O espiritismo, enquanto prática e doutrina que busca o contato com os espíritos dos mortos ou a compreensão da realidade espiritual por meios alheios à revelação divina, apresenta-se como uma grave ameaça à fé cristã. Não se trata apenas de uma filosofia ou de um conjunto de crenças, mas de uma prática que, sob o véu da curiosidade ou da busca por consolo, desvia o coração humano da verdade revelada em Jesus Cristo, único Salvador e Mediador entre Deus e os homens (1 Timóteo 2:5). A análise que se segue expõe os fundamentos teológicos, bíblicos e espirituais que tornam o espiritismo incompatível com a doutrina católica, destacando os perigos que ele representa para a alma.
A fé católica fundamenta-se na revelação plena de Deus em Cristo, transmitida pelas Escrituras e pela Tradição, sob a guia do Magistério da Igreja. O espiritismo, ao propor uma cosmovisão que inclui reencarnação, comunicação com espíritos e uma concepção panteísta da divindade, contradiz diretamente verdades essenciais do cristianismo. A crença na reencarnação, por exemplo, nega a unicidade da vida humana e a realidade do juízo particular após a morte, conforme ensina a Carta aos Hebreus: “Está determinado que os homens morram uma só vez, e depois disso vem o juízo” (Hebreus 9:27). A tentativa de estabelecer uma “religião científica” que substitua a fé pela experimentação espiritual rejeita a suficiência da revelação divina, colocando a razão humana acima da vontade de Deus.
As Sagradas Escrituras condenam de forma clara e inequívoca as práticas de evocação dos mortos e qualquer forma de adivinhação ou consulta a espíritos. No livro do Deuteronômio, lê-se: “Não se ache no meio de ti quem consulte os mortos, pois todo aquele que faz isso é abominação ao Senhor” (Deuteronômio 18:10-12). Tais práticas, longe de serem inofensivas, representam uma desobediência direta à vontade de Deus, que proíbe o recurso a meios espirituais fora da comunhão com Ele. O espiritismo, ao incentivar sessões mediúnicas e contatos com supostos espíritos, coloca o praticante em uma posição de vulnerabilidade espiritual, afastando-o da confiança na providência divina.
Um dos perigos mais graves do espiritismo reside em sua abertura a influências espirituais malignas. A experiência pastoral, especialmente no ministério de exorcismo, demonstra que muitas pessoas que se envolveram com práticas espiritistas enfrentam perturbações espirituais profundas, que podem incluir opressões ou até mesmo possessões demoníacas. O demônio, sendo o “pai da mentira” (João 8:44), pode simular comunicações com os mortos ou apresentar-se como um guia espiritual, enganando os incautos. Essas práticas, mesmo quando motivadas por boa intenção, como o desejo de consolar-se pela perda de um ente querido, tornam-se portas de entrada para a ação do maligno, que explora a fragilidade humana para afastar as almas de Deus.
O espiritismo, ao propor a mediação de espíritos ou médiuns, usurpa o papel exclusivo de Cristo como único Mediador. A Igreja ensina que toda graça e verdade provêm de Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6). Qualquer tentativa de buscar respostas ou consolo fora Dele constitui uma ofensa à sua divindade e à sua obra redentora. A prática espiritista, ao sugerir que os mortos podem ser evocados ou que os vivos podem progredir espiritualmente por méritos próprios em sucessivas encarnações, diminui a necessidade da graça divina e da redenção oferecida na Cruz.
Muitas pessoas são atraídas pelo espiritismo em momentos de dor, como a perda de um familiar, na esperança de manter um vínculo com os falecidos. Contudo, a fé católica oferece um caminho mais seguro e verdadeiro para enfrentar o luto: a oração pelos mortos, a confiança na misericórdia divina e a esperança na ressurreição. A Igreja ensina que os fiéis defuntos estão nas mãos de Deus, e a comunhão dos santos permite que os vivos intercedam por eles por meio da oração e da Eucaristia. Recorrer ao espiritismo, em vez de confiar na providência divina, é uma forma de superstição que substitui a fé pela curiosidade e o consolo eterno pela ilusão temporária.
Diante dos perigos do espiritismo, urge um chamado à conversão e à fidelidade à fé católica. Os fiéis são convidados a aprofundar sua relação com Cristo, buscando-O na oração, nos sacramentos e na caridade. Aqueles que, por curiosidade ou desespero, envolveram-se com práticas espiritistas devem procurar a reconciliação por meio do sacramento da Confissão, onde encontrarão a misericórdia de Deus. A Igreja, como mãe e mestra, não condena as pessoas, mas adverte contra os erros que as afastam da verdade. O caminho para a verdadeira paz espiritual passa pela entrega total a Deus, que nunca abandona seus filhos.
Referências
Bamonte, Francesco. Entrevista ao Catholic.net, 2003. Disponível em: https://www.catholic.net.