🕊️Introito (- | Sl 44, 2)
Salve, sancta Parens, eníxa puérpera Regem... Salve, ó Santa Mãe, em cujo seio foi gerado o Rei que governa o céu e a terra, por todos os séculos dos séculos. Sl. Exulta o meu coração em alegre canto; ao Rei dedico as minhas obras. ℣. Glória ao Pai…
📖Leitura (Eclo 24, 14-16)
Desde o princípio e antes dos séculos fui criada; e não deixarei de existir em toda a sucessão dos tempos; na morada santa exerci perante Ele o meu ministério. Fui assim firmada em Sião, e repousei na cidade santa; e em Jerusalém está o meu poder. Arraiguei-me em um povo glorioso, e nesta porção do meu Deus, que é a sua herança. Na assembleia dos Santos, estabeleci a minha assistência.
✝️Evangelho (Lc 11, 27-28)
Naquele tempo, falava Jesus ao povo, quando uma mulher elevando a voz, do meio da multidão, Lhe disse: Bem-aventurado o seio que Vos trouxe e os peitos que Vos amamentaram. Ele porém disse: Antes, bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a põem em prática.
🤔Reflexões
⚖️A verdadeira bem-aventurança de Maria, como aponta Jesus no Evangelho, não reside meramente em sua maternidade física, mas em sua perfeita adesão à Palavra de Deus. É mais feliz por ter concebido a Cristo no coração pela fé, do que em seu seio pela carne (Santo Agostinho, Sermão 72/A). Esta obediência filial a torna a "Sancta Parens" do Introito, não apenas de Cristo, mas de todos os redimidos. Seu poder, estabelecido "em Jerusalém" conforme a Leitura, é o poder da graça que atua na Igreja para libertar os cativos, pois a paz e a ordem da Igreja são o próprio poder de Cristo em ação (Santo Ambrósio, Comentário sobre o Salmo 47). Assim, ela se torna a porta pela qual a misericórdia divina alcança a humanidade, pois, como Mãe do Rei, ninguém pode se aproximar do trono da graça senão por seu intermédio (São Boaventura, Sermão sobre a Natividade da B.V.M.).
👥O Evangelho de Lucas apresenta a exaltação da maternidade física de Maria por uma mulher anônima, à qual Jesus responde redefinindo a bem-aventurança em termos de obediência à Palavra de Deus. Este episódio ecoa, com uma nuance distinta, a cena descrita em Mateus (12, 46-50) e Marcos (3, 31-35). Nesses evangelhos, a chegada física da "mãe e irmãos" de Jesus provoca a Sua declaração sobre a família espiritual ser aquela que faz a vontade do Pai. Enquanto Mateus e Marcos focam na definição da nova família de Cristo em contraste com os laços de sangue, o relato de Lucas parte de um elogio direto à Virgem, permitindo que a resposta de Jesus sirva não como um contraste, mas como uma elevação da verdadeira razão da glória de Maria: sua fé e obediência.
📜São Paulo aprofunda a teologia da filiação divina que Jesus introduz. Enquanto o Evangelho estabelece a obediência à Palavra como critério para a família de Deus, Paulo explica o mecanismo dessa adoção: Deus enviou Seu Filho "nascido de mulher" para que fôssemos resgatados e recebêssemos a "adoção de filhos" (Gálatas 4, 4-5). A maternidade de Maria é, portanto, o ponto de entrada para a nossa redenção e filiação. Além disso, a ênfase de Jesus na fé sobre os laços carnais é um tema central para o Apóstolo, que afirma que já não conhecemos ninguém "segundo a carne" (2 Coríntios 5, 16), pois a nova criação em Cristo transcende as relações naturais. A obra de misericórdia celebrada hoje é a aplicação prática desse resgate que nos torna filhos no Filho.
🏛️Os documentos pontifícios consistentemente exaltam o papel de Maria como dispensadora da misericórdia divina. A encíclica Ad Diem Illum Laetissimum (Papa São Pio X) ensina que, por sua união íntima com Cristo na obra da Redenção, ela "mereceu ser a reparadora do mundo perdido" e, do tesouro de méritos adquiridos por seu Filho, ela nos distribui as graças. Esta função de Medianeira das Mercês é a base da devoção de hoje. Da mesma forma, a bula Ineffabilis Deus (Papa Pio IX), ao tratar da Imaculada Conceição, descreve-a como "cheia de todas as graças celestiais", estabelecendo-a como o receptáculo perfeito e a fonte da qual a misericórdia de Deus flui para os cativos do pecado, prefigurando o carisma dos Mercedários na libertação dos cativos físicos.