🙏 Introito (Sl 73: 20, 19 e 23 | ib., 1) (Áudio)
Réspice, Dómine, in testaméntum tuum, et ánimas páuperum tuórum ne derelínquas in finem... Olhai propício, Senhor, para vossa aliança; não Vos esqueçais para sempre das almas de vossos pobres. Levantai-Vos, Senhor, e julgai a vossa causa; não Vos esqueçais das vozes dos que Vos invocam. Sl. Ó Deus, por que nos rejeitais para sempre e se acendeu vossa ira contra as ovelhas de vosso pasto? ℣. Glória ao Pai…
📜 Epístola (Gl 3, 16-22)
Irmãos, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: "E às descendências", como se referisse a muitos, mas como de um só: "E à tua descendência", que é Cristo. Digo, porém, o seguinte: a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não anula a aliança confirmada por Deus, de modo a tornar vã a promessa. Porque, se a herança viesse da lei, já não viria da promessa; ora, foi pela promessa que Deus a deu a Abraão. Para que serve, então, a lei? Ela foi acrescentada por causa das transgressões, até que viesse o Descendente a quem a promessa se refere, promulgada por anjos por meio de um mediador. Ora, não há mediador quando se trata de um só; e Deus é um. Será, portanto, a lei contrária às promessas de Deus? De modo algum. Porque, se fosse dada uma lei capaz de comunicar a vida, então, em verdade, a justificação viria da lei. Mas, pelo contrário, a Escritura concluiu tudo sob o pecado, a fim de que a promessa, pela fé em Jesus Cristo, fosse dada aos que creem.
✝️ Evangelho (Lc 17, 11-19)
Naquele tempo, indo Jesus a Jerusalém, atravessava a Samaria e a Galileia. E, ao entrar em uma aldeia, saíram-Lhe ao encontro dez homens leprosos. Eles pararam ao longe, e elevaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tende piedade de nós! Vendo-os, Jesus disse: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, enquanto iam, ficavam limpos. Um deles, logo que se viu curado, voltou atrás, e glorificou a Deus em alta voz; e prostrando-se por terra, aos pés de Jesus, deu-Lhe graças; e este era Samaritano. Então Jesus perguntou: Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão, pois, os outros nove? Não houve quem voltasse e viesse dar glória a Deus, senão este estrangeiro. E disse-lhe: Levanta-te e vai: tua fé te salvou.
🤔 Reflexões
💡A cura dos dez leprosos é uma alegoria da salvação. Os dez representam toda a humanidade sob a lei do pecado, simbolizada pelo Decálogo. Enquanto os nove judeus, que representam o povo da Antiga Aliança, foram purificados apenas na carne por não retornarem com gratidão para reconhecer a divindade em Cristo, o samaritano, um estrangeiro, personifica a Igreja dos gentios, que pela fé e gratidão alcança a salvação da alma. A lepra é a imagem do pecado; somente a graça de Cristo pode purificar, mas é a fé agradecida que salva verdadeiramente, como o Senhor afirma: 'Tua fé te salvou', distinguindo a cura corporal da salvação espiritual (Santo Agostinho, Sermão 176). A ingratidão dos nove é o maior dos pecados, pois quem recebe um benefício e não agradece, no futuro se tornará displicente para receber outros (São João Crisóstomo, Homilias sobre os Salmos). A Lei podia prescrever ritos de purificação, como "mostrai-vos aos sacerdotes", mas não podia conferir a vida da graça; essa vem da promessa cumprida em Cristo e acessada pela fé, como ensina a Epístola (Santo Ambrósio, Tratado sobre o Evangelho de São Lucas).
📖O episódio da cura dos dez leprosos é narrado exclusivamente por São Lucas. No entanto, São Mateus e São Marcos relatam a cura de um único leproso, acrescentando detalhes significativos: Jesus, movido de compaixão, toca o doente (Mt 8, 3; Mc 1, 41), um ato que demonstra Sua soberania sobre as leis de pureza ritual e Sua intimidade com o sofredor. Além disso, a ordem para "fazer a oferta prescrita por Moisés" é mais explícita nesses evangelhos, sublinhando o cumprimento da Lei antes de sua superação pela fé, que é o foco central da narrativa de Lucas. São João não narra curas de lepra, focando em outros milagres que revelam a glória de Cristo de maneira distinta.
🕊️A afirmação de Cristo ao samaritano, "tua fé te salvou", ecoa diretamente a teologia central de São Paulo, que distingue a justificação obtida pela fé daquela buscada pelas obras da Lei. Em sua Epístola aos Romanos, Paulo ensina que "o homem é justificado pela fé, sem as obras da Lei" (Rm 3, 28), um princípio perfeitamente ilustrado pelo samaritano, que, estando fora da Lei mosaica, alcança a salvação pela fé em Cristo. Além disso, a ingratidão dos nove contrasta com as exortações paulinas à ação de graças contínua, como em Colossenses, onde se lê: "Sede agradecidos... dando por Ele graças a Deus Pai" ( Cl 3 , 15-17), mostrando que a gratidão é uma marca essencial da vida renovada em Cristo, que vai além do mero cumprimento de preceitos.
🏛️Os documentos do Magistério, como os decretos do Concílio de Trento, aprofundam a dinâmica da salvação vista no Evangelho. O Concílio ensina que a fé é "o início, o fundamento e a raiz de toda a justificação", mas que essa fé deve ser viva e operar pela caridade para ser salvífica (Sessão VI, Cap. 8). Isso distingue a fé inicial dos dez leprosos da fé completa do samaritano, que retorna em um ato de amor e gratidão. Adicionalmente, o Catecismo Romano, ao tratar do sacramento da Penitência, interpreta a ordem de Jesus "mostrai-vos aos sacerdotes" como uma prefiguração da confissão sacramental, na qual o pecador, já perdoado por Deus através da contrição, recebe a absolvição e a reintegração eclesial pela autoridade do sacerdote, que confirma a cura da lepra da alma.