04 nov
S. Carlos Borromeu, bispo e confessor


🕊️São Carlos Borromeu (m. 1584), sobrinho do Papa Pio IV, foi nomeado cardeal e arcebispo de Milão com apenas 22 anos. Em vez de se entregar ao luxo, tornou-se um modelo de pastor e reformador. Foi uma figura central na conclusão do Concílio de Trento, dedicando sua vida a aplicar seus decretos para renovar a Igreja. Em Milão, fundou seminários para a correta formação do clero, promoveu a educação dos leigos com a criação de escolas e insistiu na dignidade da liturgia. Durante a peste de 1576, enquanto as autoridades civis fugiam, ele permaneceu na cidade, cuidando pessoalmente dos doentes, distribuindo sua fortuna aos pobres e organizando socorro espiritual e material. Sua vida foi marcada por uma austeridade rigorosa, intensa oração e um zelo incansável pela salvação das almas, morrendo aos 46 anos, esgotado por seu trabalho apostólico.

📜Epístola (Eclo 44, 16-27; 45, 3-20)

🙏Eis o grande sacerdote que nos dias de sua vida agradou a Deus e foi considerado Justo; no tempo da ira, tornou-se a reconciliação dos homens. Ninguém o igualou na observância das leis do Altíssimo. Por isso o Senhor jurou que o havia de glorificar em sua descendência. Abençoou nele todas as nações e confirmou sua aliança sobre a sua cabeça. Distinguiu-o com as suas bênçãos; conservou-lhe a sua misericórdia e ele achou graça diante do Senhor. Enalteceu-o diante dos reis e deu-lhe uma coroa de glória. Fez com ele uma aliança eterna; deu-lhe o sumo sacerdócio, e encheu-o de felicidade na glória, para exercer o sacerdócio, cantar louvores a seu Nome e oferecer-Lhe dignamente incenso de agradável odor.

📖Evangelho (Mt 25, 14-23)

✨Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta parábola: Um homem, indo viajar para longe, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, e ao terceiro um, a cada qual segundo a sua capacidade. E partiu logo depois. Aquele que havia recebido os cinco talentos, foi-se e negociou com eles, e lucrou outros cinco. Da mesma sorte, o que recebera os dois talentos ganhou também outros dois. Mas o que havia recebido um só, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor. Passado muito tempo, voltou o senhor desses servos, e chamou-os a contas. Aproximando-se o que tinha recebido cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo-lhe: Senhor, vós me entregastes cinco talentos; eis outros cinco mais que lucrei. Disse-lhe o seu senhor. Muito bem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, sobre muito te porei; entra na alegria de teu senhor. Apresentou-se também o que recebera os dois talentos e disse: Senhor, vós me entregastes dois talentos; eis aqui outros dois mais que eu ganhei. Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, sobre muito te porei; entra na alegria de teu Senhor.

✝️Reflexões

🎁O Evangelho de hoje, com a Parábola dos Talentos, convida-nos a uma profunda meditação sobre a nossa responsabilidade perante os dons de Deus. Os "talentos" não são meramente habilidades naturais ou bens materiais, mas representam a totalidade das graças que recebemos: a fé, os sacramentos, a inteligência, a vocação e o próprio tempo. São Gregório Magno ensina que "a ninguém Deus nega a sua graça para o bem operar; e cada um recebe tantos dons quantos pode pôr a render" (Homilia 9 sobre os Evangelhos). O Senhor distribui os dons "a cada qual segundo a sua capacidade", não para criar desigualdade, mas para que cada um, em sua posição, contribua para a edificação do Reino. A parábola é, portanto, um chamado universal à fecundidade espiritual; não se trata de quanto recebemos, mas do que fazemos com o que nos foi confiado. Enterrar o talento é a tragédia da esterilidade voluntária, nascida do medo e da preguiça, que se recusa a corresponder ao amor de Deus.

⛪A figura do "grande sacerdote" descrita na Epístola do Livro do Eclesiástico encontra sua personificação exemplar em São Carlos Borromeu. Ele é o servo que recebeu "cinco talentos" — nobreza, inteligência, autoridade eclesiástica, riqueza — e não os escondeu. Pelo contrário, negociou com eles, multiplicando-os em frutos de santidade para toda a Igreja. Ele compreendeu que a autoridade é serviço, e a riqueza, um meio para a caridade. Ao aplicar zelosamente as reformas do Concílio de Trento, ele "agradou a Deus" e se tornou, "no tempo da ira" da crise protestante, "a reconciliação dos homens", reconduzindo-os à fé e à disciplina. O Catecismo da Igreja Católica nos lembra que toda vocação é um dom para ser colocado a serviço da comunidade (CIC 873). São Carlos Borromeu não apenas governou, mas santificou seu rebanho, oferecendo a Deus o "incenso de agradável odor" de uma vida inteiramente doada, provando que a fidelidade "no pouco" — a administração diária de sua diocese — o preparou para ser posto "sobre muito" na glória celeste.

⚖️A resposta do senhor ao servo fiel — "Muito bem, servo bom e fiel... entra na alegria de teu senhor" — revela o propósito último da nossa existência: a comunhão com Deus. Santo Agostinho explica que a alegria do céu não é uma recompensa externa, mas a participação na própria alegria de Deus: "Não entrará a tua alegria em ti, mas tu todo inteiro entrarás na alegria do teu Senhor" (Confissões, Livro I). Esta alegria é o fruto do amor que se arrisca, que investe, que trabalha para a glória do Doador de todos os dons. O medo paralisante do servo inútil, que escondeu seu talento, é o oposto da fé operante pela caridade (Gal 5,6). Ele temeu o senhor, mas não o amou; por isso, foi incapaz de agir. A lição para nós é clara: a vida cristã não é uma passiva conservação da fé, mas uma dinâmica e corajosa cooperação com a graça, para que, no dia do juízo, possamos apresentar ao Senhor não apenas os dons que Ele nos deu, mas os frutos que, com a Sua ajuda, produzimos.