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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Relativismo - A grande heresia modernista

Perguntado sobre o que está na raiz das heresias de hoje, Schneider responde: A heresia raiz do nosso tempo é relativismo em suas características hegelianas. Isso significa que [ser] não pode haver uma verdade que é objetivamente sempre e em todos os lugares em si mesmo verdadeira. A verdade é, em última análise, feita pelo homem e através do desenvolvimento histórico. (https://www.lifesitenews.com/blogs/bishop-schneider-modernism-condemned-by-pius-x-has-been-realized-in-all-its-devastating-consequences/)

A resposta do Bispo Athanasius Schneider, que identifica o relativismo com características hegelianas como a "heresia raiz" dos nossos tempos, aponta para uma crítica específica ao pensamento de Hegel, especialmente no que se refere à sua concepção da verdade e do desenvolvimento histórico.

Hegel concebia a verdade como um processo dinâmico, não algo estático e imutável. A verdade, para ele, emergia e se desenvolvia ao longo do tempo através de um processo dialético, onde ideias opostas (tese e antítese) entram em conflito, e dessa interação surge uma síntese, uma nova verdade, que, por sua vez, pode se tornar a base de novos conflitos e novas sínteses. Esse movimento contínuo reflete a visão hegeliana de que a história é o palco do desenvolvimento do Espírito (ou Geist), onde a verdade se revela progressivamente.

Elementos hegelianos envolvidos na crítica ao relativismo

Dialética: A ideia de que a verdade se constrói por meio do conflito e síntese de ideias pode ser vista como contribuindo para uma visão relativista, onde a verdade não é fixa, mas muda conforme as circunstâncias históricas e culturais. Essa visão dialética hegeliana pode ser interpretada como uma negação de verdades absolutas e eternas, levando à noção de que tudo é passível de revisão e mudança.

Historicismo: Hegel acreditava que a verdade é algo que evolui com o tempo e que cada estágio da história reflete uma versão mais avançada da verdade. Isso pode ser lido como um precursor do relativismo, onde o que é considerado verdadeiro em um período histórico pode não ser em outro. Essa relativização da verdade ao contexto histórico se choca com a visão de uma verdade objetiva e universal, típica de correntes religiosas tradicionais.

Racionalidade Processual: Hegel sustentava que a realidade e a verdade se manifestam através do processo racional da história. Isso implica que o que é considerado verdadeiro em um ponto do tempo pode ser superado à medida que o Espírito (ou o entendimento da realidade) evolui. Tal perspectiva pode levar à ideia de que a verdade é algo fabricado ou moldado pelo desenvolvimento humano e não algo que existe de maneira independente do tempo e da mente humana.

Crítica ao Absoluto: Apesar de Hegel falar sobre um "absoluto", este absoluto não é uma verdade transcendente e imutável, como seria em uma perspectiva religiosa tradicional. O absoluto hegeliano é algo que se realiza no tempo, na história, e através do desenvolvimento humano. Para Hegel, o absoluto é o fim do processo dialético, algo que é alcançado através da síntese contínua de contradições. Isso é contrastado com a ideia de um absoluto que já existe de forma plena e intangível.

Portanto, a crítica de Schneider é que essa visão hegeliana, quando combinada com o relativismo moderno, mina a ideia de uma verdade eterna e imutável, promovendo a noção de que a verdade é subjetiva e moldada pelas condições históricas. Isso, para ele, seria uma "heresia" porque nega a possibilidade de uma verdade absoluta, em consonância com a visão cristã tradicional de Deus e da verdade como universais e imutáveis.

Essas características hegelianas influenciaram não apenas o relativismo, mas também várias correntes de pensamento pós-modernas, que questionam a existência de uma verdade objetiva.

Eric Voegelin critica Hegel 

Afirma que a filosofia de Hegel não é verdadeiramente filosofia, mas um tipo de "sistema de bruxaria". Essa visão faz parte do contexto mais amplo da crítica de Voegelin ao que ele considerava ser a corrupção da filosofia ocidental desde o período moderno.

Segundo Voegelin, Hegel teria transformado a busca filosófica pela verdade em uma espécie de construção ideológica totalizante. Para Voegelin, Hegel cria um sistema que promete revelar o sentido da história e do espírito humano de uma maneira quase mística, oferecendo uma espécie de redenção ou salvação através do conhecimento, o que para ele seria uma pretensão perigosa e ilusória. Voegelin vê isso como uma forma de gnose, onde Hegel propõe que o homem pode dominar a realidade histórica e espiritual através do seu sistema de pensamento.

