Uma Análise Tomista da Força e da Fraqueza: A Virtude como Verdadeira Fortaleza e o Perigo Imanente do Vício


A tese a ser discutida propõe uma inversão paradoxal da percepção comum sobre o perigo. Afirma-se que, embora homens considerados "durões" possam ser perigosos, a verdadeira e maior ameaça reside nas capacidades dos homens "fracos". A premissa central sugere que a fraqueza, longe de ser inofensiva, abriga um potencial para o mal que supera o perigo manifesto da força. Este potencial, quando se manifesta, torna o homem fraco o agente por excelência do processo revolucionário, cuja essência é a própria desordem (Oliveira, 1998). Este ensaio analisará essa afirmação sob a ótica da psicologia filosófica tomista, definindo a força em termos de virtude e a fraqueza em termos de vício, para demonstrar como a desordem das faculdades da alma, característica do homem fraco, constitui um perigo mais profundo e insidioso para si e para a sociedade.

💪Definindo a Verdadeira Força: A Virtude da Fortaleza

Para analisar a tese, é crucial primeiro estabelecer uma definição ontológica de "força" e "fraqueza". Do ponto de vista tomista, a verdadeira força de um homem não reside na agressividade física ou na dominação, mas na perfeição de suas faculdades através da virtude. A própria palavra "virtude" deriva do latim vis, que significa poder ou força (Ripperger, 2013). Portanto, um homem "durão" ou forte, no sentido mais autêntico, é um homem virtuoso. Ele representa a ordem interior, a hierarquia da alma na qual a inteligência e a vontade governam a sensibilidade, refletindo a ordem hierárquica do universo desejada por Deus (Oliveira, 1998).

A virtude que mais se aproxima do conceito popular de "dureza" é a fortaleza. A fortaleza é a virtude moral que modera o apetite irascível, garantindo firmeza nas dificuldades e constância na busca do bem (Ripperger, 2013). O homem forte, dotado de fortaleza, não age por impulso cego; suas ações são governadas pela reta razão (recta ratio). Ele não teme a morte ou os males corporais quando se trata de defender um bem maior, mas tampouco se lança a perigos de forma imprudente. Ele possui autodomínio, suas paixões de ira e audácia estão subordinadas à sua vontade e intelecto. Sua alma, portanto, é a antítese do espírito revolucionário.

O "perigo" que um homem assim representa é direcionado e ordenado. Ele é perigoso para o mal, para a injustiça e para a desordem. Suas ações, por serem baseadas em princípios e na prudência, são previsíveis e consistentes. Ele não busca o controle sobre os outros para satisfazer seus apetites desordenados, mas age para o bem comum. A sua força é uma força que constrói e protege a civilização cristã, não uma que destrói por capricho.

⛓️A Natureza da Fraqueza: O Vício e a Desordem das Faculdades

Em contrapartida, a "fraqueza" corresponde ao vício, do latim vitium, que significa falha ou defeito (Ripperger, 2013). O vício é um mau hábito que desordena a faculdade, tornando-a deficiente em sua operação própria. O homem fraco, portanto, é o homem vicioso, cujas faculdades da alma estão em estado de desordem. Essa condição é análoga às quatro feridas do pecado original que afligem a natureza humana: ignorância (no intelecto), malícia (na vontade), fraqueza (no apetite irascível) e concupiscência (no apetite concupiscível) (Ripperger, 2013). Esta desordem é o terreno fértil onde germinam as paixões motrizes da Revolução: o orgulho e a sensualidade (Oliveira, 1998).

O homem fraco não é senhor de seus atos. Pelo contrário, ele é escravo de suas paixões. É a "lamentável tirania de todas as paixões desenfreadas, sobre uma vontade débil e falida e uma inteligência obnubilada" (Oliveira, 1998, p. 21). Seu intelecto é obscurecido pela paixão antecedente, que impede o juízo reto e leva à precipitação e à inconsideração (Ripperger, 2013). Sua vontade, enfraquecida, não adere firmemente ao bem verdadeiro, mas cede facilmente ao bem aparente apresentado pelos apetites desordenados. Seus apetites irascível e concupiscível não são governados pela razão, mas a arrastam, tornando o homem inconstante e voltado para os prazeres sensíveis como fim último. Essa é a essência da fraqueza: uma falta de ordem interior e de autodomínio, uma submissão das faculdades superiores (intelecto e vontade) às inferiores (apetites sensitivos).

