27 mar - QUINTA-FEIRA DA 3ª SEMANA DA QUARESMA

Féria de 3ª Classe – Missa própria, com comemoração de S. João Damasceno, Confessor e Doutor – Estação em S. Cosme e São Damião

São João Damasceno
nascido em 675 em Damasco, Síria, foi um monge, sacerdote e teólogo que se destacou como um dos últimos Padres da Igreja Oriental e Doutor da Igreja, proclamado assim em 1890 por Leão XIII. Filho de uma rica família cristã árabe, inicialmente serviu como administrador no califado muçulmano antes de renunciar aos bens terrenos por volta de 700 e ingressar no mosteiro de São Sabas, perto de Jerusalém, onde foi ordenado sacerdote. Dedicou-se à vida ascética, à literatura e à defesa da fé, especialmente contra a iconoclastia, morrendo em 4 de dezembro de 749. Sua vida espiritual foi marcada por uma profunda devoção à Virgem Maria e pela busca da santidade através da oração e do estudo, sendo conhecido como o "São Tomás do Oriente" por sua erudição teológica. Uma de suas obras mais célebres é "A Fonte do Conhecimento" (Fountain of Knowledge), que sistematiza a filosofia e a teologia cristã em três partes: "Capítulos Filosóficos", "Sobre as Heresias" e "Exposição Exata da Fé Ortodoxa". Um texto representativo é: "Não despreze a matéria, pois ela não é desprezível. Nada do que Deus fez é desprezível" (Contra imaginum calumniatores, I, 16). 

PRÓPRIO DO DIA

Introito (-| Sl 77, 1)
Salus pópuli ego sum, dicit Dóminus... Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor; quando por mim em qualquer tribulação clamarem, eu os ouvirei; e serei perpetuamente o seu Senhor. Sl. Povo meu, escuta a minha lei: inclina os teus ouvidos às palavras de minha boca.

Epístola (Jr 7, 1-7)
Profeta Jeremias. Naqueles dias, a palavra do Senhor me foi assim dirigida: Fica de pé, à porta da casa do Senhor e ali prega estas palavras: Ouvi a palavra do Senhor, vós todos de Judá, que penetrais por estas portas, para adorar o Senhor. Eis o que diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel: Endireitarei os vossos caminhos e as vossas inclinações e habitarei convosco neste lugar. Não confieis em palavras enganadoras, dizendo: Eis o templo do Senhor, o templo do Senhor, o templo do Senhor. Porque se orientardes bem os vossos caminhos e as vossas inclinações, se fizerdes justiça entre o homem e seu próximo se ao estrangeiro, ao órfão e à viúva não levantardes calúnia, nem derramardes o sangue do inocente neste lugar, se junto a deuses estranhos não caminhardes para a vossa infelicidade, eu habitarei convosco neste lugar, na terra que concedi a vossos pais, por todos os tempos, diz o Senhor onipotente.

Evangelho (Lc 4, 38-44)
Naquele tempo, saindo Jesus da sinagoga, entrou em casa de Simão. Ora, a sogra de Simão tinha uma forte febre e houve quem intercedesse a Jesus por ela. De pé, ao seu lado, ordenou Jesus à febre e esta a deixou. E levantando-se logo, ela os servia. Quando o sol estava no ocaso, todos os que tinham enfermos de várias doenças traziam-nos a Jesus. E Ele, impondo as mãos sobre cada um, curava-os. Saíam também os demônios de muitos deles, clamando e dizendo Vós sois o Filho de Deus. Ele os ameaçava, entretanto, para que não dissessem que sabiam que Ele era o Cristo. Quando se fez dia, Jesus saiu e foi para um lugar deserto. E as multidões O procuravam e foram até Ele; e queriam retê-Lo, com medo que os deixasse. Ele porém lhes disse: É preciso que eu vá a outras cidades anunciar o Reino de Deus: porque para isso fui enviado. E assim pregava nas sinagogas da Galileia.

Homilias

Santo Agostinho (Sermão 77) - A cura da sogra de Pedro revela a prontidão divina em aliviar os sofrimentos humanos, mas não se limita a um ato físico; é um sinal da restauração da alma. A febre simboliza as paixões desordenadas que consomem o homem interior, e a repreensão de Cristo é o poder da graça que as subjuga. Quando a mulher se levanta para servir, demonstra-se que a verdadeira saúde espiritual conduz ao serviço, pois a alma curada não permanece ociosa, mas se volta para a caridade. A imposição das mãos sobre os enfermos ensina que a misericórdia divina é pessoal e direta, tocando cada um em sua necessidade particular. Os demônios que reconhecem o Filho de Deus são silenciados, pois a verdade de Cristo não depende de testemunhos impuros, mas da revelação ordenada pelo próprio Deus. A retirada de Jesus ao deserto mostra que a contemplação é o fundamento da missão, pois sem a união com Deus na solidão, o anúncio do Reino perde sua força. Ele prega em outras cidades porque a salvação não é privilégio de poucos, mas um dom universal, destinado a todos os povos.

São Tomás de Aquino (Suma Teológica, Suplemento, Q. 29, Art. 1) - A cura da sogra de Simão por Cristo é um ato que manifesta a virtude divina, pois só Deus tem poder sobre a natureza para ordenar a doença a cessar imediatamente. Este milagre não é apenas um benefício corporal, mas um sinal da redenção espiritual, pois a febre representa o calor do pecado que afasta o homem da ordem divina. A mulher que se levanta para servir exemplifica a alma elevada pela graça, que, liberta do peso do mal, se ordena ao bem através da caridade ativa. A cura dos enfermos com a imposição das mãos indica que Cristo, como mediador, transmite a virtude divina aos homens, restaurando-os à harmonia com Deus. Os demônios silenciados revelam a autoridade de Cristo sobre as potências espirituais, mostrando que o conhecimento da sua divindade, mesmo por seres malignos, está subordinado à sua vontade soberana. A saída ao deserto e o anúncio do Reino às outras cidades demonstram que a missão de Cristo é ordenada pelo Pai, sendo a pregação um ato de obediência que visa a salvação universal, unindo os homens à beatitude eterna.

Santo Ambrósio (Comentário ao Evangelho de Lucas, Livro 4) - A cura da sogra de Pedro é um mistério da misericórdia divina que se inclina sobre a fraqueza humana, pois Cristo, ao repreender a febre, restaura não apenas o corpo, mas a dignidade da alma para o serviço do Reino. O levantar-se imediato da mulher aponta para a prontidão da graça, que não admite demora na resposta ao chamado divino. A multidão que traz os enfermos ao entardecer simboliza a humanidade que, nas trevas do pecado, busca a luz de Cristo, e a imposição das mãos é o toque do Salvador que renova a criação decaída. Os demônios que proclamam sua divindade são calados porque a revelação do mistério de Cristo deve vir da pureza da fé, não da astúcia maligna. A retirada ao deserto ensina que a oração é o sustento da missão, e a pregação em outras cidades mostra que o Evangelho é um fogo que deve se espalhar, consumindo o erro e iluminando os corações para a verdade eterna.