A crise que assola a Igreja Católica, agudizada desde o infausto Concílio Vaticano II, não surgiu ex nihilo. Ela é, em grande medida, o fruto amargo de uma persistente e nefasta tentativa de conciliar a imutável Verdade revelada com os princípios errôneos e mutáveis da filosofia moderna. Este empreendimento, que Carlos Nougué, em sua indispensável obra DO PAPA HERÉTICO e outros opúsculos, argutamente denomina "corte e costura humanista" [1], representa nada menos que uma sistemática demolição dos fundamentos da Fé, perpetrada por aqueles que, sob o manto de um suposto "aggiornamento", introduziram o veneno do liberalismo e do modernismo no próprio Corpo Místico de Cristo. Nougué, seguindo a tradição perene e o magistério seguro de Santo Tomás de Aquino, identifica com precisão a raiz desta apostasia intelectual: a inversão da correta hierarquia entre fé e razão, onde a filosofia, de ancilla theologiae, pretende-se mestra, e a razão humana decaída se arvora juíza da Revelação. É neste terreno fértil para o erro que floresceram os chamados "humanistas católicos", figuras que, com maior ou menor sutileza, buscaram costurar os farrapos do pensamento moderno ao manto inconsútil da Doutrina Católica.
Considere-se Jacques Maritain. Inicialmente um expoente do renascimento tomista, enveredou por uma concepção de "nova cristandade" e "humanismo integral" [2] que, na prática, esvazia a Realeza Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, relegando-a a uma influência meramente inspiradora e secularizada. Sua proposta de uma ordem temporal pluralista, onde a Verdade Católica é colocada em pé de igualdade com o erro, sob o pretexto de uma colaboração "democrática", representa uma capitulação aos princípios da Revolução. Como bem aponta Nougué ao tratar da subordinação essencial do temporal ao espiritual [1, Parte VI], tal visão maritainiana ignora a natureza mesma da autoridade divina e a missão da Igreja de instaurar todas as coisas em Cristo.
Não menos perniciosa foi a contribuição de Henri de Lubac e sua Nouvelle Théologie. Ao questionar a distinção clássica entre a ordem natural e a sobrenatural com sua crítica à noção de "natureza pura" [3], de Lubac obscureceu a absoluta gratuidade da graça e a real extensão das feridas do pecado original. Esta confusão, como implicitamente se deduz da firme adesão de Nougué a um Tomismo clássico que sustenta tais distinções, abre caminho para um otimismo naturalista e um diálogo acrítico com o mundo, diminuindo a urgência da conversão e a unicidade da Igreja como meio de salvação.
Yves Congar, por sua vez, com seu falso ecumenismo [4], promoveu a ideia de uma unidade cristã baseada não na volta dos dissidentes à única Igreja de Cristo, mas numa federação de "igrejas irmãs", onde a verdade é sacrificada no altar de uma utópica fraternidade. A crítica de Nougué à perda da clareza doutrinária e à democratização da estrutura eclesial encontra aqui um de seus alvos mais evidentes, pois tal ecumenismo implica uma relativização dos dogmas e da própria constituição divina da Igreja.
E o que dizer de Karl Rahner e sua deletéria teoria dos "cristãos anônimos" [5]? Esta noção, que estende a salvação a praticamente toda a humanidade independentemente da fé explícita em Cristo e da pertença visível à Igreja, é a negação frontal do dogma Extra Ecclesiam Nulla Salus. A teologia transcendental rahneriana, com seu subjetivismo e seu apelo a um "mistério" vago, representa o ápice da dissolução da teologia católica em uma forma de existencialismo religioso indiferentista, algo diametralmente oposto à clareza e ao rigor do pensamento tomista defendido por Nougué.
Estes "humanistas católicos", e tantos outros que seguiram suas pegadas, ao tentarem este "corte e costura", não produziram uma síntese superior, mas uma caricatura da Fé, um "catolicismo" esvaziado de sua substância sobrenatural e de sua intransigência doutrinária. Carlos Nougué, em sua obra, recorda-nos que a única resposta católica a este assalto é a recusa total de qualquer compromisso com o erro e o retorno integral à sã doutrina, tal como ensinada perenemente pela Igreja e sistematizada de modo insuperável por Santo Tomás de Aquino.
A clareza da filosofia perene e da teologia dogmática não admite ambiguidades nem concessões ao espírito do século. O humanismo, em suas diversas manifestações modernas, é fundamentalmente antropocêntrico e, portanto, incompatível com o teocentrismo essencial da Revelação Cristã. Tentar "costurá-los" é uma obra vã e perigosa, que apenas serve para obscurecer a Verdade e conduzir as almas à perdição. A verdadeira caridade intelectual exige, ao contrário, a denúncia clara e inequívoca destes erros e a firme proclamação da Fé Católica em toda a sua pureza e integridade.
Referências
NOUGUÉ, Carlos. DO PAPA HERÉTICO e outros opúsculos. Formosa, GO: Edições Santo Tomás, 2017. (Especialmente a Parte VI, que trata das complexas relações entre fé e razão e inclui a crítica ao "Corte e costura humanista").
MARITAIN, Jacques. Humanisme intégral: Problèmes temporels et spirituels d'une nouvelle chrétienté. Paris: Fernand Aubier, 1936.
DE LUBAC, Henri. Surnaturel. Études historiques. Paris: Aubier, Éditions Montaigne, 1946.
CONGAR, Yves. Chrétiens désunis. Principes d'un « œcuménisme » catholique. Paris: Éditions du Cerf, 1937.
RAHNER, Karl. A teoria dos "Cristãos Anônimos" (Anonyme Christen) é desenvolvida em diversos artigos e obras, como em Schriften zur Theologie (Escritos de Teologia).