🌪️O Perigo da Fraqueza: A Corrupção do Juízo e a Tirania das Paixões

É precisamente nesta desordem que reside o perigo insidioso do homem fraco. Enquanto o perigo do homem forte (virtuoso) é controlado pela razão e direcionado a um fim bom, o perigo do homem fraco é imprevisível, irracional e potencialmente ilimitado. Ele é a manifestação individual do processo revolucionário, que progride por meio de convulsões e desordens sucessivas (Oliveira, 1998).

Primeiro, por não possuir a força da virtude para alcançar seus fins por meios retos, o homem fraco recorre a meios tortuosos. Ele é propenso à astúcia (astutia), ao engano (dolus) e à fraude (fraus), que são vícios contrários à prudência (Ripperger, 2013). Tal como a própria Revolução, que avança por meio de "metamorfoses fraudulentas" e se oculta sob máscaras para enganar suas vítimas (Oliveira, 1998, p. 37), ele manipula, mente e engana porque lhe falta a fortaleza para enfrentar a realidade de frente e a justiça para agir corretamente. Seu comportamento é movido não por princípios, mas por uma busca desesperada para satisfazer seus apetites ou para se proteger de medos percebidos.

Segundo, o homem fraco é governado pelo medo, pela inveja e pelo ressentimento. Não tendo a fortaleza para suportar as dificuldades da vida, ele vive com medo. Não possuindo a caridade para se alegrar com o bem alheio, ele é consumido pela inveja. A inveja é a face psicológica do orgulho igualitário, que odeia toda e qualquer superioridade e, em última análise, odeia a própria ordem hierárquica da criação, odiando assim a Deus (Oliveira, 1998). Incapaz de perdoar injúrias por falta de magnanimidade, ele nutre o ressentimento e busca vingança. Essas paixões desordenadas, quando não moderadas pela virtude, tornam-se a fonte de atos de grande crueldade. Um homem que age por medo pode ser levado a atos extremos e irracionais que um homem forte jamais consideraria. Um homem que age por inveja buscará destruir o bem no outro, tornando-se uma força puramente destrutiva.

Terceiro, o homem fraco busca controlar os outros porque não consegue controlar a si mesmo. A falta de autocontrole gera uma necessidade de dominar o ambiente externo e as pessoas ao seu redor para mitigar sua insegurança e garantir a satisfação de seus desejos (Ripperger, 2013). Essa tirania sobre os outros é uma projeção de sua própria escravidão interior às paixões. É o mesmo paradoxo da Revolução, que, nascida de um anseio de liberdade absoluta (liberalismo), desemboca na tirania mais completa do Estado socialista e, por fim, na anarquia (Oliveira, 1998). Ele se torna perigoso não por um excesso de força, mas por uma carência dela, compensando sua fraqueza interior com a opressão exterior.

✅Conclusão

A tese de que os homens fracos são mais perigosos que os fortes encontra plena validação na psicologia tomista e se alinha perfeitamente com a análise do processo revolucionário. A força genuína é a virtude, um poder ordenado pela razão que capacita o homem a agir retamente e a suportar o mal com firmeza. A fraqueza é o vício, uma desordem que entrega o homem à tirania de suas paixões, corrompe seu juízo e o impele a atos de manipulação, crueldade e controle. O perigo do homem forte é previsível e direcionado ao bem; o perigo do homem fraco é insidioso, irracional e destrutivo, pois ele é o combustível e o agente da desordem revolucionária que visa corroer a sociedade. Portanto, a formação do caráter através da aquisição das virtudes não é apenas um ideal moral, mas uma necessidade psicológica fundamental para a saúde do indivíduo e a estabilidade da sociedade, protegendo-os do caos gerado pela fraqueza. É, em essência, uma tarefa contra-revolucionária.

📚Referências

Oliveira, P. C. de. (1998). Revolução e Contra-Revolução. 4ª ed. Artpress.
Ripperger, C. (2013). Introduction to the science of mental health. Sensus Traditionis Press.