Recentemente, a atenção do mundo católico foi capturada por uma série de discursos de um pontífice, os quais, em sua essência, parecem consolidar o programa teológico da era pós-Vaticano II. A análise em questão relata três pronunciamentos, destacando-se o terceiro, dirigido aos peregrinos da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Nele, o pontífice reconhece o martírio e o sofrimento deste povo por sua fidelidade à Sé de Pedro, para, em seguida, referir-se aos seus perseguidores ortodoxos como uma "Igreja irmã" com a qual Roma já se encontra em "profunda comunhão".
O texto aponta a contradição gritante: canonizar e louvar os mártires por rejeitarem o cisma, ao mesmo tempo em que se legitima teologicamente esse mesmo cisma. A questão levantada é se o martírio foi, afinal, um "trágico mal-entendido" e se a comunhão com Roma tornou-se opcional. A fala papal de que a "Fé não significa ter todas as respostas" é contrastada com a confissão de fé de Pedro, sugerindo uma mudança fundamental na própria natureza da Fé.
De modo geral, o autor do texto observa que os discursos papais adotam um refrão familiar de "ouvir, acompanhar, reformar, viajar, renovar", abandonando o chamado à conversão em favor de uma "unidade" que se torna um "horizonte" e não uma "demanda". A análise conclui que tal abordagem representa a "estabilização final da revolução conciliar", unindo os fragmentos da Cristandade não com a cola da verdade, mas com o "sentimentalismo". Este método, que não nega a doutrina abertamente, mas a reinterpreta até torná-la irrelevante, é classificado pelo autor como "gaslighting doutrinário".
A aparente contradição identificada no discurso papal aos greco-católicos ucranianos não é um lapso diplomático, mas a manifestação lógica e coerente dos princípios que animam a teologia modernista, cujas consequências na liturgia foram extensivamente documentadas em estudos como Obra de Mãos Humanas. A capacidade de sustentar duas posições mutuamente exclusivas – a santidade do martírio pela unidade com Roma e a legitimidade do cisma que provocou esse mesmo martírio – é o pilar do novo edifício ecumênico.
O ecumenismo, conforme promovido após o Concílio Vaticano II, exige a neutralização de qualquer elemento doutrinário que possa ser considerado ofensivo por aqueles que se encontram fora da plena comunhão com a Igreja. Um estudo aprofundado das reformas litúrgicas demonstra que este foi o princípio norteador para a alteração de inúmeras orações. As referências explícitas à conversão dos "hereges e cismáticos" nas Orações Solenes da Sexta-Feira Santa, por exemplo, foram sistematicamente suprimidas por soarem "mal ante o clima ecumênico" (Obra de Mãos Humanas, p. 303). O discurso de Leão é a aplicação deste mesmo princípio no campo da diplomacia papal: a verdade sobre a unicidade da Igreja de Cristo e o dever de conversão são silenciados para não causar "desconforto" aos "irmãos separados".
Ademais, a afirmação de que a "Fé não significa ter todas as respostas" representa uma ruptura radical com o ensinamento católico perene. A fé, para a Igreja, é a adesão da inteligência, movida pela vontade e pela graça, às verdades reveladas por Deus. Não é uma busca sentimental por um "horizonte", mas a aceitação de um depósito de verdades imutáveis. O que se observa aqui é a promoção de uma noção modernista de fé como experiência subjetiva e jornada, em detrimento da sua natureza como assentimento à doutrina objetiva. Essa mesma mudança de paradigma está na base da destruição da liturgia católica, que foi remodelada para refletir uma "teologia existencialista" em vez de uma "teologia essencialista estática" (Obra de Mãos Humanas, p. 145).
O método empregado é precisamente o que São Pio X condenou na encíclica Pascendi Dominici Gregis. O modernista não destrói a doutrina; ele a esvazia de seu conteúdo, a reveste com uma nova terminologia e a apresenta como uma etapa superada de uma "tradição viva". Ao redefinir o monasticismo como "hospitalidade e diálogo social", ele faz exatamente o que a nova liturgia fez ao transformar o Sacrifício da Missa em um "banquete" ou "reunião" da assembleia. O essencial é obliterado em favor do acidental. Os mártires não são negados; seu testemunho é que é tornado incoerente e, em última análise, fútil. A sua fidelidade a Pedro é louvada como um ato de heroísmo, mas a substância dessa fidelidade — a rejeição do cisma e a profissão de que fora da Igreja não há salvação — é implicitamente classificada como uma posição historicamente condicionada e hoje ultrapassada.
Chamar tal procedimento de "gaslighting doutrinário" é perfeitamente acurado. A mente católica é levada a duvidar da realidade: se os mártires e seus perseguidores estão ambos em "profunda comunhão", por que houve, afinal, o martírio? A resposta implícita é que a causa do martírio não era a verdade dogmática, mas um lamentável "mal-entendido", uma falta de "diálogo" e "acompanhamento".
Conclui-se, portanto, que a estabilização da revolução conciliar não consiste em negar suas premissas, mas em polir suas conclusões. O resultado é um mosaico onde fragmentos da verdade católica são dispostos ao lado de seus contrários, unidos por um sentimentalismo que se apresenta como caridade. É a aplicação final do princípio que governou a criação da Missa de Paulo VI: a formulação deliberada de uma ambiguidade que permite aos conservadores "colocar suas próprias formulações nele e reconciliar suas consciências para usá-lo, enquanto que os Reformadores a interpretariam em seu sentido próprio" (Obra de Mãos Humanas, p. 203). O resultado, tanto na liturgia quanto no discurso papal, é a destruição da clareza e a promoção de uma indiferença doutrinária que é, em si mesma, a negação da Fé.
Referências
CEKADA, Anthony. Obra de Mãos Humanas: Uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. 2. ed. West Chester: Philothea Press, 2010.