O propósito do presente texto não é meramente refutar tais apologistas — tarefa já realizada pelo autor do artigo original —, mas analisar teologicamente a natureza desses argumentos à luz dos princípios imutáveis da liturgia e da fé católica. Os argumentos apresentados pelos defensores do ocorrido, embora diversos na forma, convergem para um mesmo erro fundamental: a negação da natureza objetiva do culto e a sua substituição por um subjetivismo de índole modernista.
1. A Negação da Natureza Objetiva dos Símbolos e Atos Rituais
A tentativa de justificar a imagem como "apenas um logotipo" ou uma "exibição da cultura local" ignora um princípio basilar da teologia sacramental e litúrgica: na liturgia, toda palavra e todo gesto transmite uma ideia teológica (Cekada, 2010, p. 26). Um ato ritual público não é um evento sociológico neutro cujo significado é determinado pela proveniência dos seus artefatos ou pela intenção declarada dos seus organizadores. Ele possui um significado objetivo, expresso pelos símbolos e gestos empregados.
A prostração diante de uma imagem que representa uma divindade pagã da fertilidade é, objetivamente, um ato de veneração idolátrica. Argumentar que o objeto era apenas um "símbolo da vida" ou uma representação artística é aplicar a mesma lógica que permitiu a dessacralização sistemática do rito da Missa, onde elementos com profundo significado teológico foram substituídos ou esvaziados sob o pretexto de uma nova "compreensão pastoral" (Cekada, 2010, p. 51-54). A Igreja sempre compreendeu a gravidade de introduzir elementos ambíguos ou pagãos no culto, pois eles corrompem a fé dos simples e constituem uma ofensa a Deus. A alegação de que a intenção subjetiva dos participantes — supostamente católicos — anula a objetividade do ato é uma inversão completa da ordem tradicional, onde o rito forma a crença e a intenção, e não o contrário.
2. O Falso Ecumenismo e o Sincretismo
A defesa de que a cerimônia era legítima porque os participantes eram "católicos" é teologicamente ingênua e perigosa. A história de Israel, o povo eleito, é repleta de episódios de idolatria. O batismo não confere imunidade ao pecado, especialmente ao pecado contra o Primeiro Mandamento.
Este evento, contudo, é a consequência lógica de um falso ecumenismo que busca a unidade não na conversão à verdade, mas na diluição da própria verdade. A reforma litúrgica pós-Vaticano II foi marcada pela sistemática remoção de orações e conceitos que eram ofensivos aos hereges, como a noção de sacrifício propiciatório, os méritos dos santos ou a unicidade da Igreja Católica (Cekada, 2010, p. 299-301). O ritual da Pachamama apenas estende este princípio dos hereges para os pagãos. A "inculturação" torna-se um pretexto para o sincretismo, onde elementos de religiões falsas são introduzidos no espaço sagrado católico, criando uma abominação que a Escritura condena. A noção de que se pode "curvar-se perto" de um ídolo enquanto se pensa em Jesus é uma forma de gnosticismo que separa o ato exterior do seu significado intrínseco, algo que a Igreja sempre combateu.
3. A Primazia da Autoridade sobre a Verdade
A conclusão do artigo original aponta para o erro subjacente que anima toda esta nova apologética: o positivismo jurídico. Este sistema sustenta que um ato é bom e legítimo simplesmente porque emana da autoridade, independentemente de seu conteúdo doutrinário ou moral. A fé católica, no entanto, ensina que a autoridade existe para servir e guardar a verdade revelada, e não para criá-la ou contradizê-la.
Quando um ato ritual contradiz publicamente a fé da Igreja, a resposta católica não pode ser "cale a boca e obedeça". A fé exige que se compare tal ato com o depósito da fé imutável. Os ritos e orações da Missa Nova, por exemplo, devem ser julgados não por quem os promulgou, mas pelo seu conteúdo e pela sua ruptura com a tradição (Cekada, 2010, p. 471-473). Da mesma forma, um ritual que incorpora símbolos e gestos pagãos nos Jardins do Vaticano deve ser julgado objetivamente como aquilo que ele é: um ato de grave irreverência e um escândalo para os fiéis, independentemente de quem o presidiu ou o aprovou.
As tentativas de negar a realidade do que foi visto em vídeo por milhões de pessoas representam a fase final desta inversão: a verdade não é mais o que é, mas o que a autoridade diz que é. Trata-se de uma violência contra a razão e a fé, exigindo que os fiéis neguem a evidência dos seus próprios olhos em nome de uma falsa obediência.
Referências
CEKADA, Anthony. Obra de Mãos Humanas: uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. 2. ed. West Chester: Philothea Press, 2010.
CEKADA, Anthony. Obra de Mãos Humanas: uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. 2. ed. West Chester: Philothea Press, 2010.