Na antiguidade cristã, o dia de hoje era o “dia das rosas”. Os Cristãos se presenteavam mutuamente com as primeiras rosas do verão. Ainda hoje o Santo Padre benze, neste dia, uma rosa de ouro e a oferece a uma pessoa em sinal de particular atenção. A santa Igreja, como o faz no Advento, interrompe também na Quaresma a sua penitência. Demonstra alegria pelo toque do órgão, pelo enfeite dos altares e pelo róseo dos paramentos. Toda a Missa respira alegria e júbilo. E por que assim? Lembremo-nos que, antigamente, faziam os catecúmenos, neste dia, um juramento solene e eram recebidos no seio da Igreja, representada pela Igreja da “Santa Cruz em Jerusalém”.
PRÓPRIO DO DIA
Introito (Is 66, 10 e 11 | Sl 121, 1) (Áudio)
Lætáre, Jerúsalem: et convéntum fácite, omnes qui dilígitis eam... Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, todos os que a amais, entregai-vos à alegria, vós que estivestes na tristeza, para que exulteis e vos sacieis da abundância de vossa consolação. Sl. Alegrei-me com o que me foi dito: iremos à casa do Senhor.
Epístola (Gal 4, 22-31)
Leitura da Epístola de São Paulo Apóstolo aos Gálatas.Irmãos: Está escrito que Abraão teve dois filhos: um da escrava, e outro da mulher livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne, enquanto o da livre nasceu em virtude da promessa. Isto é dito em sentido alegórico para significar as duas alianças. Uma vem do monte Sinai, gerando para a servidão: e é Agar. Pois Sinai é monte da Arábia que corresponde à Jerusalém atual, a qual é escrava com os seus filhos. Mas [a outra] que é a Jerusalém do alto, é livre e esta é a nossa mãe. Porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz; exulta e clama, tu que não geras, pois são mais numerosos os filhos da abandonada [Sara], que os da que tem marido. Nós, porém, irmãos, somos como Isaac, filhos da promessa. E como então aquele que nascera segundo a carne perseguia o que nascera segundo o espírito, assim também agora. Mas, que diz a Escritura? Expulsa a escrava e o seu filho; porque o filho da escrava não será herdeiro como o filho da livre. Assim também, nós, meus irmãos, não somos filhos da escrava, mas da livre, pela liberdade para a qual o Cristo nos resgatou.
Evangelho (Jo 6, 1-15)
Naquele tempo, passou Jesus à outra margem do mar da Galileia, que é o de Tiberíades, seguindo-O grande multidão, porque via as maravilhas que Ele fazia aos que eram enfermos. Subiu então Jesus ao monte e sentou-se ali com os seus discípulos. Ora, estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Erguendo Jesus os olhos e vendo que uma grande multidão vinha a Ele, disse a Filipe: Onde compraremos pães para dar de comer a toda essa gente? Dizia isso, porém, para o experimentar, porque Ele bem sabia o que havia de fazer. Respondeu-Lhe Filipe: Duzentos dinheiros de pão não bastariam para que cada um deles recebesse uma pequena porção. Disse a Jesus um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: Está aqui um moço que tem cinco pães de cevada e dois peixes; mas que é isto para tanta gente? Disse-lhes Jesus: Fazei assentar os homens. Havia no lugar muita relva. Assentaram-se, pois, os homens, em número de quase cinco mil. Tomou então Jesus os pães, e havendo dado graças, distribuiu-os aos que estavam sentados: e igualmente distribuiu os peixes, quanto eles quiseram. Quando já estavam fartos, disse Ele a seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram para que se não percam. Recolheram-nos, pois, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobraram aos que comeram. Vendo então aqueles homens o milagre que Jesus fizera, diziam: Este é verdadeiramente o Profeta que deve vir ao mundo. Mas Jesus, sabendo que O viriam buscar à força, para O fazerem rei, afastou-se indo a um monte para estar sozinho.
Homilias
Santo Agostinho (Sermão 130) - A multiplicação dos pães aponta para um mistério mais profundo: o próprio Cristo é o pão vivo que desceu do céu, multiplicado para alimentar a humanidade inteira. O milagre não é apenas um ato de poder sobre a natureza, mas um sinal da abundância divina que excede toda necessidade humana. Os cinco pães representam os cinco livros da Lei de Moisés, que, por si só, não saciam a alma, mas, nas mãos de Cristo, tornam-se suficientes para todos. Os dois peixes simbolizam os Profetas e os Salmos, complementando a Lei e anunciando a vinda do Salvador. A ação de dar graças antes de distribuir revela que toda a criação depende da bênção divina para sua eficácia, e os doze cestos de sobras indicam a plenitude da graça que se estende às doze tribos de Israel e, por extensão, a todas as nações. Este evento prefigura a Eucaristia, onde Cristo se oferece como alimento eterno, saciando não apenas a fome física, mas a espiritual, chamando todos à fé e à unidade no seu corpo místico.
São Tomás de Aquino – Suma Teológica (III, q. 75, a. 1 e Comentário a João 6) - O milagre da multiplicação dos pães demonstra a potência divina de Cristo sobre a matéria, mostrando que Ele é o Senhor da criação, capaz de transformar o pouco em muito pela sua vontade. Este ato não é apenas um prodígio externo, mas um sinal da sua missão de restaurar a humanidade à vida sobrenatural. Os pães e peixes, sendo poucos, indicam a insuficiência dos bens terrenos para satisfazer o homem, enquanto a multiplicação revela que só em Deus se encontra a verdadeira saciedade. A distribuição ordenada aos discípulos aponta para o papel da Igreja na dispensação dos sacramentos, especialmente da Eucaristia, que é o verdadeiro pão multiplicado para a salvação do mundo. As sobras recolhidas significam a superabundância da graça divina, que nunca se esgota e está disponível a todos os que creem. Este evento é uma preparação para o discurso do Pão da Vida, onde Cristo ensina que Ele mesmo é o alimento essencial, unindo os fiéis a Si pela fé e pela caridade.
São Boaventura, Sermão sobre João 6 - A multiplicação dos pães é um mistério de amor e providência divina, revelando a bondade de Cristo que não abandona os seus seguidores na necessidade. O número cinco dos pães simboliza os cinco sentidos do homem, que, quando ordenados por Cristo, conduzem à verdadeira sabedoria espiritual. Os dois peixes representam a dupla natureza de Cristo, divina e humana, que sustenta a Igreja. A relva onde a multidão se senta é a esperança da ressurreição, pois o verde aponta para a vida eterna prometida aos fiéis. A ação de partir e distribuir os pães prefigura o sacrifício da Cruz, onde Cristo se entrega totalmente, e a Eucaristia, onde Ele permanece presente para nutrir a alma. Os doze cestos cheios mostram que a graça divina excede toda expectativa humana, alcançando todas as gerações e povos, e chamando à contemplação do mistério da unidade em Deus.