II DOMINGO DA PAIXÃO - DOMINGO DE RAMOS


BENÇÃO DOS RAMOS

Introito (Sl 30, 10, 16 e 18 | ib., 2) 
Hosánna fílio David: benedíctus, qui venit in nómine Dómini. O Rex Israël... Hosana ao Filho de Davi! Bendito seja O que vem em Nome do Senhor! Rei de Israel! Hosana nas alturas!

Leitura do Êxodo 15:27;16:1-7 
E vieram a Elim, onde havia doze fontes de água, e setenta palmeiras; e ali se acamparam junto das águas... E partindo de Elim, toda a multidão dos filhos de Israel veio ao deserto de Sin, que está entre Elim e Sinai, no dia quinze do segundo mês, depois que saíram da terra do Egito. E toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e contra Aarão no deserto. E disseram-lhes os filhos de Israel: Quem dera que nós tivéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, e comíamos pão com fartura; pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão. Então disse o Senhor a Moisés: Eis que eu farei chover pão do céu para vós; e sairá o povo, e colherá cada dia a porção para esse dia, para que eu o prove, se anda na minha lei, ou não. E no sexto dia prepararão o que houverem colhido, e será o dobro do que costumam colher cada dia. E disseram Moisés e Aarão a todos os filhos de Israel: À tarde sabereis que o Senhor vos tirou da terra do Egito. E pela manhã vereis a glória do Senhor, porque ele ouviu as vossas murmurações contra o Senhor; pois que somos nós, para que murmureis contra nós?

Evangelho (Mt 21, 1-9) 
Naquele tempo, aproximando-se Jesus de Jerusalém e chegando a Betfagé, junto ao monte das Oliveiras, enviou dois dos seus discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo achareis uma jumenta amarrada e um jumentinho com ela. Desprendei-a e trazei-mos. Se alguém vos disser alguma coisa, respondei que o Senhor precisa deles, e logo os deixará trazer. Ora, tudo isto aconteceu para se cumprir a palavra do Profeta: Dizei à filha de Sião: Eis que o teu Rei vem a ti, cheio de mansidão, montado sobre uma jumenta e um jumentinho, filho da que leva o jugo. Indo então os discípulos, fizeram como Jesus lhes ordenara. Trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram sobre eles as suas capas e fizeram Jesus assentar-se em cima. E numerosa multidão estendeu os seus mantos pela estrada; muitos cortavam ramos das árvores e com eles juncavam o caminho. E as turbas que O precediam e as que O seguiam, clamavam, dizendo: Hosana ao Filho de Davi! Bendito seja O que vem em Nome do Senhor!

MISSA

Introito (Sl 21, 20 e 22 | ib., 2) (Áudio) 
Dómine, ne longe fácias auxílium tuum a me, ad defensiónem meam áspice... Senhor, não afasteis de mim o vosso auxílio; atendei à minha defesa; livrai-me da boca do leão, e do chifre do unicórnio salvai a minha humildade. Sl. Ó Deus, Deus meu, olhai para mim. Por que me desamparastes? O clamor de meus delitos afasta de mim a salvação. — Senhor, não afasteis…

Epístola (Fil 2, 5-11)
Irmãos: Tende em vós os mesmos sentimentos que teve Jesus Cristo, que, sendo Deus por natureza, não reputou usurpação ser igual a Deus. E aniquilou-se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens e sendo reconhecido como homem pela aparência. Humilhou-se a Si mesmo, feito obediente até a morte, e morte de Cruz. Por isso também Deus O exaltou e Lhe deu um Nome [novo] que está acima de todo nome (aqui todos se ajoelham), a fim de que ao Nome de Jesus se dobrem os joelhos de todos aqueles que estão nos céus, na terra e nos infernos, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor na glória de Deus Pai.