Ao chamar o sistema de Hegel de "bruxaria", Voegelin está, de certa forma, associando a obra hegeliana a um tipo de magia intelectual, onde conceitos são manipulados para produzir uma ordem de coisas que não corresponde à realidade transcendente ou à verdade filosófica genuína, mas sim a um produto da imaginação humana que promete poder e controle.

Esse tipo de crítica se enquadra na oposição de Voegelin ao que ele chama de "ideologias", sistemas de pensamento que tentam encapsular a realidade dentro de uma estrutura fechada e que, na visão dele, levam ao totalitarismo e à negação da verdadeira natureza humana e do mistério divino.

O relativismo pode ser considerado uma forma de pensamento

É uma corrente filosófica que sustenta a ideia de que a verdade, os valores morais, e o conhecimento são sempre relativos ao contexto, como cultura, sociedade ou perspectivas individuais. Em vez de haver uma verdade ou um valor absoluto, o relativismo argumenta que esses conceitos variam conforme as circunstâncias ou pontos de vista.

Tipos de relativismo:

Relativismo moral: A ideia de que não existem padrões morais absolutos e que o que é considerado certo ou errado depende de cada cultura ou indivíduo.
Relativismo epistemológico: A ideia de que o conhecimento e a verdade não são universais, mas dependem do contexto, do método de investigação, ou da perspectiva adotada.
Relativismo cultural: A crença de que as práticas e crenças de uma sociedade devem ser entendidas dentro de seu próprio contexto cultural, sem julgamento a partir de critérios externos.

Datas e referências históricas para o relativismo:

Antiguidade:Protágoras (c. 490–420 a.C.), um dos primeiros sofistas gregos, é famoso pela frase "o homem é a medida de todas as coisas", que é uma forma precoce de relativismo epistemológico. Ele argumentava que a verdade é relativa à percepção de cada indivíduo.

Era Moderna:No contexto filosófico moderno, o relativismo ganha força no século XVII e XVIII com pensadores como Michel de Montaigne (1533–1592), que defendia uma visão cética e relativista da moralidade e do conhecimento, argumentando que diferentes culturas têm diferentes verdades.

Século XIX:O historicismo de Hegel (1770–1831) e o perspectivismo de Friedrich Nietzsche (1844–1900) são influentes na consolidação do relativismo. Nietzsche, em particular, argumentava que não existem fatos, apenas interpretações, promovendo a ideia de que as verdades dependem da perspectiva de quem as observa.

Século XX:O relativismo ganha força com o desenvolvimento da antropologia cultural, com figuras como Franz Boas (1858–1942), que defendia o relativismo cultural, argumentando que todas as culturas são igualmente válidas em seus próprios termos.
O pós-modernismo, com filósofos como Michel Foucault e Jean-François Lyotard, também contribui significativamente para o relativismo, questionando a existência de grandes narrativas ou verdades universais e propondo que o conhecimento e a verdade são construções sociais.

A década de 1880 

Foi particularmente significativa com o pensamento de Friedrich Nietzsche e outros intelectuais da época. Durante esse período, o relativismo, juntamente com outras correntes de pensamento como o positivismo e o materialismo, começou a ganhar destaque e foi visto como uma ameaça às doutrinas tradicionais da Igreja, que defendem a existência de verdades morais e teológicas absolutas.

Nietzsche e a crítica ao cristianismo: Nietzsche, com obras como "Assim Falou Zaratustra" (1883) e "Além do Bem e do Mal" (1886), não só promoveu o perspectivismo e o relativismo, mas também fez críticas severas ao cristianismo, chamando-o de uma moralidade que negava a vida. Essas ideias começaram a reverberar nos círculos intelectuais europeus, representando um desafio direto à Igreja Católica e à sua defesa da verdade moral e doutrinária universal.

Resposta da Igreja Católica

A Igreja começou a intensificar suas respostas ao relativismo e ao pensamento secular, como evidenciado no final do século XIX e início do século XX. Um marco importante foi a publicação da encíclica "Aeterni Patris" por Papa Leão XIII, em 1879, onde ele defendeu a restauração da filosofia de São Tomás de Aquino (o tomismo), que reitera a existência de uma verdade objetiva, natural e divina.O tomismo foi promovido como uma resposta ao relativismo, visto que ele apresenta uma visão clara da verdade baseada na razão e na revelação divina, em contraste com a crescente influência de perspectivas filosóficas que relativizavam o conceito de verdade.

A partir de 1880, o relativismo começou a ser visto pela Igreja Católica como uma das "heresias modernas". Esse movimento em direção a uma "verdade relativa" na moral e no conhecimento era contrário à doutrina católica que afirmava a existência de verdades universais e imutáveis, particularmente as verdades teológicas e morais reveladas por Deus.