Introitus.
Salmo 54, 2-3. Exáudi, Deus, oratió nem meam, et ne des péxeris deprecatiónem meam... Escuta, ó Deus, a minha oração, e não desprezes a minha súplica: atende-me e ouve-me. Salmo 54, 3-4. Estou entristecido na minha aflição, e fui perturbado pela voz do inimigo e pela tribulação do pecador.
Êxodo 32,7-14
Então disse o Senhor a Moisés: Vai, desce, porque o teu povo, que tiraste da terra do Egito, se corrompeu. Bem depressa se desviaram do caminho que eu lhes tinha ordenado; fizeram para si um bezerro de fundição, e o adoraram, e lhe ofereceram sacrifícios, e disseram: Estes são os teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito. Disse mais o Senhor a Moisés: Tenho visto este povo, e eis que é povo de dura cerviz. Agora, pois, deixa-me, que se acenda contra eles a minha ira, e os consuma; e de ti farei uma grande nação. Porém Moisés suplicou ao Senhor seu Deus, dizendo: Por que, Senhor, se acende a tua ira contra o teu povo, que tiraste da terra do Egito com grande fortaleza e com mão poderosa? Por que hão de dizer os egípcios: Com mau intento os tirou, para os matar nos montes, e para os consumir da face da terra? Acalma a tua ira, e arrepende-te deste mal contra o teu povo. Lembra-te de Abraão, de Isaque, e de Israel, teus servos, aos quais juraste por ti mesmo, dizendo-lhes: Multiplicarei a vossa descendência como as estrelas do céu, e toda esta terra, de que falei, a darei à vossa descendência, e a possuirão para sempre. E o Senhor se arrependeu do mal que dissera que havia de fazer ao seu povo.
João 7,14-31
Já no meio da festa, subiu Jesus ao templo, e ensinava. E os judeus se maravilhavam, dizendo: Como sabe este letras, não as tendo aprendido? Respondeu-lhes Jesus, dizendo: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá da doutrina, se é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo. O que fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça. Não vos deu Moisés a lei? E nenhum de vós cumpre a lei. Por que procurais matar-me? Respondeu a multidão, e disse: Tens demônio; quem procura matar-te? Jesus respondeu, e disse-lhes: Uma obra fiz, e todos vos maravilhais por isso. Moisés vos deu a circuncisão (não que fosse de Moisés, mas dos pais), e no sábado circuncidais um homem. Se o homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja quebrada, indignais-vos contra mim, porque no sábado fiz um homem são de todo? Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça. Diziam, pois, alguns dos de Jerusalém: Não é este o que procuram matar? Eis que fala livremente, e nada lhe dizem. Porventura sabem os príncipes que este é verdadeiramente o Cristo? Mas deste sabemos donde é; ora, quando vier o Cristo, ninguém saberá donde é. Clamava, pois, Jesus no templo, ensinando, e dizendo: Vós me conheceis, e sabeis donde sou; e eu não vim de mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis. Mas eu o conheço, porque dele sou, e ele me enviou. Procuravam, pois, prendê-lo; mas ninguém lhe deitou as mãos, porque ainda não era vinda a sua hora. E muitos da multidão creram nele, e diziam: Quando vier o Cristo, fará mais sinais do que os que este tem feito?
Homilias
Santo Agostinho (Sermão 113A) - A sabedoria divina manifesta-se na humildade do Mestre que ensina sem arrogância, mostrando que a verdadeira ciência vem de Deus, não do esforço humano isolado. A multidão se espanta com a falta de estudos formais de Cristo, mas o espanto revela a incapacidade humana de compreender que o Verbo encarnado não precisa de mestres terrenos, pois Ele é a fonte de toda verdade. Aquele que busca a vontade do Pai encontra a luz para discernir o que é divino, enquanto os que se apegam à glória própria permanecem cegos. A Lei, dada como caminho de justiça, torna-se vazia sem o coração voltado para Deus, e a circuncisão no sábado aponta para a superioridade da caridade sobre a letra da Lei. Cristo, ao curar no sábado, não viola a Lei, mas a cumpre em seu espírito mais profundo, ensinando que o amor e a misericórdia transcendem as aparências legais. Os que o rejeitam julgam superficialmente, presos às suas próprias expectativas messiânicas, enquanto os humildes reconhecem os sinais e creem. A incredulidade dos líderes é um véu que os impede de ver que o enviado do Pai está diante deles, e a hora de sua glorificação ainda está por vir, determinada pela vontade divina.
São Tomás de Aquino (Suma Teológica, Suplemento, Q. 92, Art. 1) - O ensinamento de Cristo no templo revela a origem divina de sua doutrina, que não procede da invenção humana, mas da vontade eterna do Pai. A verdade se manifesta naquele que não busca a própria glória, mas a do Criador, mostrando que a autenticidade de um mestre está em sua submissão àquele que o envia. Os homens, ao se admirarem de sua sabedoria sem estudos, demonstram a limitação do intelecto natural, que não alcança os mistérios divinos sem a graça. A Lei de Moisés, enquanto prefiguração da ordem divina, é superada pela obra redentora de Cristo, que cura o homem inteiro, restaurando-o à imagem de Deus. A circuncisão no sábado é um sinal da justiça parcial, mas a cura plena no sábado é o cumprimento da justiça perfeita, pois o fim da Lei é a caridade. Os que tentam prendê-lo agem por ignorância da vontade divina, mas a providência os impede, pois o tempo da redenção segue o plano eterno. A multidão que crê reconhece os sinais como testemunho da missão messiânica, enquanto os incrédulos se perdem em especulações sobre a origem terrena, incapazes de elevar o olhar ao mistério da encarnação.
Santo Anselmo (Proslogion, Cap. 1-4) - A manifestação de Cristo como mestre no templo é um convite à alma para buscar a verdade além das aparências sensíveis. Sua sabedoria, que não vem de escolas humanas, aponta para a luz inacessível de Deus, que ilumina todo homem que deseja conhecê-lo. A multidão se maravilha, mas o verdadeiro maravilhar-se é reconhecer que Deus se fez homem para ensinar a humanidade a encontrar o Pai. A Lei, com seus preceitos, é um espelho da ordem divina, mas Cristo, ao curar no sábado, mostra que a ordem divina é a própria vida, que supera toda prescrição. Julgar justamente não é seguir as aparências, mas contemplar a intenção do coração, que em Cristo é puro amor. Os que o rejeitam estão presos à ideia de um Messias glorioso segundo os padrões humanos, enquanto ele revela a glória humilde do enviado do Pai. A incredulidade é a recusa de elevar a mente ao mistério, mas os que creem são atraídos pela graça que os sinais manifestam. Sua hora ainda não chegada é o sinal de que a redenção se cumpre no tempo de Deus, não no dos homens.