05 JUNHO - S. BONIFÁCIO, Bispo e Mártir


São Bonifácio, nascido em 675 na Inglaterra, dedicou sua vida à missão evangelizadora, partindo para a Germânia por volta de 716. Foi ordenado bispo em 722, tornando-se arcebispo e líder espiritual das regiões convertidas. Realizou sínodos significativos para organizar a Igreja na Germânia entre 742 e 747. Enfrentou o martírio em 5 de junho de 754, sendo assassinado durante uma missão em Frísia. Sua memória é celebrada no dia de sua morte e seu corpo repousa na catedral de Fulda. A alma de São Bonifácio ardia com o fogo do amor divino, que o impelia a deixar sua terra natal e o conforto monástico para levar a luz do Evangelho aos povos pagãos. Como monge beneditino, ele se formou na disciplina da oração e na obediência à vontade de Deus, vendo na conversão das almas uma oferta ao Criador. Sua coragem diante das adversidades e sua humildade ao organizar a Igreja nas terras bárbaras refletem uma vida ancorada na fé, que buscava não sua glória, mas a de Cristo. Ele viveu como um pastor que, mesmo enfrentando a espada, nunca abandonou o rebanho que lhe foi confiado. Entre as contribuições de São Bonifácio, destacam-se suas cartas, que revelam seu zelo pastoral e sua sabedoria na orientação da Igreja. Um trecho de uma de suas cartas a um monge (Epistolae, c. 732) exorta: “Não te deixes intimidar pelos perigos do mundo, mas confia na força que vem de Deus, pois é Ele quem guia os passos dos que O servem.”
 
Introito (Sl 21, 15; 68, 10 | Sl 72, 1)
Exsultábo in Ierúsalem et gaudébo in pópulo meo... Exultarei em Jerusalém e regozijar-me-ei em meu povo; e nele não mais se ouvirão prantos nem lamentos. Meus eleitos não trabalharão sem proveito, nem terão filhos para perecerem; porque constituem uma geração abençoada pelo Senhor e seus descendentes com eles. Ps. Ó Deus, nós escutamos com os nossos ouvidos; nossos país narraram a obra que fizestes em seus dias.

Epístola (Eclo 44, 1-15)
Louvemos esses homens ilustres, nossos país, em suas gerações. Por eles o Senhor operou muitas maravilhas e assinalou seu poder desde o começo. Dominaram em seus estados; foram homens grandes em poder, dotados de prudência; pelos fatos que anunciaram, provaram sua dignidade de profetas. Eles dirigiram o povo de seu tempo e as nações receberam a força de sua sabedoria pelos seus ensinamentos santíssimos. Inventaram por sua habilidade acordes harmoniosos e publicaram cânticos em seus escritos. Eram homens ricos em virtude; tiveram gosto pela beleza e estabeleceram a paz em suas casas. Todos eles conquistaram a glória entre as gerações de seu povo e foram louvados em seus dias. Seus descendentes deixaram um nome que fez brilhar seu louvor. Outros foram esquecidos; pereceram como se não tivessem existido. Nasceram, como se não tivessem nascido, e como eles, os seus filhos. Aqueles eram homens de misericórdia, cujas obras de piedade subsistem para sempre. Os bens que deixaram permanecem para sua posteridade; seus netos são uma santa herança e seus descendentes ficaram fiéis à aliança. Por causa deles, seus filhos viverão eternamente. Sua descendência e sua glória não terão fim. Seus corpos foram sepultados em paz e seu nome viverá de geração em geração. Exaltem os povos sua sabedoria e a assembléia publique os seus louvores.

Evangelho (Mt 5, 1-12)
Naquele tempo, vendo Jesus as multidões, subiu a um monte, e, tendo-se assentado, aproximaram-se d’Ele os seus discípulos. E, abrindo sua boca, ensinava-lhes, dizendo: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra. Bem- aventurados os que choram, porque eles serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça porque deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, falarem todo o mal contra vós, por minha causa. Alegrai-vos, e exultai, porque a vossa recompensa será grande nos céus.

