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Questão Religiosa - Estado, Igreja Católica e maçonaria


A Questão Religiosa foi um conflito que ocorreu no Brasil durante o Império, envolvendo o Estado, a Igreja Católica e a maçonaria. O episódio central desse embate ocorreu na década de 1870, quando o país vivia um período de transição e modernização. A principal questão era o papel da Igreja Católica em um Estado que se declarava laico, mas que ainda mantinha fortes laços com a religião católica, influenciado pela presença significativa da maçonaria entre as elites brasileiras.

No Brasil do século XIX, o catolicismo era a religião oficial do Estado, mas a maçonaria exercia grande influência política e social. Muitos líderes do Império, incluindo Dom Pedro II e figuras importantes de seu governo, eram maçons. A Igreja Católica, por sua vez, estava vinculada ao Estado, mas enfrentava a pressão de reformar-se, especialmente diante da expansão dos ideais liberais e positivistas.
Conflito com a Maçonaria:

O conflito começou quando bispos católicos começaram a excomungar padres e membros do clero que também participavam de lojas maçônicas. A maçonaria era vista pela Igreja como uma organização secreta e subversiva, especialmente após o Syllabus Errorum (1864), documento do Papa Pio IX que condenava diversas ideias modernas, incluindo o liberalismo e as sociedades secretas, como a maçonaria.

Dois bispos, Dom Vital de Oliveira, de Olinda e Recife, e Dom Antônio de Macedo Costa, do Pará, tornaram-se protagonistas desse conflito. Eles aplicaram as excomunhões a clérigos que não deixaram a maçonaria, mesmo após ordens eclesiásticas. Os principais alvos dessas excomunhões foram padres e membros influentes da sociedade que participavam ativamente da maçonaria, desafiando as orientações da Igreja Católica, que condenava a participação em sociedades secretas. Alguns dos clérigos excomungados incluem:

Padre José Maria dos Reis (Recife) Um dos mais proeminentes clérigos excomungados por Dom Vital. Ele era pároco em Recife e também membro da maçonaria. Sua recusa em deixar a maçonaria, mesmo após as advertências do bispo, levou à sua excomunhão.

Excomungado por Dom Antônio de Macedo Costa no Pará. Padre Vicente Pacheco era outro líder eclesiástico local que não acatou as ordens da Igreja para abandonar a maçonaria e, por isso, foi excomungado.

Vários outros padres e leigos que ocupavam cargos de prestígio nas dioceses de Recife e Belém também foram atingidos pelas excomunhões. O número exato e os nomes de todos os envolvidos não são sempre claramente mencionados nas fontes históricas, mas esses casos simbolizam a postura de resistência dos bispos à infiltração maçônica no clero.

Uma violação do Padroado

O Padroado era um sistema de relações entre a Igreja Católica e o Estado, no qual o governo português, e posteriormente o brasileiro, tinha o direito de controlar diversos aspectos da administração da Igreja em seus territórios. Esse sistema foi estabelecido por acordos entre a monarquia e a Santa Sé, conhecidos como Tratados do Padroado, que conferiam poderes significativos ao Estado sobre questões eclesiásticas. No Brasil, o Padroado continuou em vigor durante todo o período imperial (1822-1889).

Nomeação de bispos e padres
O Imperador tinha o direito de indicar bispos para as dioceses brasileiras, sendo essas nomeações sujeitas à aprovação final do Papa. Na prática, isso significava que os bispos eram escolhidos pela monarquia, e a Igreja tinha pouca autonomia para decidir seus líderes.
A nomeação de padres em paróquias locais também estava sob alguma influência do Estado, especialmente em áreas mais estratégicas.

Controle sobre os bens da Igreja
O Estado controlava os bens materiais e financeiros da Igreja, incluindo terras e propriedades que pertenciam a ela. Os dízimos (contribuições financeiras dos fiéis) eram coletados pelo governo, que administrava parte dos recursos da Igreja e financiava suas atividades, como a construção de igrejas.
A Igreja, portanto, dependia do governo para parte de seu financiamento e manutenção, o que limitava sua autonomia econômica.

Intervenção em decisões eclesiásticas
O Estado tinha o direito de aprovar ou vetar decisões eclesiásticas importantes. Por exemplo, as bulas papais (decretos do Papa) só podiam ser publicadas e implementadas no Brasil com a autorização do Imperador.
Esse controle se estendia também a ações disciplinares, como a excomunhão de clérigos, que deveriam ter a concordância do governo para serem reconhecidas oficialmente. A recusa do governo em aprovar as excomunhões dos clérigos envolvidos com a maçonaria durante a Questão Religiosa exemplifica esse aspecto do Padroado.

Patrocínio do culto católico
Como o catolicismo era a religião oficial do Império, o governo patrocinava e apoiava as atividades da Igreja, que desempenhava um papel central na vida religiosa e educacional do país.
A Igreja tinha exclusividade em cerimônias oficiais, como casamentos e funerais, e suas celebrações eram eventos importantes para a sociedade.

