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sábado, 26 de outubro de 2024

Sobre os erros do vaticano II - Carta Apostólica Papa S. Pio X

O mesmo acontece com a noção da fraternidade, cuja base colocam no amor dos interesses comuns, ou, além de todas as filosofias e de todas as religiões, na simples noção de humanidade, englobando assim no mesmo amor e numa igual tolerância todos os homens com todas as suas misérias, tanto as intelectuais e morais como as físicas e temporais. Ora, a doutrina católica nos ensina que o primeiro dever da caridade não está na tolerância das convicções errôneas, por sinceras que sejam , nem da indiferença teórica e prática pelo erro ou o vício, em que vemos mergulhados nossos irmãos, mas no zelo pela sua restauração intelectual e moral, não menos que por seu bem-estar material. Esta mesma doutrina católica nos ensina também que a fonte do amor do próximo se acha no amor de Deus, Pai comum e fim comum de toda a família humana, no amor de Jesus Cristo, do qual somos membros a tal ponto que consolar um infeliz é fazer o bem ao próprio Jesus Cristo. Qualquer outro amor é ilusão ou sentimento estéril e passageiro.

NOTRE CHARGE APOSTOLIQUE, Sobre os erros do Sillon, Carta Apostólica do Papa S. Pio X, promulgada em 25 de Agosto de 1910. Acessar carta.

O Sillon foi um movimento católico francês, que teve uma transformação crucial em 1907, quando Marc Sangnier decidiu secularizá-lo, transformando-o de um movimento católico em um movimento democrático aberto a pessoas de todas as religiões. Esta data é particularmente importante pois marca o ponto em que o Sillon se afastou definitivamente de sua orientação católica original, levando à sua posterior condenação por São Pio X em 1910 na "Notre Charge Apostolique".

Esta secularização de 1907 exemplificou os principais problemas que a Igreja identificava no movimento: a subordinação da fé católica a ideais democráticos seculares e a diluição da doutrina católica em favor de um humanismo universal. É um momento histórico que serve como advertência contra tentativas similares de secularização de movimentos católicos.

"O Sillon coloca primitivamente a autoridade no povo, de quem ela depois se deriva para os governantes, de tal modo, porém, que continua a residir nele. Ora, Leão XIII condenou formalmente esta doutrina na sua Encíclica 'Diuturnum Illud' do principado político: 'Numerosos modernos, seguindo as pegadas daqueles que no século passado se atribuíram o nome de filósofos, declaram que toda autoridade vem do povo; que, por conseguinte, os que exercem o poder na sociedade civil, não o exercem como próprio, mas como delegado pelo povo, e sob a condição de que possa ser revogado pela vontade desse mesmo povo que lho delegou.'"

"O mesmo acontece com a noção da fraternidade, cuja base colocam no amor dos interesses comuns, ou, além de todas as filosofias e de todas as religiões, na simples noção de humanidade, englobando assim no mesmo amor e numa igual tolerância todos os homens com todas as suas misérias, tanto as intelectuais e morais como as físicas e temporais."

"O Sillon, que ensina tais doutrinas e as põe em prática na sua vida interior, semeia, portanto, entre vossa juventude católica noções errôneas e funestas sobre a autoridade, a liberdade e a obediência. Não é diferente no que diz respeito à justiça e à igualdade. Trabalha, diz ele, para realizar uma era de igualdade, que seria por isso mesmo uma era de melhor justiça. Assim, para ele, toda desigualdade de condição é uma injustiça ou, pelo menos, uma menor justiça!"


Os principais erros condenados foram:
 
A doutrina da soberania popular absoluta
O conceito naturalista de fraternidade desvinculado da caridade cristã
O igualitarismo radical que considera toda desigualdade como injustiça
O falso ecumenismo que coloca todas as religiões no mesmo plano
A subordinação da Igreja ao ideal democrático
A busca de uma nova Igreja mais democrática
A rejeição da autoridade hierárquica natural

Como vemos, muitas das críticas feitas ao Sillon são semelhantes às críticas feitas hoje ao progressismo católico pós-vaticano II, especialmente no que tange à noção de fraternidade universal desvinculada da verdade católica e à democratização excessiva das estruturas eclesiais.

O texto apresenta uma crítica contundente à visão moderna de fraternidade e tolerância religiosa que se desenvolveu após o Concílio Vaticano II. Ao rejeitar a "igual tolerância" e a "indiferença teórica e prática pelo erro", o texto se opõe diretamente às tendências ecumênicas e ao diálogo inter-religioso que caracterizaram as reformas conciliares, especialmente aquelas expressas em documentos como a Nostra Aetate.

Em contraposição à abertura pós-conciliar, o texto defende o dever católico de buscar ativamente a "restauração intelectual e moral" dos que estão no "erro". Esta posição reafirma uma compreensão mais exclusivista da verdade católica, onde o amor ao próximo deve necessariamente estar fundamentado no amor a Deus e a Jesus Cristo, rejeitando qualquer outro tipo de fraternidade como "ilusão" ou "sentimento estéril".

Ao insistir que a verdadeira caridade não está na tolerância de convicções errôneas, mas no zelo pela correção do próximo, o texto estabelece uma clara oposição entre a visão tradicionalista e as tendências mais ecumênicas do catolicismo contemporâneo.