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terça-feira, 15 de outubro de 2024

Joaquim Nabuco - Adesão à Maçonaria

A relação de Joaquim Nabuco com a maçonaria é um tema discutido entre historiadores, e há evidências de que ele tenha se envolvido com a maçonaria em determinado momento de sua vida. Entretanto, a extensão de sua participação e a influência direta da maçonaria em sua luta abolicionista não são sempre abordadas de maneira clara em seus escritos.

Nabuco foi, sem dúvida, um grande defensor da liberdade e da igualdade, valores que também são caros à maçonaria. No entanto, demonstrar diretamente a influência de sua participação na maçonaria sobre seu ativismo abolicionista a partir de seus escritos requer uma análise cuidadosa. Em sua obra "O Abolicionismo" (1883), por exemplo, ele expressa sua luta pela abolição da escravatura com argumentos morais, políticos e econômicos, mas sem mencionar explicitamente qualquer influência maçônica.

Um ponto importante a destacar é que a maçonaria, no século XIX, estava amplamente associada a ideias progressistas e reformistas, o que pode ter atraído Nabuco. No entanto, sua luta contra a escravidão parece estar mais enraizada em sua formação religiosa, moral e política do que exclusivamente em sua relação com a maçonaria.

"A escravidão é incompatível com a civilização; é impossível que um povo progredisse moral e intelectualmente, enquanto parte dele vive como se pertencesse a outra espécie."
— O Abolicionismo, Capítulo IV. 1883

"Sempre entendi que a liberdade, em todas as suas formas, era o bem maior que a sociedade podia conquistar. Nenhuma sociedade é completa sem liberdade, e nenhum homem é inteiramente humano se privado dela."
— Minha Formação, Capítulo VI. 1900

"A abolição da escravatura é o primeiro passo em direção a uma sociedade mais justa e igualitária. Temos que continuar lutando, não apenas para libertar os escravos, mas para transformar o Brasil em uma nação onde todos tenham as mesmas oportunidades."
— Carta a André Rebouças, 1887.

"A sociedade brasileira só poderá alcançar a verdadeira civilização quando cada um dos seus membros for tratado com a dignidade que lhes é devida como seres humanos livres. A abolição é o início de uma série de mudanças que devemos buscar."
— Discurso na Câmara dos Deputados, 1884.

Embora Nabuco não tenha explicitado sua ligação com a maçonaria em seus principais escritos, suas ideias de liberdade, igualdade e progresso social certamente coincidem com os ideais maçônicos. As passagens que discutem a abolição como uma "revolução moral" e a luta pela igualdade de direitos podem ser vistas como uma consonância com os valores defendidos pela maçonaria, que estava ativamente envolvida em movimentos de reforma social no Brasil.

Oposição da Igreja Católica

A Igreja Católica mantinha uma posição de forte oposição à maçonaria no final do século XIX, período em que Joaquim Nabuco viveu. Desde o século XVIII, com a bula "In eminenti" (1738) do Papa Clemente XII, a maçonaria foi condenada pela Igreja Católica, e essa postura se manteve ao longo do século XIX. A principal razão para essa oposição era o caráter supostamente anticlerical e secular da maçonaria, que defendia a liberdade de pensamento, a separação entre Igreja e Estado, e outros princípios que a Igreja considerava perigosos.

Na época de Nabuco, o Brasil vivia o período do Império, em que a Igreja Católica tinha um papel dominante na sociedade, mas havia também tensões com o governo devido à Questão Religiosa (um conflito entre o Estado e a Igreja envolvendo o papel da maçonaria). O Imperador Dom Pedro II tinha uma postura mais moderada, mas o conflito entre maçons e o clero católico se intensificou quando bispos começaram a excomungar membros do clero que faziam parte de lojas maçônicas. Esses eventos culminaram na prisão de dois bispos, apoiados pelo imperador, o que gerou ainda mais atrito entre a Igreja e o governo.

Nabuco, sendo um intelectual e político de grande prestígio, navegou em um ambiente de tensões religiosas e políticas. Ele era uma figura complexa: foi criado em um ambiente católico e demonstrou respeito pela Igreja, mas também se envolveu com causas progressistas e liberais, como o abolicionismo, que estavam em sintonia com a maçonaria.

Como Nabuco lidou com essa oposição

Nabuco, ao que parece, conseguiu equilibrar sua relação com a Igreja e seus ideais progressistas. Embora ele tenha ingressado na maçonaria, sua vida pública não parece ter sido marcada por conflitos abertos com a Igreja, como aconteceu com outras figuras da época. Isso pode se dever ao fato de que, para Nabuco, a luta pela abolição e pela modernização do Brasil era sua prioridade, e ele procurou aliados onde quer que fosse necessário – incluindo entre os maçons, que eram uma força considerável no Brasil imperial.

Sua educação religiosa e moral, que valorizava a justiça e a igualdade, pode ter sido um fator que o guiou tanto na defesa da abolição quanto na sua conexão com a maçonaria. Ele via a abolição como uma causa profundamente moral e humanitária, o que certamente ressoava com as preocupações sociais da maçonaria, mas também com princípios cristãos de compaixão e igualdade.

Nabuco, como outros intelectuais e políticos do século XIX, fez uso de pseudônimos em alguns de seus escritos e correspondências. Embora não haja uma vasta documentação sobre os pseudônimos específicos que ele possa ter utilizado em suas atividades como maçom, sabe-se que o uso de pseudônimos era uma prática comum entre maçons para proteger sua identidade e evitar represálias, principalmente em um contexto onde a Igreja Católica condenava a maçonaria.

Por que Nabuco se tornou maçom, mesmo com a resistência da Igreja?

Compromisso com os ideais de liberdade e igualdade: Como já mencionado, Nabuco defendia fortemente esses valores, e a maçonaria oferecia uma plataforma para promovê-los em um contexto de reformas sociais. A luta abolicionista precisava de aliados, e os maçons estavam entre os que apoiavam essas mudanças.

Laços políticos e sociais: A maçonaria, no Brasil do século XIX, estava intimamente ligada às elites políticas e intelectuais. Muitos dos abolicionistas e reformistas mais importantes do período, como José Bonifácio, Dom Pedro I e Rui Barbosa, tinham ligações com a maçonaria. A associação de Nabuco com esse grupo pode ter sido também uma questão de pragmatismo político.

Moderação no conflito com a Igreja: Nabuco, apesar de sua ligação com a maçonaria, não parece ter sido um anti-religioso ferrenho ou abertamente anticlerical, como alguns maçons da época. Ele continuava a respeitar muitos princípios da fé católica e sabia navegar em um ambiente politicamente complexo sem alienar completamente a Igreja.