Resposta do Imperador

Dom Pedro II, apesar de ser maçom, manteve uma postura de moderação ao longo do conflito. No entanto, o impasse aumentou quando o governo do Império decidiu intervir diretamente em favor da maçonaria, uma vez que as excomunhões afetavam muitos de seus membros. Como resultado, os bispos Dom Vital e Dom Macedo Costa foram presos em 1874, condenados a quatro anos de trabalhos forçados, sob a acusação de desafiarem a autoridade do Estado.

A prisão dos bispos gerou uma onda de protestos por parte da Igreja Católica e de setores da sociedade que apoiavam a independência da Igreja em relação ao Estado. Dom Pedro II, inicialmente apoiando a prisão, enfrentou pressões e, dois anos depois, em 1875, concedeu perdão aos bispos, encerrando o conflito.

Esse episódio marcou o enfraquecimento da influência da Igreja Católica no Brasil e foi um dos fatores que contribuíram para o distanciamento entre a Igreja e o Estado, uma tendência que culminaria na proclamação da República em 1889 e na separação formal entre Igreja e Estado. Além disso, a Questão Religiosa expôs as tensões entre o conservadorismo da Igreja e o liberalismo crescente entre as elites políticas e intelectuais do país.

Linha do tempo

1850s-1860s: Tensões iniciais
Antecedentes: A Igreja Católica enfrenta crescente influência da maçonaria, especialmente entre as elites políticas e intelectuais. A publicação do Syllabus Errorum em 1864, pelo Papa Pio IX, condena o liberalismo, o racionalismo e as sociedades secretas, como a maçonaria, aumentando a tensão entre a Igreja e a maçonaria.

1872: Início das excomunhões
Abril de 1872: O bispo de Olinda e Recife, Dom Vital de Oliveira, decide excomungar membros do clero que também pertenciam à maçonaria, após ignorarem suas advertências para se afastarem das lojas maçônicas.
Outubro de 1872: O bispo do Pará, Dom Antônio de Macedo Costa, segue os mesmos passos de Dom Vital e excomunga clérigos que participavam da maçonaria em sua diocese.

1873: Conflito com o Estado
Maio de 1873: Os bispos Dom Vital e Dom Macedo Costa continuam com as excomunhões. O governo imperial vê essas ações como uma violação do Padroado, o sistema que regulava as relações entre a Igreja e o Estado no Brasil. A maçonaria, fortemente presente no governo, exerce pressão contra os bispos.

1874: Prisões dos bispos
Janeiro de 1874: O governo de Dom Pedro II decide intervir diretamente no conflito. Os bispos Dom Vital e Dom Macedo Costa são convocados a depor perante o Supremo Tribunal de Justiça do Império.
Fevereiro de 1874: Dom Vital é preso e condenado a quatro anos de trabalhos forçados. Dom Macedo Costa também é preso e sentenciado ao mesmo período de trabalhos forçados.
As prisões causam comoção no país e uma divisão ainda maior entre os partidários do governo (principalmente maçons) e aqueles que apoiam a independência da Igreja.

1875: Perdão imperial
Setembro de 1875: Após pressões internas e internacionais, e devido ao aumento da popularidade dos bispos entre os católicos brasileiros, Dom Pedro II concede perdão aos bispos. Eles são libertados, mas o conflito deixa marcas profundas nas relações entre Igreja e Estado.

Líderes maçons no Brasil - Século XIX


No século XIX, a maçonaria teve uma grande influência na vida política, social e intelectual do Brasil. Muitos dos líderes proeminentes que moldaram o país nesse período eram maçons e utilizaram a fraternidade como espaço para debater e promover ideais progressistas, como a independência, a república, a abolição da escravatura, e a modernização do Estado. Aqui está uma lista de algumas dessas figuras:

José Bonifácio de Andrada e Silva (1763–1838)
Papel: Um dos principais articuladores da independência do Brasil, conhecido como o "Patriarca da Independência". Além de maçom, foi o mentor de Dom Pedro I. Contribuição: José Bonifácio teve papel fundamental na transição do Brasil de colônia para império, promovendo ideias de liberdade e soberania nacional.

André Rebouças (1838–1898)
Papel: Engenheiro, militar e abolicionista, André Rebouças foi uma das figuras mais importantes no movimento pela abolição da escravatura no Brasil. Contribuição: Filho de uma família de origem negra e rica, Rebouças lutou não apenas pela abolição, mas também por reformas que permitissem a inclusão dos libertos na sociedade brasileira, promovendo o acesso à terra e à educação.

Rui Barbosa (1849–1923)
Papel: Jurista, político, abolicionista e um dos principais intelectuais da República Velha. Foi um dos autores da Constituição de 1891. Contribuição: Defensor fervoroso das liberdades civis, Barbosa foi uma voz forte contra a escravidão e trabalhou em prol da separação entre Igreja e Estado e do federalismo.

