22 ABRIL - 3A-FEIRA DE PÁSCOA


Introito (Sl 138, 18 e 5-6 | Sl 104, 1)
Aqua sapiéntiæ potávit eos, allelúia: firmábitur in illis et non flectétur, allelúia... O Senhor os saciou com a água da sabedoria, aleluia; neles ela se firmará e não os deixará, aleluia; e os exaltará eternamente, aleluia, aleluia. Sl. Louvai ao Senhor e invocai o seu Nome; anunciai as suas obras entre as nações.

Epístola (At 13, 16 e 26-33)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.Naqueles dias, levantou-se Paulo e fazendo sinal com a mão para pedir silêncio, disse: Meus irmãos, descendentes da estirpe de Abraão e os que entre vós temem a Deus, a vós é que foi enviada esta palavra de salvação. Porque os habitantes de Jerusalém e os seus príncipes, não conhecendo a Jesus, nem as vozes dos Profetas que em cada sábado se leem, condenando-O, as cumpriram. Não encontrando n’Ele nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que Lhe tirasse a vida. Depois, tendo consumado todas as coisas que estavam escritas acerca de Jesus, desceram-No do madeiro, e O puseram em um sepulcro. Deus, porém, O ressuscitou dos mortos ao terceiro dia; e Jesus foi visto muitos dias por aqueles que tinham ido juntamente com Ele da Galileia a Jerusalém. Estes até agora são suas testemunhas ao povo. E nós vos anunciamos que aquela promessa feita a nossos país, Deus a cumpriu para os nossos filhos, pela ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Evangelho (Lc 24, 36-47)
Naquele tempo, apareceu Jesus no meio de seus discípulos e disse-lhes: A paz seja convosco. Sou eu, não temais. Perturbados porém, e espantados, eles julgaram ver um espírito. E Ele lhes disse: Por que estais perturbados e que pensamentos são esses que vos surgem nos corações? Olhai as minhas mãos e os meus pés, pois sou eu mesmo. Apalpai e vede, porque um espirito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. Como porém, eles não acreditassem ainda, cheios de alegria e admiração, Jesus disse-lhes: Tende aqui alguma coisa que se coma? Apresentaram-Lhe uma posta de peixe assado e um favo de mel. E tendo comido, à vista deles, tomando as sobras, deu-lhas. Disse-lhes depois: Estas são as palavras que vos disse quando ainda estava convosco, porque era preciso que se cumprisse tudo o que de Mim estava escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim era necessário que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos ao terceiro dia: e em seu Nome deve ser pregada a penitência e remissão dos pecados a todas as nações.

Homilias e Explicações Teológicas

A ressurreição de Cristo, proclamada por Paulo em Atos e manifesta em Lucas, revela a consumação da promessa divina, pois o Verbo encarnado, ao vencer a morte, não apenas cumpre as Escrituras, mas estabelece a Igreja como testemunha perene de sua vitória, chamando todos à conversão pela pregação do Evangelho (Santo Agostinho, Sermões sobre a Ressurreição, 234). A paz oferecida por Jesus aos discípulos, segundo Lucas, é o dom escatológico que reconcilia a humanidade com Deus, superando o temor e a dúvida, e esta paz é a mesma que Paulo anuncia em Antioquia como fruto da justificação pela fé no Ressuscitado (Santo Ambrósio, Comentário ao Evangelho de Lucas, 10.171). A abertura das Escrituras por Cristo aos discípulos, como narrado em Lucas, é um ato de iluminação divina que capacita a Igreja a compreender a unidade do Antigo e Novo Testamento, enquanto Paulo, em Atos, exemplifica essa exegese ao mostrar que o Messias prometido é o Crucificado glorificado (Santo Tomás de Aquino, Catena Aurea, sobre Lucas 24). A missão confiada aos apóstolos em Lucas, de serem testemunhas do perdão dos pecados, ecoa na pregação de Paulo, que não apenas anuncia a salvação, mas a vincula à necessidade de uma resposta ética e espiritual, pois a graça exige a conversão do coração (São João Crisóstomo, Homilias sobre Atos dos Apóstolos, 28).

Síntese Comparativa com os Demais Evangelhos

O relato de Lucas 24,36-47 destaca aspectos únicos em relação aos outros evangelhos. Diferentemente de Mateus 28,16-20, onde a aparição de Jesus ocorre na Galileia com ênfase na autoridade universal do Ressuscitado e no mandato missionário, Lucas foca na Jerusalém, na paz oferecida aos discípulos e na explicação das Escrituras como base para a missão. Em João 20,19-29, há semelhança na saudação de paz e na aparição em um ambiente fechado, mas João adiciona o dom do Espírito Santo e a missão de perdoar pecados, que em Lucas é implícita na pregação do arrependimento. Marcos 16,14-18, em sua versão longa, menciona a incredulidade dos discípulos, mas não detalha a explicação das Escrituras, centrando-se mais nos sinais que acompanharão os missionários. Lucas, portanto, é singular ao enfatizar a compreensão das Escrituras como fundamento da pregação e ao ligar a ressurreição à proclamação do perdão a todas as nações, começando por Jerusalém.

Síntese Comparativa com Textos de São Paulo

O evangelho de Lucas 24,36-47 encontra complementos significativos nas epístolas paulinas. Em Romanos 10,9-15, Paulo reforça a centralidade da ressurreição, declarando que a confissão de Jesus como Senhor e a crença em sua ressurreição são condições para a salvação, detalhando a fé como resposta à pregação, algo que Lucas apenas implica na missão dos apóstolos. Em 1 Coríntios 15,3-8, Paulo oferece uma lista de testemunhas da ressurreição, incluindo sua própria experiência, o que amplia o relato de Lucas, que se limita aos discípulos em Jerusalém. Em Gálatas 3,13-14, Paulo explica teologicamente a redenção pela cruz e ressurreição como o meio pelo qual a bênção de Abraão alcança os gentios, um aspecto missionário que Lucas menciona, mas não desenvolve. Finalmente, em Efésios 2,17-18, a paz proclamada por Jesus em Lucas é interpretada por Paulo como a reconciliação entre judeus e gentios, formando um só povo em Cristo, um tema ausente no relato lucano.