articulada pela publicação Harvard Salient, que, a partir do trágico assassinato do polemista conservador Charlie Kirk, procura diagnosticar a natureza do mal que aflige a sociedade contemporânea. O referido artigo postula que o "Esquerdismo" não é meramente um programa político alternativo, mas sim uma "doença mental" caracterizada pelo ódio sistemático às instituições, pelo gosto pela monstruosidade moral e por uma sede de sangue que santifica a obliteração. Argumenta-se que a moderação de Kirk, focada no debate e não na aniquilação, foi insuficiente para protegê-lo, provando que não há terreno neutro na guerra cultural. A tese conclui com um chamado aos conservadores para que abandonem a ilusão de uma vida privada e apolítica, convertendo o desespero em uma "diligência militante" para defender a civilização.

Esta análise, embora correta na identificação dos sintomas de ódio e destruição, falha de modo fundamental em seu diagnóstico. Ao classificar o mal como uma patologia psicológica ("doença mental"), a tese permanece na superfície do problema, oferecendo uma explicação naturalista para um fenômeno cuja raiz é eminentemente teológica e sobrenatural. O assassinato de Charlie Kirk não é o sintoma de uma enfermidade mental, mas a consequência lógica e inevitável de um pecado mortal contra a fé: o Liberalismo.

🤔Um Diagnóstico Equivocado: A Superficialidade da Análise Psicológica
Atribuir as ações de um revolucionário a uma "doença mental" é recorrer a uma categoria moderna e secular que obscurece a verdadeira natureza do mal, reduzindo um drama de ordem espiritual a um mero desarranjo mecânico do psiquismo. A desordem em questão não reside primariamente na psique, mas na alma. O ódio às instituições herdadas, a celebração da morte e a inversão da moral não são delírios de uma mente enferma, mas manifestações de uma vontade deliberadamente rebelada contra a ordem divina e empenhada na sua substituição por uma ordem imanente e humana — uma verdadeira inversão gnóstica que busca realizar o paraíso na Terra através da força (Carvalho, 1998). O mal não é uma condição a ser tratada clinicamente, mas um pecado a ser condenado teologicamente.

O Liberalismo, em sua essência, é a negação da soberania de Deus sobre o indivíduo e a sociedade. Ao emancipar a razão humana de toda autoridade sobrenatural, ele constitui a heresia universal e radical que abarca todas as outras. Portanto, seus frutos não são meros desvios de comportamento, mas atos que ofendem diretamente a Deus. O Liberalismo é pecado, e, por atacar o fundamento de toda a ordem sobrenatural — a fé —, é o maior dos pecados, mais grave que a blasfêmia, o roubo ou o homicídio, pois nele se contêm todos os pecados (Sardá y Salvany, 1884). Chamar de "doença" o que é uma ofensa mortal a Deus é capitular à linguagem do inimigo, substituindo o catecismo pela ciência profana e praticando, inadvertidamente, uma forma de "materialismo espiritual" que busca curar a alma com as ferramentas do mundo (Carvalho, 1998).

🌱A Raiz de Todo o Mal: O Liberalismo como Heresia Universal
A tese em análise comete um segundo erro crucial ao isolar o "Esquerdismo" como se fosse um fenômeno distinto e autônomo. Na verdade, o chamado "Esquerdismo" nada mais é que o Liberalismo levado às suas últimas e inevitáveis consequências. Entre o liberal moderado que defende a "liberdade de pensamento" e o revolucionário que assassina em nome do "progresso", não há uma diferença de natureza, mas apenas de grau e de autoconsciência da missão histórica.

O sistema liberal é uno e logicamente encadeado. Uma vez aceito o princípio fundamental da autonomia absoluta da razão individual e social, segue-se, por uma perfeita ilação de consequências, tudo o que proclama a demagogia mais avançada (Sardá y Salvany, 1884). O liberal que preza o "debate" já concedeu a premissa de que a verdade não é absoluta e divinamente revelada, mas algo a ser descoberto ou negociado pelo critério humano. O revolucionário que mata simplesmente aplica essa lógica com maior rigor: se a única lei é a vontade humana e se o objetivo é a substituição completa do mundo real por uma utopia projetada, então a eliminação física do adversário torna-se um ato perfeitamente legítimo e até mesmo necessário para impor essa vontade e realizar essa obra de engenharia anímica em escala universal (Carvalho, 1998).