Dom Pedro I (1798–1834)
Papel: Primeiro imperador do Brasil e maçom. Ele foi iniciado na maçonaria em 1822 e participou ativamente das lojas maçônicas que apoiavam a independência do Brasil. Contribuição: Dom Pedro I declarou a independência do Brasil em 1822, com o famoso "Grito do Ipiranga", e estabeleceu a primeira Constituição em 1824, inspirada por ideias liberais que circulavam entre os maçons da época.

Duque de Caxias (1803–1880)
Papel: Marechal e patrono do Exército Brasileiro, Duque de Caxias foi também maçom.mContribuição: Ele teve um papel importante na defesa da integridade territorial do Brasil durante as diversas rebeliões internas e participou na Guerra do Paraguai, promovendo a estabilidade durante o Segundo Reinado.

Visconde de Mauá (Irineu Evangelista de Sousa) (1813–1889)
Papel: Empresário e político brasileiro, o Visconde de Mauá foi um dos maiores pioneiros da industrialização no Brasil e também maçom. Contribuição: Mauá promoveu a modernização do Brasil com investimentos em ferrovias, navegação e outros empreendimentos industriais, buscando transformar o Brasil em um país mais desenvolvido economicamente.

Bento Gonçalves da Silva (1788–1847)Papel: Líder da Revolução Farroupilha (1835–1845), Bento Gonçalves foi maçom e um dos principais nomes da luta republicana no sul do Brasil. Contribuição: Ele liderou o movimento republicano e separatista no Rio Grande do Sul, buscando maior autonomia para a província, o que acabou se tornando uma importante guerra civil.

8. Francisco Gê Acaiaba de Montezuma (Visconde de Jequitinhonha) (1794–1870)Papel: Advogado, político, diplomata e maçom, o Visconde de Jequitinhonha foi um dos principais defensores do liberalismo e da abolição da escravatura. Contribuição: Montezuma esteve envolvido na formulação de importantes reformas políticas e sociais no Brasil Imperial, promovendo ideias de igualdade jurídica e combate à escravidão.

D. Pedro II (1825–1891)
Papel: Segundo imperador do Brasil, D. Pedro II manteve uma relação ambígua com a maçonaria, mas sua política liberal e abolicionista foi apoiada por muitos maçons. Contribuição: D. Pedro II foi um monarca progressista, apoiando a abolição da escravatura e incentivando a educação, a ciência e a cultura, contribuindo para a modernização do Brasil.

Joaquim Gonçalves Ledo (1781–1847)
Papel: Jornalista, político e maçom, Gonçalves Ledo foi um dos principais articuladores da independência do Brasil. Contribuição: Sua atuação nas lojas maçônicas ajudou a impulsionar o movimento de independência, e ele foi um dos responsáveis por redigir documentos fundamentais para a separação do Brasil de Portugal.

Luís Alves de Lima e Silva (Barão de Mauá) (1803–1880)Papel: O Barão de Mauá foi um grande empresário, político e também um maçom ativo. Contribuição: Ele foi um defensor da industrialização e do desenvolvimento econômico do Brasil, atuando em setores estratégicos como transporte, finanças e infraestrutura.

José Clemente Pereira (1787–1854)Papel: Político e maçom, foi um dos líderes da Revolução do Porto no Brasil. Contribuição: Ele contribuiu para a proclamação da Independência do Brasil e atuou em favor da criação de instituições democráticas e modernas.

Manuel Deodoro da Fonseca (1827–1892)Papel: Marechal do Exército Brasileiro e líder do movimento que proclamou a República em 1889, Deodoro era maçom. Contribuição: Foi o primeiro presidente do Brasil, instaurando o regime republicano e abrindo caminho para a modernização do Estado brasileiro.

Não foram membros da maçonaria

No Brasil do século XIX, apesar de muitos líderes políticos e intelectuais importantes terem sido maçons, houve também figuras proeminentes que não foram membros da maçonaria. Notadamente:

Dom João VI (1767–1826)
Papel: Rei de Portugal e, posteriormente, rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Foi o monarca que transferiu a corte portuguesa para o Brasil em 1808, estabelecendo o Rio de Janeiro como a capital do Império Português. Contribuição: Dom João VI teve um papel central na modernização do Brasil, incentivando o desenvolvimento econômico e cultural durante sua estadia no país. Embora tenha governado em um período de tensões entre a Igreja e a maçonaria, ele não foi associado a movimentos maçônicos.

Princesa Isabel (1846–1921)
Papel: Regente do Brasil em diversas ocasiões e responsável pela assinatura da Lei Áurea (1888), que pôs fim à escravidão no país. Contribuição: Isabel foi uma católica devota e não teve ligação com a maçonaria. Sua atuação política foi marcada pelo apoio à causa abolicionista, mas sempre dentro de uma ótica cristã, em sintonia com a Igreja Católica.

Fonte: “A Maçonaria no Brasil” - Lúcio Costa.