O texto de Padre Peregrino oferece uma análise contundente e tradicionalista sobre as origens da decadência da Companhia de Jesus, baseado no artigo "The Original Downfall of the Jesuits". O autor argumenta que a sua ruína não começou com o Concílio Vaticano II, mas que as sementes do modernismo foram plantadas muito antes, no final do século XIX. O autor, que considera os Jesuítas como a maior ordem religiosa de toda a história da Igreja, busca responder à pergunta fundamental sobre quais foram os primeiros indícios de instabilidade antes do choque com o modernismo. A fonte principal para esta investigação é a obra "The Jesuits" do falecido Padre Malachi Martin, S.J., considerado um precursor do livro "Infiltration" de Dr. Taylor Marshall, sugerindo que o processo de infiltração na Igreja em geral espelhou o que ocorreu primeiramente dentro da ordem jesuíta. A perspectiva é de que os jesuítas sempre funcionaram como o termóstato, e não o termómetro, para a Igreja Católica em geral, e, portanto, entender a sua queda é entender a crise mais ampla da Igreja.
🧪 O Início da Fissura: A Falsa Dicotomia entre Ciência e Fé
A primeira rachadura na ortodoxia jesuíta surgiu no final do século XIX com uma minoria muito pequena de jesuítas que começou a perceber um conflito irreconciliável entre a ciência e a religião. O texto aponta a ironia de que esta posição, hoje defendida pela esquerda liberal, também encontra eco em alguns tradicionalistas que temem as ciências naturais. No entanto, o verdadeiro problema não foi a ciência em si, mas a decisão estratégica da Companhia de especializar os seus jovens em novos campos do conhecimento secular. Citando Malachi Martin, o texto aponta que a Companhia decidiu especializar-se em áreas como Assiriologia, religiões orientais, egiptologia, sociologia e biologia. Esta imersão em estudos seculares, especialmente em áreas como a paleontologia, a antropologia e a pesquisa histórica sobre o Oriente Próximo, tornou-se o terreno fértil para o desvio doutrinário. O erro fatal não foi a busca pelo conhecimento, mas sim uma grande arrogância com uma pequena educação que permitiu que uma minoria influenciasse toda a ordem.
🧠 A Corrupção Intelectual e a Irmandade Secreta
A consequência direta dessa especialização acadêmica foi a formação de uma confraria unida, embora nunca vocalizada, de especialistas acadêmicos altamente treinados. Estes jesuítas, ao colaborarem com acadêmicos não-católicos, começaram a assimilar o seu ponto de vista, que quase sem exceção era anticatólico e teologicamente modernista. O texto de Malachi Martin é claro ao afirmar que estes especialistas achavam cada vez mais difícil reconciliar os dados da sua formação científica e erudita com as doutrinas e a moral tradicionais propostas pela Igreja Católica Romana. Em vez de usarem o seu conhecimento para a conversão, como desejava Santo Inácio ao incentivar o estudo de outras religiões, estes proto-modernistas caíram nas influências do Oriente e do Marxismo, permitindo que o conhecimento secular corrompesse a sua fé sobrenatural.
🇻🇦 O Alerta Ignorado de Pio XII e a Dupla Contabilidade Doutrinária
Na década de 1940, o Papa Pio XII já percebia esta crescente falta de ortodoxia a infiltrar-se na Companhia. Num discurso descrito como duro e firme, ele repreendeu os jesuítas, exigindo um retorno à ortodoxia doutrinária e à obediência fiel à Santa Sé e às suas próprias constituições. A reação da maioria dos delegados jesuítas foi de negação, considerando que o Papa falava de uma irrealidade. Contudo, a corrupção já estava institucionalizada a ponto de existir uma prática de dupla contabilidade nas escolas teológicas jesuítas. Professores na França e na Alemanha tinham um conjunto de notas para mostrar às autoridades romanas como sendo a substância das suas aulas, e outro conjunto de notas para uso real em sala de aula. Este engano deliberado demonstrava um profundo desprezo pela autoridade papal e uma crescente alienação, onde Roma, juntamente com o Papa e a burocracia vaticana, parecia estar ancorada numa mentalidade que já não existia fora da Igreja em geral. Para muitos jesuítas, Roma e o Romanismo tornaram-se algo estranho.
⚖️ O Legalismo como Coração do Modernismo e a Profecia Final
O autor conclui com a tese de que o legalismo é o coração do modernismo. Ao abandonarem a devoção genuína e o amor ao Sagrado Coração de Jesus, muitos jesuítas do século XX passaram a agir como os fariseus, procurando brechas de legalismo para contornar a verdadeira ortodoxia. Esta mentalidade legalista e enganadora foi o culminar de um processo que começou com a soberba intelectual do século XIX. Para reforçar o tom apocalíptico e a gravidade da situação, o texto termina com uma citação atribuída ao Padre Paul Kramer, que relata uma confirmação pessoal de Malachi Martin em 1997, afirmando que o papa que liderará a apostasia na Igreja será um herege e um antipapa. Esta nota final serve como um aviso sombrio, ligando a queda original dos jesuítas à crise profetizada para o ápice da Igreja.