Paixão (Mt 26, 36-75; 27, 1-54) 
Naquele tempo, dirigiu-se Jesus com seus discípulos a um lugar chamado Getsémani, e ali disse a seus discípulos: Sentai-vos aqui, enquanto eu vou adiante a orar. E levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu começou a entristecer-se e a angustiar se. E disse-lhes então : Minha alma está triste até a morte: ficai aqui e velai comigo. Adiantando-se um pouco, prostrou-se, com a face em terra, e orou, dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; contudo não seja como eu quero, e sim como Tu queres. Voltando a seus discípulos, achou-os a dormir, e disse a Pedro: Assim, não pudestes velar uma hora comigo? Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito em verdade está pronto, mas a carne é fraca. Retirando-se outra vez, orou, dizendo: Meu Pai, se não pode este cálice passar sem que eu o beba, faça-se a tua vontade. Indo novamente a eles, achou-os a dormir, porque os seus olhos estavam pesados de sono. E deixando-os,, foi-se de novo e orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Então veio a seus discípulos e disse-lhes: Dormi agora e repousai; eis que chegou a hora em que o Filho do homem será entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos. Vamos, eis que se aproxima quem me trairá. Enquanto Ele falava, eis que chega Judas, um dos doze, e com ele uma grande multidão com espadas e paus enviada pelos príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo. Ora, o que O traíra lhes tinha dado um sinal, dizendo: Aquele que eu beijar, Esse é; prendei-O. E logo, chegando-se a Jesus, disse: Salve, Mestre! E beijou-O. Disse Jesus: Amigo, a que vieste? Então os outros avançaram, agarraram a Jesus e O prenderam. E logo um dos que estavam com Jesus [Pedro], estendendo a mão, desembainhou a sua espada e feriu o servo do príncipe dos sacerdotes, cortando-lhe uma orelha. Então Jesus lhe disse: Mete a tua espada em seu lugar; porque todos que tomarem a espada, à espada morrerão. Acaso pensais que não poderia rogar a meu Pai, que me enviasse agora mais de doze legiões de Anjos [72.000]? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim deve suceder? Naquela mesma hora disse Jesus às turbas: Como se eu fora um ladrão, viestes armados de espadas e varapaus para me prender; todos os dias estava sentado entre vós, ensinando no templo, e não me prendestes. Tudo isto, porém, aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos Profetas. Então, todos os discípulos abandonando-O, fugiram. Aqueles, porém, que haviam prendido a Jesus, O levaram a Caifás, príncipe dos sacerdotes, onde os escribas e anciãos se haviam reunido. Pedro, no entanto, O foi seguindo de longe, até o pátio do príncipe dos sacerdotes. E entrando, sentou-se com os criados para ver o fim. Os príncipes dos sacerdotes e todo o concelho buscavam algum falso testemunho contra Jesus, para O poderem condenar à morte, mas não o achavam, ainda que muitas testemunhas falsas se houvessem apresentado. Finalmente, vieram duas falsas testemunhas e disseram: Este disse: Eu posso derribar o templo de Deus, e reedificá-lo em três dias. E levantando-se, o príncipe dos sacerdotes disse-Lhe: Nada respondes ao que estes dizem contra Ti? Jesus porém calava-se. E o príncipe dos sacerdotes disse-Lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo, que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus. Disse lhe Jesus: Sim, eu sou. Digo-vos, porém, que de ora em diante vereis o Filho do homem sentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu. Então o príncipe dos sacerdotes rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou. Para que necessitamos ainda de testemunhas? Eis que agora ouvistes a sua blasfêmia. Que vos parece? Responderam eles: É réu de morte. E cuspiram no rosto de Jesus e Lhe deram punhadas. E outros Lhe deram bofetadas, dizendo: Adivinha, ó Cristo; quem foi que Te bateu ? Pedro estava sentado fora, no pátio. E chegou-se a ele uma criada, dizendo: Tu também estavas com Jesus, o Galileu. Ele negou, no entanto, diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes. Saindo ele à porta, viu-o outra criada e disse aos que aí se achavam: Também este estava com Jesus, o Nazareno. E Pedro negou outra vez com juramento: Não conheço o homem. Pouco depois aproximaram-se os que ali estavam, e disseram a Pedro: Certamente tu és também deles; porque a tua fala te dá a conhecer. Então começou ele a fazer imprecações e a jurar que não conhecia tal homem. E logo o galo cantou. Lembrou-se então Pedro da palavra de Jesus que lhe dissera: Antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes. E, saindo, chorou amargamente. Logo ao amanhecer fizeram conselho todos os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo, contra Jesus para O condenarem à morte. E levando-O amarrado, eles O entregaram ao governador Pôncio Pilatos. Quando Judas, que o traíra, viu que Jesus fora condenado, cheio de arrependimento foi levar as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, a traindo o sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Arranja-te. E ele, jogando os dinheiros no templo, retirou-se e foi enforcar-se com uma corda. Os príncipes dos sacerdotes, tomando então as moedas de prata, disseram: Não é lícito pô-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue. E deliberaram entre si, comprar com elas o campo de um oleiro, para sepultura dos peregrinos. Por isso