O livro "Obra de Mãos Humanas: Uma Crítica Teológica à Missa de Paulo VI", escrito pelo Padre Anthony Cekada, é uma análise detalhada e crítica do Novus Ordo Missae, a liturgia introduzida após o Concílio Vaticano II em 1969. Cekada, um sacerdote sedevacantista e tradicionalista, defende que a Missa de Paulo VI é uma construção humana que rompe com a tradição católica, compromete a doutrina tradicional e enfraquece a fé dos fiéis. Sua tese central repousa em dois pilares: o novo rito destrói a doutrina católica nas mentes dos fiéis, especialmente em relação ao Santo Sacrifício da Missa, ao sacerdócio e à Presença Real de Cristo na Eucaristia, e permite ou prescreve irreverência grave, contrastando com a dignidade e sacralidade da Missa Tridentina, codificada por São Pio V. O autor estrutura sua argumentação em uma abordagem teológica, histórica e litúrgica, examinando desde a origem da reforma até seus efeitos práticos, com o objetivo de demonstrar que o Novus Ordo representa uma ruptura deliberada com a fé apostólica.
Cekada inicia contextualizando historicamente a reforma litúrgica, detalhando as mudanças graduais na liturgia de 1948 a 1969, que culminaram na criação do Novus Ordo Missae. Ele aponta influências de teólogos modernistas e um desejo de ecumenismo, especialmente com denominações protestantes, destacando o papel de Annibale Bugnini, principal arquiteto da reforma, como responsável por alterações que diluíram o caráter sacrificial da Missa. Na análise da Instrução Geral sobre o Missal Romano (GIRM) de 1969 e sua revisão em 1970, o autor identifica uma mudança teológica significativa, em que a Missa passa a ser apresentada como uma "assembleia" ou "ceia" comunitária, em detrimento de sua essência como sacrifício propiciatório, um elemento central na tradição católica.
Entre as mudanças litúrgicas, Cekada detalha a supressão ou alteração de orações tradicionais, como o Ofertório e partes do Cânon Romano, que expressavam claramente a doutrina do sacrifício e da Presença Real, sendo substituídas por textos mais ambíguos nas novas orações eucarísticas. Ele examina minuciosamente a estrutura da Missa, abordando modificações em cada parte — Ritos Introdutórios, Liturgia da Palavra, Preparação dos Dons, Oração Eucarística e Ritos de Comunhão —, argumentando que essas mudanças refletem uma teologia protestantizada, que reduz o papel do sacerdote como mediador e obscurece a distinção entre o sacerdócio ordenado e o laicato. Além disso, a flexibilidade do novo rito, com opções litúrgicas e a orientação do sacerdote "versus populum", é vista como um fator que promove abusos e irreverências.
A questão linguística também recebe atenção especial, com Cekada discutindo a transição do latim para as línguas vernáculas. Ele aponta problemas doutrinais decorrentes dessa mudança, como erros de tradução que, segundo ele, comprometem a precisão teológica e a uniformidade da liturgia, afastando-a de sua raiz tradicional. Nos aspectos físicos, o autor aborda alterações na arte, arquitetura e mobiliário litúrgico, como a substituição de altares por mesas e a reconfiguração das igrejas, que reforçam a nova concepção da Missa como uma assembleia, em vez de um ato sacrificial.
As críticas principais de Cekada são contundentes: ele argumenta que houve uma ruptura clara com a tradição católica, questiona a autenticidade da suposta "restauração" de práticas antigas alegada pelos reformadores, alega que as mudanças promovem irreverência e afirma que o Novus Ordo destrói a doutrina católica tradicional, especialmente no que diz respeito à Eucaristia como sacrifício e à Presença Real. Para o autor, o impacto doutrinário é agravado pela ênfase na participação dos leigos, que dilui a hierarquia eclesiástica, e pela ambiguidade teológica que abre espaço para interpretações modernistas.
Em sua conclusão, Cekada defende que a Missa de Paulo VI não é uma mera reforma mal concebida, mas uma construção deliberada para agradar sensibilidades modernas e ecumênicas, em detrimento da verdade católica. Ele exorta os católicos tradicionalistas a rejeitar o Novus Ordo e aderir exclusivamente à Missa Tridentina, que, em sua visão, preserva intacta a fé da Igreja. Escrito em um tom acadêmico, mas acessível, e densamente documentado em suas 527 páginas na edição portuguesa, o livro é direcionado especialmente a tradicionalistas e sedevacantistas, sendo elogiado por figuras como Dom Donald Sanborn, embora permaneça controverso entre os católicos que aceitam a legitimidade da liturgia pós-conciliar.