Livro: O Problema da Autoridade na Igreja, padre Rioult


“Quando a autoridade ensina o erro, ela já não representa Cristo. E quando os fiéis obedecem a essa autoridade corrompida, tornam-se cúmplices de uma traição.”

O livro "Le Problème de l’Autorité dans l’Église" é, antes de tudo, uma acusação documentada e teologicamente fundamentada contra a usurpação da autoridade eclesiástica por parte de uma hierarquia que, desde o Concílio Vaticano II, abandonou a missão recebida de Cristo para servir ao mundo, à revolução e ao homem.

Padre Rioult começa com um princípio inegociável: toda autoridade verdadeira provém de Deus (Rm 13,1), mas somente enquanto estiver submetida à verdade divina. Quando a autoridade abandona a verdade, ela não se dissolve, mas se perverte, e passa a operar não mais como ministra Christi, mas como instrumento do erro.

A grande tragédia do nosso tempo é que aqueles que ocupam os tronos da Igreja traem a fé que deveriam defender. O Papa, os bispos e os sacerdotes – ao invés de serem guardiães da Tradição – tornaram-se agentes da “nova evangelização”, termo perverso que significa, na realidade, o esvaziamento da doutrina católica para agradar ao mundo moderno.

No centro da análise está a questão: é possível obedecer a uma autoridade que comanda contra Deus? A resposta do autor é clara: não somente não é possível – é proibido. Citando a Sagrada Escritura, os Papas pré-conciliares e especialmente Santo Tomás de Aquino, Rioult demonstra que a obediência cega leva à perdição, pois “a obediência só é virtude quando ordenada ao bem”.

Ao tratar do papado pós-Vaticano II, o autor demonstra que os últimos pontífices, especialmente João Paulo II e Bento XVI, embora mantivessem certas formas tradicionais, espalharam uma nova doutrina centrada no homem e contaminada pelo liberalismo, negando na prática o Reinado Social de Cristo e promovendo a liberdade religiosa, o ecumenismo relativista e a destruição do Santo Sacrifício da Missa.

Não se trata, para Rioult, de um erro acidental ou de desvios individuais, mas de uma mudança de religião operada por dentro da estrutura eclesiástica. A autoridade legítima foi ocupada por homens que já não professam integralmente a fé católica, e isso cria um problema insolúvel para o fiel que deseja permanecer católico: como obedecer a uma hierarquia que contradiz a fé?

A resposta do autor é a resistência doutrinal fundada na obediência à Tradição. Ele não propõe um cisma, nem uma rebelião anárquica, mas uma fidelidade superior àquela exigida pelos homens – fidelidade a Cristo e à doutrina imutável da Igreja. Quando Roma fala contra a fé, Roma deve ser resistida. Isso, longe de ser desobediência, é o verdadeiro amor à Igreja.

O livro conclui com uma exortação grave: estamos numa paixão da Igreja, semelhante à Paixão de Cristo. A Esposa de Cristo parece desfigurada, traída pelos seus pastores e escarnecida pelo mundo. Mas a fidelidade exige permanecer junto à Cruz, como Maria e João, sem seguir os Judas nem os Pilatos eclesiásticos do nosso tempo.

Referência

Rioult, Jean-Michel. Le Problème de l’Autorité dans l’Église. Éditions Sainte Jeanne d’Arc, Angers, France, 2007. 120 p.