chamou-se àquele campo Hacéldama, isto é, campo de sangue, até o dia de hoje. Assim se cumpriu o que fora dito pelo profeta Jeremias, nestas palavras: Tomaram as trinta moedas de prata, custo d’Aquele cujo preço foi avaliado pelos filhos de Israel, e as deram pelo campo de um oleiro, como o Senhor me ordenou. E compareceu Jesus diante do governador, que O interrogou desse modo: És Tu o Rei dos judeus? Disse-lhe Jesus: Sim, eu o sou. E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e anciãos, nada respondeu. Então Pilatos disse-Lhe: Não ouves quantas coisas dizem as testemunhas contra Ti? E Jesus a nada respondeu, de maneira que o governador se admirava em extremo. Naquele dia solene costumava o governador soltar um preso ao povo, qualquer que quisessem. E havia então um preso afamado chamado Barrabás. Pilatos disse, pois, à multidão reunida: Qual dos dois quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, que se chama o Cristo? Porque sabia que por inveja é que O haviam entregado. E estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não te embaraces com esse Justo, porquanto muito sofri hoje, em sonhos, por causa d’Ele, Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram às turbas que pedissem Barrabás, e fizessem morrer a Jesus. O governador, respondendo, disse-lhes: Qual destes dois quereis que vos solte? E eles responderam: Barrabás. Pilatos lhes disse: Que farei pois, de Jesus, que se chama o Cristo? Disseram todos: Seja crucificado. O governador lhes observou ainda: Que mal fez Ele no entanto? E eles ainda mais gritavam, dizendo: Seja crucificado. Pilatos, vendo que nada conseguia e antes crescia o tumulto, mandou vir água e lavou as mãos diante do povo, dizendo: Eu sou inocente do sangue deste Justo: vede-o, vós outros. Respondendo, todo o povo disse: Caia seu sangue sobre nós e sobre os nossos filhos. E logo Pilatos soltou-lhes Barrabás e entregou-lhes Jesus, depois de O açoitar, para ser crucificado. Então os soldados do governador levaram Jesus ao pretório e reuniram em redor d’Ele toda a corte; despindo-O, eles O cobriram com um manto de púrpura; e tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na sobre a sua cabeça; e meteram uma cana em sua mão direita. Ajoelhando diante d’Ele, escarneciam, dizendo : Salve, Rei dos Judeus! E cuspindo n’Ele, tomavam a cana e Lhe batiam na cabeça. E depois que zombaram d’Ele, tiraram-Lhe o manto, e O vestiram com os seus vestidos, levando-O para ser crucificado. Ao sair, encontraram um homem de Cirene, por nome Simão, ao qual forçaram a levar a cruz de Jesus. E chegaram ao lugar que se chama Gólgota, isto é, lugar do Calvário. Deram-Lhe então a beber vinho misturado com fel; mas Jesus, provando-o, não o quis beber. Depois O crucificaram, e repartiram os seus vestidos, lançando a sorte para que se cumprisse o que fora predito pelo Profeta nestas palavras: Dividiram entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica, lançaram sortes. E assentando-se, eles O vigiavam. E puseram sobre a sua cabeça a causa da sua morte, assim A escrita: Este é Jesus, Rei dos judeus. Juntamente com Ele, foram crucificados dois ladrões, um à direita e outro, à esquerda. E os que passavam blasfemavam contra Ele, meneando a cabeça e dizendo: Tu, que destróis o templo de Deus e em três dias o reedificas, salva-Te a Ti mesmo. és o Filho de Deus, desce da cruz. Da mesma forma também os príncipes dos sacerdotes com os escribas e anciãos, zombando d’Ele, diziam : A outros salvou; a Si mesmo não se pode salvar. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e n’Ele havemos de crer. Confiou em Deus; livre-O Esse agora, se O ama, porque disse: Sou o Filho de Deus. E os mesmos impropérios Lhe lançavam em rosto os ladrões que com Ele estavam crucificados. E desde a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra, até a hora nona. [Das 12 às 15 horas.] E perto da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamma sabactháni? Isto é: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? E alguns dos que ali estavam, ouvindo-O, diziam: Ele chama por Elias. E logo, um deles, a correr, tomou uma esponja, e ensopando-a em vinagre, colocou-a em uma cana e Lhe dava a beber. E os outros diziam: Deixa, vejamos se Elias vem para O livrar. E Jesus, clamando outra vez em voz forte, entregou o espírito. (Aqui todos se ajoelham em honra da morte de Nosso Senhor) E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo. A terra tremeu, as pedras se fenderam, os sepulcros se abriram e muitos corpos dos santos, que tinham adormecido, ressuscitaram. E, saindo dos sepulcros depois de sua ressurreição, vieram à cidade santa e apareceram a muitos. O centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto e as coisas que aconteciam, tiveram muito medo e disseram: Verdadeiramente Este era o Filho de Deus. Achavam-se também ali, olhando de longe, muitas mulheres, as quais, desde a Galileia, haviam seguido a Jesus, servindo-O. Entre estas estavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. Quando se fez tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também era discípulo de Jesus. Ele foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ordenou então que lhe dessem o Corpo. E José, tomando o Corpo, envolveu-O em um lençol limpo, e depositou-O em um sepulcro novo que mandara abrir para si, na rocha. E encostando uma grande pedra à entrada do sepulcro, retirou-se.

