A Comunhão da Ruptura e o Sacrifício da Fidelidade


Em 7 de julho, a Arquidiocese de Londrina, por meio de uma nota oficial assinada por seu arcebispo, Dom Geremias Steinmetz, tornou pública a proibição de quaisquer atos de culto a serem celebrados por Dom Tomás de Aquino Ferreira da Costa, do Mosteiro da Santa Cruz, na cidade de Cambé, Paraná. O comunicado acusa o referido bispo de não estar em "plena comunhão" com a Sé Apostólica e, consequentemente, veta a celebração da Missa no rito tridentino e a administração do sacramento da Crisma. A nota, com seu tom eminentemente jurídico e político, mais do que pastoral, serve como um exemplo paradigmático da crise que se instalou na Igreja desde o Concílio Vaticano II, em que a fidelidade à Tradição é tratada como desobediência, e a comunhão eclesial é apresentada como uma adesão a uma nova orientação pastoral e doutrinária.
Análise Crítica

A hostilidade manifestada na nota da Arquidiocese de Londrina para com a liturgia tradicional não é um mero ato administrativo, mas a consequência lógica de uma ruptura fundamental. Para entender o que está em jogo, não basta analisar o evento como um caso isolado de disciplina eclesiástica; é preciso situá-lo no contexto da instauração de uma nova religião, a "religião do homem", que teve no Concílio Vaticano II seu ato fundador.

O problema central não é a Missa Tridentina, mas a doutrina católica que ela expressa de modo inequívoco. Como foi exaustivamente demonstrado em um pormenorizado estudo sobre a Missa de Paulo VI, o novo rito foi uma "obra de mãos humanas", concebido para obscurecer e eliminar sistematicamente os elementos que mais claramente expressavam a fé católica sobre o Sacrifício, o Sacerdócio e a Presença Real. A Nova Missa representa, portanto, uma "ruptura com a tradição" (CEKADA, 2010, p. 471), e não uma sua continuação orgânica. O rito antigo, ao contrário, é um baluarte contra as ambiguidades do ecumenismo e do modernismo, e é precisamente por isso que ele é percebido como uma ameaça pelos promotores da nova orientação conciliar.

A nota da Arquidiocese apela para a noção de "comunhão". Mas de que comunhão se trata? O humanismo que anima o espírito conciliar, como exposto em certa análise, busca uma "comunhão" que não se funda na adesão irrestrita à verdade revelada, mas em uma vaga "união comum" em que as diferenças doutrinárias são minimizadas em nome de um ideal de fraternidade universal (CALDERÓN, 2010, p. 112). A "comunhão" torna-se, assim, uma ferramenta política para impor a nova orientação, e a acusação de "falta de comunhão" é dirigida não àqueles que se desviam da Fé de sempre, mas àqueles que se recusam a aderir à nova agenda.

A verdadeira questão não é a comunhão com uma estrutura eclesiástica em um dado momento histórico, mas a comunhão com a Fé católica transmitida pelos Apóstolos e selada pelo sangue dos mártires. Quando a hierarquia adota uma "nova evangelização" e uma "nova teologia", ela mesma se coloca em um estado de ruptura com o seu passado. Nesse contexto, a fidelidade à Tradição passa a ser vista como um ato de desobediência. Como se lê em um opúsculo sobre a crise na Igreja, a questão de um "papa herético" ou de uma hierarquia que se desvia da fé não é uma mera hipótese teológica, mas uma chave para compreender a situação atual, em que a própria autoridade parece entrar em conflito com a doutrina que ela deveria guardar (NOUGUÉ, 2017, p. 233).

O gesto da Arquidiocese de Londrina é, portanto, perfeitamente coerente com os princípios da nova religião. Ao proibir a Missa tradicional e os sacramentos administrados com a devida reverência, ela não faz mais do que proteger a "nova economia sacramental" instaurada pelo Vaticano II. A ação de Dom Tomás de Aquino, por outro lado, é um ato eminentemente pastoral: oferecer aos fiéis os tesouros da graça da maneira como a Igreja sempre o fez. Ele atende às almas que, em meio à confusão doutrinária e litúrgica, buscam a segurança da Tradição.

O escândalo, portanto, não está na ação do bispo tradicional, mas na reação da autoridade diocesana. Enquanto se toleram e até se promovem "celebrações" que são esvaziadas de seu conteúdo sagrado, transformadas em espetáculos antropocêntricos, a liturgia que por séculos santificou a Igreja é tratada como um artigo de contrabando. A nota de Londrina é mais um sintoma da "inversão prometeica" descrita por um arguto analista, na qual a glória do homem toma o lugar da glória de Deus (CALDERÓN, 2010, p. 16). Proibir a Missa Tridentina em nome da "unidade" é, em última análise, proibir a própria fé católica em nome de uma nova comunhão, cujo fundamento não é mais Cristo, mas o homem.

Referências

CALDERÓN, Álvaro. Prometeo: la religión del hombre. Ensayo de una hermenéutica del Concilio Vaticano II. 2010.
CEKADA, Anthony. Obra de mãos humanas: uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. West Chester: Philothea Press, 2010.
NOUGUÉ, Carlos. Do Papa Herético e outros opúsculos. Formosa: Edições Santo Tomás, 2017.