A Demolição Começou Antes do Vaticano II e o Missal de 1962 já é a revolução


Muitos católicos tradicionais, por ingenuidade ou falta de estudo, marcam o início da revolução litúrgica no Concílio Vaticano II ou na promulgação do Novus Ordo Missae em 1969. Este é um erro fatal. A demolição da liturgia romana não foi um acidente pós-conciliar; foi um projeto meticulosamente planejado, cuja primeira bomba-relógio foi armada e detonada muito antes, sob o pontificado de Pio XII. O detonador foi a reforma da Semana Santa de 1955, um evento que o próprio Paulo VI admitiria mais tarde ter sido o "primeiro passo da adaptação do Missal romano à mentalidade contemporânea" (Rioult, 2017, p. 2).

O arquiteto desta demolição não foi outro senão o Padre Annibale Bugnini, descrito como o "fossoyeur de la Messe" (coveiro da Missa) (Rioult, 2017, p. 2). Em 1948, com a criação da Comissão para a Reforma Litúrgica, Bugnini e seus cúmplices receberam a chave do cofre, trabalhando de forma tão secreta que chegaram a pegar "de surpresa os próprios membros da Congregação dos Ritos" (Rioult, 2017, p. 3). A estratégia era clara: não demolir o edifício de uma só vez, mas minar suas fundações, uma viga de cada vez, sob o pretexto de "restauração pastoral".

O primeiro golpe foi um balão de ensaio: a reforma experimental da Vigília Pascal em 1951. Apresentada como um retorno "às fontes primitivas", ela serviu para testar a resistência do clero. Vendo que poucos protestaram, os revolucionários avançaram para o ataque principal. Em 1955, o decreto Maxima redemptionis foi o golpe de aríete que, nas palavras de um de seus promotores, o Padre Carlo Braga, foi "um aríete que penetrou na fortaleza de nossa liturgia até então estática demais" (Rioult, 2017, p. 3).

Esta não foi uma "reforma", mas uma inversão de princípios. O Domingo de Ramos viu a liturgia, antes focada em Deus e na Cruz, ser reorientada para a assembleia, introduzindo uma bênção dos ramos virada para o povo (Rioult, 2017, p. 4). O rito da Sexta-feira Santa sofreu a primeira capitulação pública ao ecumenismo: a introdução de uma genuflexão na oração pela conversão dos judeus, um ato que, como observa Mgr. Sanborn, era a "primeira vez que a liturgia católica se dobrava às exigências ecumênicas de seus inimigos" (Sanborn, 2008, p. 45). A Vigília Pascal foi mutilada, suas antigas e ricas doze profecias foram dizimadas para apenas quatro (Rioult, 2017, p. 15), e novos ritos sentimentaloides, como a "renovação das promessas do batismo" – uma invenção ex nihilo – foram inseridos para agradar a mentalidade protestante (Carusi, 2016, p. 41).

Uma vez que se cede nos princípios, a queda é inevitável. Em 1959, João XXIII, dando seguimento à lógica da reforma, removeu oficialmente a palavra perfidis, provando que o "poço sem fundo" de alterações, temido pelo Santo Ofício em 1928, havia sido aberto (Sanborn, 2008, p. 45).

É aqui que reside a contradição fatal de muitos que hoje se dizem "tradicionais". Eles defendem o Missal de 1962 como o padrão-ouro da Tradição. Que cegueira! O Missal de 1962 não é o antídoto para a revolução; ele é a revolução codificada em lei. Ele contém em suas páginas todo o veneno da reforma de 1955. É um missal já comprometido, um monumento à vitória de Bugnini, que Mgr. Gromier não hesitou em qualificar de "monstro litúrgico" e "cúmulo do arbítrio" (Gromier, 1960, pp. 21, 27). Defender o Missal de 1962 é defender o princípio de que a liturgia pode ser alterada com base em um falso arqueologismo e para agradar os inimigos da Igreja.

O Novus Ordo de 1969 não surgiu do vácuo. Ele é o filho legítimo da Semana Santa de 1955. Como Don Carusi conclui, o objetivo da reforma de 1955 era "desestabilizar a liturgia romana" para marcar o "início de uma atitude deplorável segundo a qual, em matéria litúrgica, poder-se-ia fazer e desfazer segundo o bel-prazer dos especialistas" (Carusi, 2016, p. 43). Os princípios são os mesmos: um foco no homem em vez de em Deus, uma sensibilidade ecumênica que sacrifica a doutrina e um desprezo pela Tradição orgânica. Portanto, a posição católica coerente não pode ser a de aceitar o "primeiro passo" da revolução e rejeitar o último. É preciso rejeitar a premissa inteira.
 
Referências

Rioult, Olivier (2017). La Semaine Sainte Réformée sous Pie XII: Bref examen critique. In Recueil d'examens critiques, Éditions Saint Agobard, 2017.
Gromier, Léon (1960). Semaine Sainte Restaurée. Conferência em Paris, Julho de 1960. Transcrito em Recueil d'examens critiques, Éditions Saint Agobard, 2017.
Carusi, Stefano (2016). La Réforme de la Semaine Sainte dans les années 1951-1956. Artigo originalmente publicado em Disputationes Theologicae. Compilado em Recueil d'examens critiques, Éditions Saint Agobard, 2017.
Sanborn, Donald J. (2008). À genoux devant les Juifs. Comentário traduzido por Sodalitium. Compilado em Recueil d'examens critiques, Éditions Saint Agobard, 2017.