A supressão do título mariano "Corredentora": Ecumenismo e a ruptura com o Magistério Perene
Este texto apresenta uma análise crítica do documento Mater Populi Fidelis, focando na supressão do título mariano "Corredentora". A perspectiva adotada reflete uma visão católica tradicional que denuncia o que considera mais um passo no desmantelamento da doutrina, um sintoma de uma crise mais profunda onde a substância da fé é alterada sob o pretexto de adaptação pastoral (Amerio, 2011).
🏛️O Banimento Burocrático de um Título Venerável
O ponto central da crítica é a decisão do Dicastério para a Doutrina da Fé de banir o título mariano "Corredentora" (Co-Redemptrix) do vocabulário católico. Esta ação é descrita como sendo executada com "fria precisão burocrática", especificamente no parágrafo 22 do documento, que classifica o título como “inapropriado” sob o pretexto de que este “arrisca obscurecer a mediação salvífica única de Cristo”. Este argumento não é novo; é o mesmo refrão de "evitar confusão" e de "razões ecuménicas" que, nas últimas décadas, tem servido para esvaziar a doutrina católica. A crítica contrapõe esta decisão a mais de cinco séculos de tradição, durante os quais a Igreja glorificou Maria como Corredentora, não como uma rival de Cristo, mas como a Sua "companheira escolhida no sofrimento". Este título, argumenta-se, surgiu organicamente da meditação da Igreja sobre a figura da "Nova Eva ao lado do Novo Adão". Esta verdade, afirma-se, "está escrita no sangue e nas lágrimas do Calvário, não nas atas dos comités pós-conciliares".
⚖️A Falsa Lógica e o Pretexto do Falso Ecumenismo
A lógica apresentada no documento, que sugere que qualquer expressão que exija "numerosas e contínuas explicações" deve ser descartada por "não servir à fé do Povo de Deus", é diretamente atacada. Se tal princípio fosse aplicado consistentemente, teríamos que descartar os mistérios centrais da fé, como a Santíssima Trindade, a Encarnação ou a Eucaristia, que também exigem explicações profundas para não "confundir" os fiéis.
O verdadeiro motivo por trás desta proibição parece ser a "diplomacia ecuménica", mal disfarçada. O título de Corredentora é suprimido para não dificultar o diálogo com os protestantes. Esta atitude é vista como uma traição, característica de um novo ecumenismo que prefere negociar as verdades da Fé em vez de proclamá-las (Amerio, 2011, p. 445). A crítica é feroz: a Virgem Santíssima não precisa que os teólogos modernos a salvem de "exageros"; ela precisa do seu lugar de direito ao pé da Cruz. Ao recusar-lhe o título, o documento recusa o próprio mistério da sua participação, reduzindo a "Rainha dos Mártires" a uma mera espectadora ou "discípula". Isto, por sua vez, diminui a majestade do sacrifício de Cristo, que foi "tão perfeito que a atraiu para o seu próprio coração".
📖A Defesa Teológica e Histórica da Doutrina da Corredenção
A doutrina da Corredenção é defendida como uma verdade profundamente católica. Negá-la não é apenas um erro teológico, mas "obscurecer o padrão divino da própria salvação". A defesa esclarece um ponto semântico crucial: o prefixo "co-" em latim significa "com", e não "igual a". Portanto, Co-Redemptrix significa que Maria cooperou com o seu Filho de forma "subordinada, dependente", mas profundamente real. A base desta doutrina é rastreada desde as Sagradas Escrituras, começando pelo Protoevangelho em Génesis (3:15), prenunciando a Nova Eva unida ao Novo Adão.
Esta verdade é reforçada por um século de ensinamentos papais contínuos, demonstrando uma continuidade que agora é rompida: Pio IX (Ineffabilis Deus), que a apresenta unida a Cristo; Leão XIII, que descreve como ela "ofereceu generosamente o seu próprio Filho"; São Pio X, que a chama de "Reparadora do mundo perdido"; Bento XV, que afirma que ela "com Cristo redimiu a raça humana"; Pio XI, que explicitamente a invoca como "Corredentora"; e Pio XII, que a identifica como a "nobre associada do divino Redentor". O próprio Santo Ofício usou oficialmente o termo em 1913, provando que não se trata de uma opinião teológica privada, mas de uma doutrina sancionada pela autoridade da Igreja. Rejeitá-la é, portanto, uma "rutura com a continuidade da Fé", uma variação substancial que altera a essência da doutrina mariana em nome de uma sensibilidade moderna (Amerio, 2011, p. 8).
📚Referências
Amerio, R. (2011). Iota Unum: Estudio sobre las transformaciones en la Iglesia en el siglo XX. Versión corregida.