🕊️São Carlos
Borromeu (m. 1584), sobrinho do Papa Pio IV, foi nomeado cardeal e arcebispo de
Milão com apenas 22 anos. Em vez de se entregar ao luxo, tornou-se um modelo de
pastor e reformador. Foi uma figura central na conclusão do Concílio de Trento,
dedicando sua vida a aplicar seus decretos para renovar a Igreja. Em Milão,
fundou seminários para a correta formação do clero, promoveu a educação dos
leigos com a criação de escolas e insistiu na dignidade da liturgia. Durante a
peste de 1576, enquanto as autoridades civis fugiam, ele permaneceu na cidade,
cuidando pessoalmente dos doentes, distribuindo sua fortuna aos pobres e
organizando socorro espiritual e material. Sua vida foi marcada por uma
austeridade rigorosa, intensa oração e um zelo incansável pela salvação das
almas, morrendo aos 46 anos, esgotado por seu trabalho apostólico.
📜Epístola
(Eclo 44, 16-27; 45, 3-20)
🙏Eis o grande sacerdote que nos dias de
sua vida agradou a Deus e foi considerado Justo; no tempo da ira, tornou-se a
reconciliação dos homens. Ninguém o igualou na observância das leis do
Altíssimo. Por isso o Senhor jurou que o havia de glorificar em sua
descendência. Abençoou nele todas as nações e confirmou sua aliança sobre a sua
cabeça. Distinguiu-o com as suas bênçãos; conservou-lhe a sua misericórdia e ele
achou graça diante do Senhor. Enalteceu-o diante dos reis e deu-lhe uma coroa de
glória. Fez com ele uma aliança eterna; deu-lhe o sumo sacerdócio, e encheu-o de
felicidade na glória, para exercer o sacerdócio, cantar louvores a seu Nome e
oferecer-Lhe dignamente incenso de agradável odor.
📖Evangelho (Mt
25, 14-23)
✨Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta
parábola: Um homem, indo viajar para longe, chamou os seus servos e
entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, e ao terceiro
um, a cada qual segundo a sua capacidade. E partiu logo depois. Aquele que havia
recebido os cinco talentos, foi-se e negociou com eles, e lucrou outros cinco.
Da mesma sorte, o que recebera os dois talentos ganhou também outros dois. Mas o
que havia recebido um só, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor.
Passado muito tempo, voltou o senhor desses servos, e chamou-os a contas.
Aproximando-se o que tinha recebido cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco,
dizendo-lhe: Senhor, vós me entregastes cinco talentos; eis outros cinco mais
que lucrei. Disse-lhe o seu senhor. Muito bem, servo bom e fiel, porque foste
fiel no pouco, sobre muito te porei; entra na alegria de teu senhor.
Apresentou-se também o que recebera os dois talentos e disse: Senhor, vós me
entregastes dois talentos; eis aqui outros dois mais que eu ganhei. Disse-lhe o
seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, sobre muito
te porei; entra na alegria de teu Senhor.
✝️Reflexões
🎁O
Evangelho de hoje, com a Parábola dos Talentos, convida-nos a uma profunda
meditação sobre a nossa responsabilidade perante os dons de Deus. Os "talentos"
não são meramente habilidades naturais ou bens materiais, mas representam a
totalidade das graças que recebemos: a fé, os sacramentos, a inteligência, a
vocação e o próprio tempo. São Gregório Magno ensina que "a ninguém Deus nega a
sua graça para o bem operar; e cada um recebe tantos dons quantos pode pôr a
render" (Homilia 9 sobre os Evangelhos). O Senhor distribui os dons "a cada qual
segundo a sua capacidade", não para criar desigualdade, mas para que cada um, em
sua posição, contribua para a edificação do Reino. A parábola é, portanto, um
chamado universal à fecundidade espiritual; não se trata de quanto recebemos,
mas do que fazemos com o que nos foi confiado. Enterrar o talento é a tragédia
da esterilidade voluntária, nascida do medo e da preguiça, que se recusa a
corresponder ao amor de Deus.
⛪A figura do "grande sacerdote"
descrita na Epístola do Livro do Eclesiástico encontra sua personificação
exemplar em São Carlos Borromeu. Ele é o servo que recebeu "cinco talentos" —
nobreza, inteligência, autoridade eclesiástica, riqueza — e não os escondeu.
Pelo contrário, negociou com eles, multiplicando-os em frutos de santidade para
toda a Igreja. Ele compreendeu que a autoridade é serviço, e a riqueza, um meio
para a caridade. Ao aplicar zelosamente as reformas do Concílio de Trento, ele
"agradou a Deus" e se tornou, "no tempo da ira" da crise protestante, "a
reconciliação dos homens", reconduzindo-os à fé e à disciplina. O Catecismo da
Igreja Católica nos lembra que toda vocação é um dom para ser colocado a serviço
da comunidade (CIC 873). São Carlos Borromeu não apenas governou, mas santificou
seu rebanho, oferecendo a Deus o "incenso de agradável odor" de uma vida
inteiramente doada, provando que a fidelidade "no pouco" — a administração
diária de sua diocese — o preparou para ser posto "sobre muito" na glória
celeste.
⚖️A resposta do senhor ao servo fiel — "Muito bem, servo bom
e fiel... entra na alegria de teu senhor" — revela o propósito último da nossa
existência: a comunhão com Deus. Santo Agostinho explica que a alegria do céu
não é uma recompensa externa, mas a participação na própria alegria de Deus:
"Não entrará a tua alegria em ti, mas tu todo inteiro entrarás na alegria do teu
Senhor" (Confissões, Livro I). Esta alegria é o fruto do amor que se arrisca,
que investe, que trabalha para a glória do Doador de todos os dons. O medo
paralisante do servo inútil, que escondeu seu talento, é o oposto da fé operante
pela caridade (Gal 5,6). Ele temeu o senhor, mas não o amou; por isso, foi
incapaz de agir. A lição para nós é clara: a vida cristã não é uma passiva
conservação da fé, mas uma dinâmica e corajosa cooperação com a graça, para que,
no dia do juízo, possamos apresentar ao Senhor não apenas os dons que Ele nos
deu, mas os frutos que, com a Sua ajuda, produzimos.