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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Capitalismo Moderno (a força dos judeus)- Livro-Werner Sombart

É uma das obras fundamentais para entender a evolução histórica e social do capitalismo. Publicado em três volumes entre 1902 e 1927, o livro oferece uma análise detalhada sobre a gênese, desenvolvimento e transformações do sistema capitalista na Europa. Diferente de Max Weber, que focou na ética protestante como força motriz do capitalismo, Sombart abordou uma variedade de fatores, como o papel dos judeus, a expansão do comércio e o desejo de lucro, bem como o desenvolvimento das técnicas e organizações econômicas. Ele procurou entender o capitalismo como um fenômeno histórico concreto, influenciado por processos sociais, culturais e econômicos complexos.

Definição e Características do Capitalismo

Sombart define o capitalismo como um sistema econômico caracterizado pela busca contínua de lucro e pelo crescimento incessante do capital. Para ele, essa busca é o traço distintivo do capitalismo moderno. Ao contrário das economias anteriores, o capitalismo não visa apenas atender às necessidades básicas, mas acumular riquezas de forma ilimitada. Ele identifica uma série de traços que definem o capitalismo, como o desenvolvimento de instituições bancárias e financeiras, o uso de técnicas avançadas de contabilidade e a organização racional do trabalho e da produção, que permitem uma produção mais eficiente e o aumento dos lucros.

Sombart destaca que o capitalismo moderno possui uma lógica de "despersonalização" e "racionalização" das relações econômicas, o que significa que as transações não são mais pessoais e baseadas em confiança, mas sim em contratos formais e procedimentos calculados, que visam maximizar a eficiência econômica. Assim, o capitalismo é um sistema de organização econômica que difere radicalmente das economias tradicionais, mais centradas em subsistência e relações pessoais.

Origens do Capitalismo

Segundo Sombart, o capitalismo moderno não surgiu de repente, mas foi o resultado de um longo processo histórico, com raízes na Idade Média europeia. Ele enfatiza que o capitalismo mercantil, que começou a se desenvolver no final do período medieval, foi uma fase preparatória do capitalismo moderno. Durante esse período, houve um aumento no comércio e no intercâmbio de mercadorias, impulsionado pelas rotas comerciais que conectavam a Europa ao Oriente. As cidades italianas, como Veneza e Gênova, desempenharam um papel central nesse processo, ajudando a expandir o comércio e a introduzir práticas mercantis e financeiras avançadas.

Entre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento do capitalismo, Sombart destaca a emergência de novas técnicas contábeis, como a contabilidade em partida dupla, que permitiu uma melhor gestão dos lucros e custos. Ele também menciona o papel da tecnologia, como a imprensa, que facilitou a disseminação do conhecimento e das ideias econômicas. A evolução do sistema de crédito e das instituições bancárias foi igualmente fundamental para o desenvolvimento do capitalismo, permitindo o financiamento de empreendimentos comerciais e industriais de grande escala.

1492, o começo de tudo

Werner Sombart identificou uma data importante para o desenvolvimento do capitalismo: o ano de 1492. Esse ano é simbólico na obra de Sombart, pois marca o fim da Idade Média e o início de uma nova era, que ele vê como o prenúncio do capitalismo moderno. Em 1492, ocorreram eventos cruciais que impactaram profundamente a economia e a sociedade europeia e que, segundo Sombart, catalisaram o desenvolvimento do capitalismo pois  impulsionaram a expansão comercial, a acumulação de capital e a racionalização econômica:

A Expulsão dos Judeus da Espanha: Com a expulsão dos judeus dos reinos espanhóis, muitos deles se mudaram para outras regiões da Europa, levando consigo conhecimentos financeiros, comerciais e de crédito. Sombart argumenta que isso contribuiu para a disseminação de práticas capitalistas e para o desenvolvimento das finanças e do comércio na Europa.
A Conquista de Granada: Essa conquista consolidou o poder da monarquia espanhola e o processo de centralização de Estados europeus, o que favoreceu o surgimento de uma economia mais organizada e interligada.
A Descoberta das Américas: A chegada de Cristóvão Colombo ao Novo Mundo abriu novas rotas comerciais e mercados, e trouxe uma vasta quantidade de metais preciosos, especialmente ouro e prata, para a Europa. Sombart acreditava que esse fluxo de riqueza foi essencial para o crescimento do capitalismo mercantil e, mais tarde, do capitalismo industrial.