Homilias e explicações teológicas 

A humildade de Cristo, revelada em sua obediência até a morte, é o fundamento da verdadeira caridade, pois Ele, sendo Deus, não buscou glória própria, mas a salvação dos homens, ensinando-nos que a verdadeira grandeza reside em servir sem esperar recompensa (Santo Agostinho, Sermões sobre a Paixão, 340). A kénosis divina, ao assumir a forma de servo, manifesta o paradoxo do poder de Deus, que se expressa na fraqueza, mostrando que a vitória sobre o pecado não vem pela força, mas pelo sacrifício voluntário (São Gregório de Nissa, Homilia sobre Filipenses). O esvaziamento de Cristo não é uma perda de divindade, mas a expressão suprema de sua liberdade, pois, ao renunciar à glória, Ele demonstra que o amor divino não se limita às prerrogativas celestiais, mas se inclina ao humano para elevá-lo (São João Crisóstomo, Homilia sobre Filipenses, 7). A cruz, como trono de glória, revela que a exaltação de Cristo não é um retorno à condição anterior, mas uma nova manifestação do Reino, onde a obediência filial transforma a morte em vida para todos (Santo Ambrósio, Comentário sobre Filipenses). A Paixão, ao expor a fragilidade humana de Cristo, convida-nos a reconhecer que nossa redenção não depende de méritos próprios, mas da graça que flui de sua entrega total (Santo Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 46, a. 3). A traição de Judas e a negação de Pedro ilustram a miséria humana, mas também a paciência de Cristo, que, sem retaliar, acolhe a fraqueza para redimi-la, ensinando que o perdão precede a conversão (Santo Hilário de Poitiers, Comentário sobre Mateus, 26). O silêncio de Jesus perante Pilatos é a eloquência da verdade, que não necessita de defesa própria, pois sua força reside em sua coerência com a vontade do Pai (São Beda, o Venerável, Homilia sobre o Evangelho de Mateus). A crucificação, longe de ser derrota, é o momento em que o véu do templo se rasga, significando que o acesso a Deus não é mais mediado por rituais, mas pela pessoa de Cristo, sacerdote e vítima (São Leão Magno, Sermão sobre a Paixão, 52).