Homilias e Explicações Teológicas
A verdadeira glória dos justos não reside em monumentos terrenos ou louvores humanos, mas na sua participação na sabedoria divina, que os eleva acima das vaidades mundanas e os torna luz para as gerações futuras, pois sua vida, enraizada na virtude, reflete a imagem de Deus e inspira a Igreja a perseverar na santidade (Santo Agostinho, Sermão 335). A bem-aventurança proclamada por Cristo não é um chamado à passividade, mas uma exigência de conformar o coração à justiça divina, onde a pobreza de espírito e a mansidão se tornam força transformadora que desafia as estruturas do pecado e constrói o Reino de Deus (Santo Ambrósio, Comentário ao Evangelho de Mateus). A memória de São Bonifácio, que selou sua missão com o martírio, ilustra que a verdadeira felicidade dos bem-aventurados se manifesta na coragem de oferecer a vida pela verdade, pois o mártir, ao imitar Cristo, torna-se semente de novos cristãos (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 124). A sabedoria dos anciãos, como descrita no Eclesiástico, aponta para a eternidade da Igreja, que perpetua a memória dos santos não por glória própria, mas para revelar a providência divina que guia a história da salvação (Santo Atanásio, Contra os Arianos, Discurso 3).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Sermão da Montanha em Mateus 5,1-12 apresenta as Bem-aventuranças como a constituição do Reino de Deus, com uma estrutura sistemática que enfatiza a interioridade e a universalidade da vocação à santidade. Em Lucas 6,20-23, as Bem-aventuranças são mais breves, com ênfase nas condições concretas de pobreza e sofrimento, omitindo virtudes espirituais como a mansidão e a pureza de coração, e incluindo “ais” contra os ricos e saciados (Lc 6,24-26), o que destaca um contraste social ausente em Mateus. Marcos não apresenta um sermão equivalente, mas sua narrativa da escolha dos discípulos (Mc 3,13-19) complementa Mateus ao mostrar que os chamados à montanha são enviados para proclamar o Reino, sugerindo que as Bem-aventuranças implicam missão. Em João, a ausência de um discurso semelhante é compensada pela ênfase no amor como cumprimento da lei (Jo 13,34-35), que ilumina a Bem-aventurança da misericórdia em Mateus, apontando para a caridade como expressão prática da santidade.

Comparação com Textos de São Paulo
As Bem-aventuranças de Mateus 5,1-12 proclamam a felicidade dos que vivem para a justiça e a misericórdia, enquanto São Paulo, em Romanos 8,18-25, complementa essa visão ao descrever a esperança dos sofrimentos presentes, que conduzem à glória futura, destacando a paciência escatológica não explicitada em Mateus. Em 1 Coríntios 1,26-31, Paulo enfatiza que Deus escolhe os humildes e fracos para confundir os fortes, ecoando a pobreza de espírito de Mateus, mas com foco na eleição divina como fonte da bem-aventurança. A memória de São Bonifácio ressoa com Gálatas 2,20, onde Paulo fala de estar “crucificado com Cristo”, apontando para o martírio como realização plena da Bem-aventurança dos perseguidos. Já o Eclesiástico 44,1-15, que exalta os antepassados pela sua sabedoria, encontra paralelo em Filipenses 3,17, onde Paulo exorta a imitar os que vivem segundo o modelo cristão, mas adiciona a necessidade de vigilância contra falsos mestres, um aspecto prático ausente no texto sapiencial.

Comparação com Documentos da Igreja Pré-Vaticano II
O Eclesiástico 44,1-15 exalta a memória dos justos como exemplo perene, e o Concílio de Trento (Sessão XXV, Decreto sobre os Santos) complementa isso ao afirmar que a veneração dos santos não é apenas memória, mas um chamado à imitação de suas virtudes, com ênfase na intercessão celestial, um aspecto não abordado diretamente no texto bíblico. As Bem-aventuranças de Mateus 5,1-12, que delineiam o caminho da santidade, encontram eco na Encíclica Rerum Novarum (1891), que, embora focada na justiça social, destaca a dignidade dos pobres e oprimidos como reflexo da pobreza de espírito, mas com uma aplicação prática às condições laborais, ausente em Mateus. A vida de São Bonifácio, como mártir e missionário, alinha-se com o Breviário Romano (Edição de 1960), que celebra os mártires como testemunhas da fé que fortalecem a Igreja militante, um tema que amplia a Bem-aventurança dos perseguidos ao contexto eclesial. A Encíclica Quod Iam Diu (1918) reforça a esperança escatológica das Bem-aventuranças, ligando-as à paz divina que transcende as tribulações terrenas, um enfoque universalista não explicitado em Mateus.