A Influência do Judaísmo no Capitalismo

Um dos aspectos mais controversos do livro de Sombart é sua análise da influência dos judeus no desenvolvimento do capitalismo. Sombart argumenta que, devido a circunstâncias históricas, os judeus desenvolveram habilidades comerciais e financeiras que os colocaram em posição de destaque na economia capitalista emergente. Ele argumenta que, ao serem excluídos de várias atividades e territórios na Europa medieval, os judeus foram forçados a se especializar em ocupações como o comércio e o empréstimo de dinheiro, o que os tornou agentes importantes no surgimento do capitalismo mercantil.

Em suas análises, Sombart atribuiu um papel exagerado à comunidade judaica, colocando-a como um fator central no desenvolvimento do capitalismo e, em algumas passagens, sugeriu uma conexão entre características culturais dos judeus e o espírito do capitalismo. Essa visão foi questionada e rejeitada por vários estudiosos contemporâneos e posteriores.

As Transformações do Capitalismo

Sombart divide o capitalismo em diferentes estágios: o capitalismo primitivo, o capitalismo mercantil e o capitalismo moderno (ou industrial). Ele observa que cada estágio teve suas próprias características e influências sobre a sociedade e a economia. O capitalismo mercantil, segundo ele, foi impulsionado principalmente pelo comércio de longo alcance, enquanto o capitalismo moderno é caracterizado pela produção em massa, pelo uso de máquinas e pela racionalização do trabalho.

Com o avanço do capitalismo moderno, ele identifica uma série de mudanças profundas na sociedade, como a urbanização, a crescente divisão do trabalho e a ascensão de uma nova classe social: a burguesia industrial. Essa classe se tornou a principal beneficiária do sistema capitalista, acumulando riqueza e poder político. Ao mesmo tempo, o capitalismo moderno trouxe consigo uma nova divisão entre capitalistas e trabalhadores, gerando conflitos sociais que Sombart explora em profundidade.

Ele descreve o desenvolvimento de uma "mentalidade capitalista", caracterizada por valores como individualismo, racionalidade e pragmatismo. Essa mentalidade permeia todas as esferas da vida, desde a economia até a cultura, transformando a maneira como as pessoas veem o mundo e suas relações umas com as outras. Sombart sugere que o capitalismo moderno é mais que um sistema econômico – é um fenômeno cultural e social que redefine os valores e as normas da sociedade.

Racionalização e Burocracia

Um ponto importante da análise de Sombart é a ênfase na racionalização e na burocracia como forças estruturantes do capitalismo moderno. Ele argumenta que, para maximizar a eficiência e os lucros, o capitalismo moderno se organiza de maneira racional, criando sistemas burocráticos e hierarquias rigorosas nas empresas e instituições. A racionalização do trabalho é outro aspecto essencial, com o desenvolvimento de técnicas de produção em massa, padronização de produtos e divisão do trabalho.

Para Sombart, essa racionalização é ao mesmo tempo uma vantagem e uma desvantagem do capitalismo. Por um lado, aumenta a eficiência econômica e permite a produção em grande escala. Por outro lado, desumaniza o trabalho, transformando os trabalhadores em "engrenagens" de uma máquina maior, alienados do processo produtivo e de seus resultados. Isso gera um afastamento entre o trabalhador e o produto de seu trabalho, o que contribui para os conflitos sociais.

A Crítica ao Capitalismo e o Futuro da Sociedade

Embora Sombart fosse um defensor do estudo científico do capitalismo, ele também era crítico em relação às suas consequências sociais. Ele apontava que o capitalismo moderno, com seu foco incessante no lucro, gerava desigualdades sociais e explorava a classe trabalhadora. Em várias passagens de sua obra, Sombart demonstra preocupação com o impacto do capitalismo sobre a moralidade e a ética da sociedade. Ele sugere que o capitalismo pode corroer os valores humanos ao substituir o ideal de bem-estar coletivo pelo individualismo econômico.

Sombart chegou a questionar se o capitalismo poderia continuar a se expandir indefinidamente, levantando a possibilidade de que o sistema enfrentaria crises internas ou resistências sociais que levariam a mudanças estruturais. Em suas reflexões finais, ele prevê um futuro em que a sociedade precisaria encontrar novas formas de organização econômica e social, que levassem mais em conta o bem-estar geral da população, sem sacrificar as conquistas técnicas e produtivas.