Síntese comparativa com os Evangelhos Sinóticos 
O Evangelho de Mateus (Mt 26,36-75; 27,1-54) apresenta a Paixão com ênfases distintas, mas os sinóticos complementam aspectos não explicitados. Marcos (Mc 14,32-72; 15,1-39) destaca a solidão de Jesus no Getsêmani, descrevendo sua angústia com maior intensidade ao dizer que Ele “começou a sentir pavor e angústia” (Mc 14,33), um detalhe emocional menos pronunciado em Mateus. Além disso, Marcos menciona que os discípulos fugiram após a prisão, incluindo um jovem que escapou nu (Mc 14,51-52), sugerindo o caos e o abandono total, ausente em Mateus. Lucas (Lc 22,39-71; 23,1-49) adiciona a aparição de um anjo consolando Jesus no Getsêmani (Lc 22,43) e o suor “como gotas de sangue” (Lc 22,44), enfatizando o sofrimento físico e a assistência divina, não relatados em Mateus. Lucas também inclui o arrependimento de Pedro com lágrimas após a negação (Lc 22,62), aprofundando o aspecto humano da fraqueza e da contrição. Na crucificação, Lucas registra Jesus perdoando os carrascos (“Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”, Lc 23,34) e a conversa com o “bom ladrão” (Lc 23,40-43), destacando a misericórdia e a promessa do Paraíso, temas ausentes em Mateus. Por fim, Lucas nota que as multidões voltaram “batendo no peito” (Lc 23,48), sugerindo um impacto coletivo imediato, diferente do foco de Mateus nos sinais cósmicos, como o terremoto.

Síntese comparativa com textos de São Paulo
Em 1 Coríntios 1,18-25, Paulo descreve a cruz como “loucura para os que perecem, mas poder de Deus para os que são salvos”, explicando teologicamente o paradoxo da crucificação, que Mateus apresenta narrativamente sem interpretação explícita. Em Romanos 5,6-11, Paulo enfatiza que “Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores”, destacando a iniciativa divina na redenção, um aspecto implícito, mas não desenvolvido, na Paixão de Mateus. Em 2 Coríntios 5,21, Paulo afirma que Deus “fez daquele que não conheceu pecado ser pecado por nós”, iluminando o significado sacrificial de Jesus na cruz, que Mateus descreve apenas como evento. Em Gálatas 3,13, Paulo interpreta a cruz como Cristo “tornando-se maldição por nós”, referindo-se à lei (Dt 21,23), o que adiciona uma dimensão jurídica à morte de Jesus, ausente em Mateus. Em Efésios 2,14-16, Paulo explica que Cristo, por sua cruz, “derrubou o muro de inimizade” entre judeus e gentios, sugerindo uma reconciliação universal que Mateus não explicita, apesar de narrar a ruptura do véu do templo. Finalmente, em Colossenses 1,20, Paulo fala da cruz como meio de “reconciliar consigo todas as coisas”, ampliando o impacto cósmico do sacrifício, que Mateus apenas insinua com sinais como a escuridão e o terremoto.