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31 AGO - XII DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES


⛑️A liturgia do Décimo Segundo Domingo depois de Pentecostes estabelece um profundo contraste entre a Antiga e a Nova Aliança. Cristo é apresentado como o novo Moisés e o verdadeiro Bom Samaritano, que não apenas aponta a Lei, mas a cumpre e cura as feridas da humanidade caída. Enquanto o sacerdócio antigo, representado pelo sacerdote e o levita, podia diagnosticar o pecado mas não oferecer a cura, Cristo derrama o óleo e o vinho dos sacramentos para restaurar a vida. Este domingo celebra a superioridade do ministério do Espírito, que vivifica, sobre o ministério da letra, que condenava, destacando a caridade como a plenitude da Lei.

🙏 Introito (Sl 69, 2-3 | ib., 4)
Deus, in adiutórium meum inténde... Ó Deus, vinde em meu auxílio. Senhor, apressai-Vos em me socorrer. Confundam-se e envergonhem-se os meus inimigos, que procuram tirar-me a vida. Ps. Voltem para trás e fiquem envergonhados os que me querem mal. ℣. Glória ao Pai…

📜 Epístola (II Cor 3, 4-9)
Irmãos: Temos pelo Cristo esta confiança em Deus: não que sejamos capazes de atribuir-nos alguma coisa como nossa, porém a nossa capacidade vem de Deus. Ele nos fez ministros idôneos do Novo Testamento; não segundo a letra, mas segundo o Espírito, porque a letra mata, enquanto o Espírito vivifica. Se o ministério da [lei que causou a] morte, gravado com letras em pedras, foi de tanta glória que os filhos de Israel não podiam fixar os olhos na face de Moisés, por causa do esplendor de seu semblante, que era passageiro, como não será de maior glória o ministério do Espírito? Porque, se o ministério da condenação já era tão glorioso, muito mais glorioso será o ministério da justificação.

📖 Evangelho (Lc 10, 23-37)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes! Porque vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram. E eis que um Doutor da lei se levantou para O tentar, e perguntou: Mestre, que hei de fazer para possuir a vida eterna? Jesus lhe disse: Que está escrito na lei? Como é que lês? Ele respondeu: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e a teu próximo como a ti mesmo. E Jesus lhe disse: Respondeste bem; faze isto e viverás. Ele porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? Em resposta, Jesus disse: Um certo homem que descia de Jerusalém a Jericó, caiu nas mãos dos ladrões. Estes o despojaram, e, depois de o ferirem, foram-se, deixando-o semi-morto. Ora, sucedeu que um sacerdote desceu pelo mesmo caminho, e, vendo-o, passou de largo. Igualmente, chegou um levita, perto do lugar e, vendo-o, passou adiante. Mas um Samaritano, de viagem, passou pelo mesmo caminho, chegou perto dele, e, quando o viu, compadeceu-se. Aproximou-se então, ligou-lhe as feridas e deitou nelas óleo e vinho; e, pondo-o sobre o seu jumento, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No outro dia tirou dois dinheiros, deu-os ao hospedeiro e disse: Toma cuidado dele; e quanto gastares a mais, quando voltar te pagarei. Qual destes três te parece que se portou como próximo daquele que caiu em poder dos ladrões? O doutor da lei respondeu: O que usou de misericórdia para com ele. Tornou-lhe Jesus: Vai, e faze o mesmo.

🤔 Reflexões

🔑 O homem que descia de Jerusalém é Adão; Jerusalém é a cidade da paz celestial; Jericó é a lua, que significa a nossa mortalidade. Os ladrões são o diabo e os seus anjos, que o despojaram da imortalidade e, depois de o espancarem com pecados, o abandonaram. O sacerdote e o levita significam o sacerdócio e o ministério do Antigo Testamento, que não podiam salvar. O Samaritano é Cristo. As ligaduras são o vínculo da caridade. O óleo é o conforto da boa esperança; o vinho, o estímulo para trabalhar com espírito fervoroso. A hospedaria é a Igreja. O dia seguinte é o tempo depois da Ressurreição. Os dois denários são os dois preceitos do amor ou a promessa desta vida e da futura. O estalajadeiro é o Apóstolo (São Paulo) (Santo Agostinho, Quaestiones Evangeliorum, II, 19). Se o ministério da morte foi glorioso, como não o será muito mais o ministério do Espírito, que permanece e dá a vida? Pois um é glória do corpo, o outro é do Espírito (São João Crisóstomo, Homilia VI sobre a Segunda Epístola aos Coríntios).

🗺️ Enquanto Mateus (22:35-40) e Marcos (12:28-34) apresentam o diálogo sobre o maior mandamento como uma questão direta a Jesus, que responde unindo os dois preceitos, Lucas inverte a dinâmica: o doutor da lei, ao ser interrogado por Jesus sobre o que a Lei diz, é quem formula a síntese. Mais crucialmente, a Parábola do Bom Samaritano, que serve de explicação prática e universal sobre quem é o "próximo", é exclusiva do Evangelho de Lucas, surgindo da tentativa do doutor da lei de se justificar.

⛓️ A Epístola do dia, de São Paulo, serve como a chave teológica para o Evangelho. A distinção paulina entre a "letra que mata" e o "Espírito que vivifica" é perfeitamente dramatizada na parábola. O sacerdote e o levita seguem a letra da lei, talvez temendo a impureza ritual, mas falham no Espírito. Em outras passagens, Paulo reforça que "toda a lei se cumpre numa só palavra: Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Gálatas 5:14) e que "o amor é o pleno cumprimento da lei" (Romanos 13:10), ecoando a conclusão que Jesus leva o doutor da lei a alcançar.

⚖️ O Catecismo do Concílio de Trento, ao explicar o Decálogo, aprofunda a lição do Evangelho ao especificar que o preceito do amor ao próximo não admite exceções. Ensina que sob o termo "próximo" devemos incluir todos os homens, sejam eles estranhos ou mesmo inimigos, condenando diretamente qualquer interpretação restritiva da Lei, como a que o doutor da lei implicitamente sustentava. A caridade, conforme detalhado no catecismo, é a alma de todas as virtudes e o vínculo da perfeição, o que torna a omissão do sacerdote e do levita uma falha grave não apenas contra um mandamento, mas contra o fundamento de toda a Lei.