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O universalismo e o misericordismo de von Balthasar


No panorama da teologia do século XX, poucos nomes foram tão celebrados – e tão perigosamente influentes – quanto Hans Urs von Balthasar. Elevado por muitos como “um dos maiores teólogos católicos do século”, Balthasar ousou propor, com aparente piedade, aquilo que os Padres e Doutores da Igreja jamais ensinaram: que se pode razoavelmente esperar que ninguém vá para o inferno (Was dürfen wir hoffen?, 1986). Mas, como advertiu o próprio Cristo, “larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” (Mt 7,13). Ousaria Balthasar, portanto, esperar que Jesus tenha mentido?

A ideia central de Balthasar pode ser resumida assim: embora não possamos afirmar que todos se salvarão (o que seria heresia), podemos “ousar esperar” que talvez sim. Essa esperança, segundo ele, estaria em harmonia com a misericórdia de Deus e com a redenção universal operada por Cristo. No entanto, essa esperança repousa não na revelação divina, mas num sentimentalismo especulativo. A condenação eterna não é hipótese retórica nos Evangelhos, mas verdade reiterada (Lc 16,23; Mt 25,46). Cristo fala repetidamente do fogo inextinguível, da separação dos bodes e das virgens néscias. Esperar que ninguém vá para o inferno é esperar que essas palavras não se cumpram. Como afirma Ralph Martin, "Balthasar transforma as advertências de Cristo em teatrinho pedagógico: elas serviriam apenas para assustar, mas não descrevem algo que de fato acontecerá" (Martin 2012, p. 174).

A grande fraude de Balthasar é revestir de “esperança cristã” aquilo que é, em verdade, negação da justiça divina. Michael McClymond chama isso de "universalismo implícito": uma doutrina que evita a palavra, mas sustenta seu conteúdo (McClymond 2018, vol. II, p. 1032). Essa fuga tem nome: covardia. O inferno é doutrina revelada. Recusá-lo é recusar Cristo. Balthasar tenta se esquivar alegando que não afirma, apenas espera. Mas isso é um artifício lógico indigno de um teólogo católico. Aidan Nichols reconhece que, ao eliminar o elemento do juízo divino real e iminente, a pregação perde seu caráter urgente: “A esperança de salvação universal, mesmo que não seja certeza, acaba por esvaziar a exortação à penitência” (Nichols 2006, p. 112).
 
Desde os Padres até os catecismos, o ensinamento constante da Igreja nunca sustentou esperança universalista. Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, São João Crisóstomo e o próprio Catecismo Romano ensinam que muitos se perdem. Bento XII definiu infalivelmente que as almas dos condenados “descem imediatamente ao inferno” (DS 1002). O universalismo disfarçado de Balthasar é estranho a essa tradição. Ele se afasta do realismo escatológico que leva as almas à conversão, e introduz um anestésico espiritual que nada tem de apostólico.

A tese de Balthasar é, na melhor das hipóteses, uma ilusão piedosa. Na pior – e mais provável – uma heresia refinada. Esperar que todos se salvem, apesar do claro ensinamento de Nosso Senhor, é um ato de desobediência intelectual. Não se trata de esperança, mas de fuga. Como bem observa Garrigou-Lagrange, “é um erro grave pensar que a misericórdia divina contradiz sua justiça” (Garrigou-Lagrange, La Vie Éternelle, 1950). Balthasar, incapaz de suportar o escândalo do inferno, preferiu imaginar uma salvação total. Mas entre a doutrina da Igreja e os delírios de teólogos do século XX, não há lugar para conciliação. Ousar esperar? Sim. Mas ousar esperar que Jesus estivesse blefando? Isso, não.

Referências

Balthasar, H. U. von (1986). Was dürfen wir hoffen?. Einsiedeln: Johannes Verlag.
Garrigou-Lagrange, R. (1950). La Vie Éternelle et la profondeur de l’âme. Paris: Desclée.
Martin, R. (2012). Will Many Be Saved?. Grand Rapids: Eerdmans.
McClymond, M. (2018). The Devil’s Redemption: A New History and Interpretation of Christian Universalism, 2 vols. Grand Rapids: Baker Academic.
Nichols, A. (2006). Balthasar for Thomists. San Francisco: Ignatius Press.

Influência da Nouvelle théologie no Vaticano II - visão historicista e modernista da doutrina


A Nouvelle Théologie teve um impacto significativo no Concílio Vaticano II (1962-1965), influenciando muitas das reformas e mudanças de perspectiva adotadas pela Igreja Católica nesse período. Muitos dos teólogos associados ao movimento desempenharam papéis importantes como peritos (especialistas) durante o Concílio.

Origens conceituais da Nouvelle Théologie: 
A Nouvelle Théologie surgiu como uma reação ao neo-escolasticismo dominante na teologia católica do início do século XX. Seus proponentes buscavam uma abordagem mais histórica e dinâmica da teologia, enfatizando um retorno às fontes originais do cristianismo (ressourcement). O termo "Nouvelle Théologie" foi inicialmente usado de forma pejorativa por críticos, mas acabou sendo adotado pelos próprios teólogos do movimento.

Contexto teológico: 
O movimento surgiu em um período de significativa tensão na Igreja Católica. Por um lado, havia a rígida ortodoxia neo-escolástica promovida pelo Vaticano. Por outro, existiam pressões para uma modernização teológica, parcialmente em resposta à crise modernista do início do século XX. A Nouvelle Théologie tentou encontrar um caminho intermediário, buscando renovar a teologia católica sem romper com a tradição.Este movimento continua a influenciar o pensamento teológico católico até os dias de hoje, embora sua recepção e interpretação permaneçam objeto de debate dentro da Igreja.

O movimento passou por várias fases:
Fase inicial: Focada principalmente em teólogos dominicanos em Le Saulchoir e Louvain.
Segunda fase: Envolvimento de teólogos jesuítas de Fourvière, Toulouse e Paris.
Terceira fase: Internacionalização do movimento.
Quarta fase (implícita): Influência no Concílio Vaticano II e além.

Principais teólogos:
Yves Congar: Dominicano, trabalhou na eclesiologia e ecumenismo.
Marie-Dominique Chenu: Dominicano, enfatizou a importância da história na teologia.
Henri de Lubac: Jesuíta, trabalhou na relação entre natureza e graça.
Jean Danielou: Jesuíta, fez importantes contribuições à patrística e à teologia dos sacramentos. Outros teólogos importantes incluem Hans Urs von Balthasar, Karl Rahner e Edward Schillebeeckx.

Internacionalização: 
Embora tenha começado na França e na Bélgica, o movimento se espalhou para outros países. O estudo de caso nos Países Baixos, mencionado no sumário, provavelmente se concentra em figuras como Edward Schillebeeckx e Piet Schoonenberg, que ajudaram a difundir e desenvolver as ideias da Nouvelle Théologie em um contexto holandês.

Ver o livro "Nouvelle Théologie - New Theology: Inheritor of Modernism, Precursor of Vatican II" de Jurgen Mettepenningen. Jurgen Mettepenningen é um teólogo belga conhecido por seu trabalho sobre a história da teologia católica moderna, especialmente a Nouvelle Théologie.