O assassino de Charlie Kirk não é uma anomalia do sistema liberal; ele é seu filho mais obediente.

🐺A Falácia da Moderação: O Liberal Manso como o Inimigo Mais Perigoso
A tese lamenta a moderação de Kirk como uma virtude que, tragicamente, não foi suficiente para salvá-lo. Esta é a mais perigosa das ilusões. A moderação de Kirk, sua disposição para o "debate" e o "diálogo" com o erro, não era uma virtude, mas o próprio veneno que o matou. Ele encarnava a figura do liberal manso ou, pior ainda, do católico-liberal, que, sob o pretexto de conciliação e urbanidade, serve de ponte para a revolução.

Esses indivíduos, que tentam estabelecer uma aliança entre a luz e as trevas, são mais perigosos e funestos que os inimigos declarados. Encerrando-se dentro de certos limites e mostrando-se com aparências de probidade, eles iludem os imprudentes e seduzem as gentes honradas que teriam combatido o erro manifesto (Sardá y Salvany, 1884). A moderação liberal é a máscara que torna o erro palatável. O "debate" torna-se um cenário teatral onde um dos lados busca a persuasão racional, enquanto o outro apenas utiliza a oportunidade para corroer a imunidade simbólica do adversário, preparando o terreno para sua destruição física (Carvalho, 1998). O assassinato de Kirk não prova o fracasso da moderação, mas sim que a moderação é uma etapa necessária no processo de destruição. Foi o "diálogo" de ontem que armou a mão do assassino de hoje.

🛡️O Verdadeiro Combate: Da Diligência Militante à Intransigência Católica
O chamado final da tese por uma "diligência militante" aponta na direção correta, mas com um objetivo impreciso. A luta não é meramente pela sobrevivência de "instituições herdadas" ou de uma "sociedade livre e ordenada" em termos seculares. O combate é uma cruzada pela restauração da soberania social de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A verdadeira caridade não consiste em dialogar com o erro, mas em combatê-lo sem tréguas. A caridade obriga a gritar "Al Lobo!" quando este se mete no rebanho (Sardá y Salvany, 1884). A resposta ao assassinato de Kirk não pode ser uma militância política genérica, mas uma intransigência católica absoluta. Isso implica:

1. Rejeição Total: Repudiar o Liberalismo em todos os seus matizes, do mais radical ao mais conservador, reconhecendo-o como pecado mortal.

2. Separação: Evitar toda aliança ou convivência com liberais, tratando-os como se trata os portadores de uma peste espiritual.

3. Combate Aberto: Desmascarar publicamente o erro e seus defensores, usando a polêmica vigorosa e, se necessário, a desautorização pessoal, seguindo o exemplo dos Apóstolos e dos Santos Padres.

A ilusão de que é possível levar uma vida privada, alheia à guerra espiritual, está corretamente desfeita pela tese. Contudo, a alternativa não é apenas a militância cívica, mas a aceitação do nosso papel como soldados da Igreja Militante, cujo único objetivo é a glória de Deus e a salvação das almas através da submissão de toda a sociedade à Sua lei. Nesse sentido, a tese de que a vida privada se torna insustentável é a conclusão inevitável desse processo. O projeto de reconfigurar a "arquitetura moral da nação" é, em essência, o projeto de instauração de uma nova "religião civil", um poder totalizante que busca absorver todas as esferas da existência humana sob seu domínio. O Império moderno, ou Cæsar Redivivus, não tolera domínios autônomos. A família, a consciência individual, a moralidade herdada e a vida espiritual que não se submete ao poder temporal são vistas como ameaças diretas à sua soberania (Carvalho, 1998). O assassinato de Charlie Kirk deve endurecer-nos, não para a política, mas para a santidade e o combate pela fé contra a ascensão desta religião do Império.

📜Referências
Carvalho, O. O jardim das aflições: de Epicuro à ressurreição de César: ensaio sobre o materialismo e a religião civil. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
Sardá y Salvany, Félix. O liberalismo é pecado. Sabadell, 1884.