10 set
S. Nicolau de Tolentino, Confessor


✨Nascido na Itália em 1245, São Nicolau de Tolentino ingressou na Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, onde sua vida foi marcada por uma profunda austeridade, oração incessante e um amor ardente pelas almas do purgatório, por quem oferecia missas, jejuns e penitências. Famoso por seus milagres e por resistir vitoriosamente a severas tentações demoníacas, ele se tornou um pregador eloquente e um confessor compassivo, dedicando sua vida a aliviar o sofrimento tanto dos vivos quanto dos mortos, encarnando o ideal de renúncia ao mundo para obter o tesouro celestial.

🕯️ Introito (Sl 91, 13-14 | ib., 2)
Justus ut palma florébit... O Justo floresce como a palmeira, na plenitude da força, como o cedro do Líbano, plantado na casa do Senhor e nos átrios da casa de nosso Deus. Sl. É bom louvar o Senhor e cantar salmos em honra de vosso Nome, ó Altíssimo.

📜 Epístola (I Cor 4, 9-14)
São Paulo Apóstolo aos Coríntios. Irmãos: Somos dados em espetáculo ao mundo, aos Anjos e aos homens. Somos néscios por amor de Cristo, mas vós sois sábios em Cristo; nós somos fracos, e vós fortes; vós estimados e nós desprezados. Até esta hora padecemos fome e sede, e estamos nus; somos esbofeteados e não temos morada certa. Fatigamo-nos a trabalhar com as nossas mãos. Amaldiçoam-nos, e bendizemos; perseguem-nos, e sofremos; blasfemam contra nós, e rezamos. Somos tratados como a imundície deste mundo, a escória de todos, até agora. Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas admoesto-vos como a filhos muito amados em Jesus Cristo, Senhor nosso.

✝️ Evangelho (Lc 12, 32-34)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Não temais, ó pequeno rebanho, pois foi do agrado de vosso Pai dar-vos o seu Reino. Vendei o que possuís e dai-o de esmola. Fazei para vós bolsas que não envelhecem, um tesouro inexaurível no céu, onde não chega o ladrão, nem a traça corrói. Porque onde está o vosso tesouro aí estará também o vosso coração.

🤔 Reflexões

💡A vida de São Nicolau de Tolentino é a exegese viva dos textos litúrgicos deste dia. Ele encarnou a figura do apóstolo descrita por São Paulo: um "néscio por amor de Cristo", que abraçou a fraqueza, o desprezo e as privações ("fome e sede") como caminho para a santidade. Esta renúncia radical só é possível à luz do Evangelho, onde Cristo assegura ao "pequeno rebanho" que não há o que temer, pois a recompensa é o próprio Reino. O mandamento de "vender o que se possui" e buscar um "tesouro inexaurível no céu" foi o mapa que guiou a vida de São Nicolau e de todos os confessores que, ao esvaziarem suas mãos dos bens terrenos, permitiram que seus corações se fixassem inteiramente em Deus. O coração, inevitavelmente, segue o tesouro; ao escolher o tesouro eterno, o santo elevou seu coração às realidades celestes. Pois, se os bens estão na terra, o coração arrasta-se pela terra; mas se estiverem no céu, o coração se eleva ao céu (Santo Agostinho, Enarrationes in Psalmos, 122).

📖O Evangelho de Lucas apresenta o conselho de buscar o tesouro celeste com uma introdução única e pastoral: "Não temais, ó pequeno rebanho", conferindo um tom de ternura e encorajamento ausente nos paralelos. Enquanto Mateus (6, 19-21), no Sermão da Montanha, apresenta o preceito de forma mais direta e doutrinal, Lucas o insere num contexto de confiança filial no Pai. Além disso, a exortação de Lucas é mais explícita e radical: "Vendei o que possuís e dai-o de esmola", ao passo que Mateus foca na instrução de "não acumular tesouros na terra". Marcos (10, 21), por sua vez, narra a aplicação prática deste princípio no diálogo com o jovem rico, onde a venda dos bens é apresentada como um convite específico à perfeição.

✒️São Paulo aprofunda a teologia do "tesouro no céu" ao identificar esse tesouro com o próprio Cristo. Em Filipenses (3, 8), ele afirma ter considerado todas as coisas terrenas como "perda" e "lixo" para "ganhar a Cristo", que é o tesouro supremo. A orientação do coração, mencionada por Lucas, é ecoada em Colossenses (3, 1-2), onde Paulo exorta a "buscar as coisas do alto" e a "pensar nas coisas do alto, e não nas que são da terra". Essa perspectiva paulina transforma o ato de desapego material de uma simples renúncia em uma busca ativa e apaixonada pela união com a pessoa de Cristo, o único bem que não se corrompe e que sacia plenamente o coração.

🏛️As regras monásticas e as constituições das ordens religiosas, como a dos Agostinianos à qual pertenceu São Nicolau, formalizam o preceito evangélico do desapego. A Regra de São Bento, por exemplo, estabelece que "todas as coisas sejam comuns a todos" para que ninguém chame algo de seu, erradicando o vício da propriedade privada. Os documentos pontifícios que aprovaram as ordens mendicantes exaltam o voto de pobreza como uma imitação apostólica e um testemunho escatológico do Reino dos Céus. Encíclicas como a Rerum Novarum esclarecem que, para os leigos, a posse de bens implica uma grave responsabilidade de usá-los como "ministros da providência divina", destinando o supérfluo para a caridade, cumprindo assim o preceito de "dar esmola" sem necessariamente vender todos os bens.