01 JUNHO - DOMINGO DEPOIS DA ASCENSÃO


Introito (Sl 26, 7, 8 e 9 | ib., 1) (Áudio)
Exáudi, Dómine, vocem meam, qua clamávi ad te, allelúia... Ouvi, Senhor, a minha vos, com que Vos invoco, aleluia. Meu coração vos fala. Meus olhos procuram a vossa face, Senhor, vossa face, Senhor, eu procuro; não desvieis de mim o vosso olhar, aleluia, aleluia. Ps. O Senhor é a minha Luz e a minha Salvação; a quem temerei eu ?

Epístola (I Pe 4, 7-11)
Leitura da Carta de São Pedro Apóstolo.Caríssimos: Sede prudentes e vigiai em orações. Mas sede sobretudo perseverantes no Amor, uns para com os outros, porque o Amor cobre multidão de pecados. Exercei a hospitalidade entre vós, sem murmuração. Cada um conforme o dom que recebeu, pondo-o a serviço dos outros como bons dispensadores da multiforme graça divina. Se alguém fala, seja com palavras de Deus. Se alguém exerce ministério, seja com o poder que Deus lhe dá, para que em todas as coisas seja Deus glorificado por Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Evangelho (Jo 15, 26-27 e 16, 14)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Quando vier o Consolador que eu vos enviarei do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim.. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio. Estas coisas vos digo, para que não vos escandalizeis. Lançar-vos-ão fora das sinagogas; e virá a hora em que qualquer que vos matar julgará prestar serviço a Deus. E eles vos farão isto, porque não conhecem nem ao Pai, nem a Mim. Mas estas coisas vos digo, para que, ao chegar a hora, vos lembreis que eu vo-las disse.

Homilias e Explicações Teológicas
O Espírito da Verdade, prometido pelo Salvador, é o princípio vivificante que guia a Igreja à plena compreensão da divina revelação, não por invenção de novidades, mas por uma iluminação interior que desvela as riquezas contidas na Palavra de Cristo, conduzindo os fiéis à caridade perfeita e à humildade no serviço, como exorta a primeira leitura, para que cada um administre seus dons em benefício dos irmãos, glorificando a Deus. Esta ação do Espírito fortalece a comunidade dos crentes, tornando-a testemunha fiel da verdade divina, unida na diversidade de dons, mas ordenada à edificação do Corpo de Cristo, onde a hospitalidade e o serviço mútuo refletem a glória do Pai (Santo Agostinho, Sermão sobre João 15, 26-27). A caridade, que cobre a multidão dos pecados, é o vínculo que harmoniza os dons espirituais, pois o Espírito não apenas revela a verdade, mas a torna operante nos corações, levando os fiéis a viverem para a glória de Deus, como um sacrifício vivo, em contraste com a dissipação mundana (São Beda, o Venerável, Comentário sobre I Pedro 4). A missão do Espírito é glorificar Cristo, não se glorificando a si mesmo, mas manifestando a unidade do amor trinitário, que se reflete na Igreja quando os fiéis, movidos pela graça, se dedicam uns aos outros com fervor e humildade, sendo assim verdadeiros testemunhos da verdade divina (São Gregório Magno, Homilia sobre João 16).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de João (15, 26-27 e 16, 14) destaca o papel do Espírito Santo como o "Paráclito" e "Espírito da Verdade" que glorifica Cristo e guia os discípulos à verdade plena, um aspecto menos explícito nos outros evangelhos. Em Mateus, o Espírito é mencionado no batismo de Jesus (Mt 3, 16-17) e na missão dos discípulos (Mt 28, 19), mas sem ênfase em sua função de revelar internamente as palavras de Cristo. Marcos foca na ação do Espírito impulsionando Jesus ao deserto (Mc 1, 12), mas não desenvolve seu papel como testemunha da verdade ou glorificador de Cristo. Lucas, por sua vez, aproxima-se de João ao descrever o Espírito como aquele que capacita os discípulos para testemunhar (Lc 24, 49; At 1, 8), mas enfatiza mais a manifestação externa de poder, como em Pentecostes, do que a iluminação interior da verdade. João, exclusivamente, apresenta o Espírito como aquele que não fala por si mesmo, mas glorifica Cristo ao tornar suas palavras vivas nos corações dos fiéis.

Comparação com Textos de São Paulo
A leitura de I Pedro 4, 7-11, que exorta à caridade, hospitalidade e uso dos dons para a glória de Deus, encontra complemento nas epístolas paulinas, que aprofundam a unidade e diversidade dos dons espirituais. Em I Coríntios 12, 4-11, Paulo detalha que o Espírito distribui diferentes dons para o bem comum, enfatizando a unidade do Corpo de Cristo, um aspecto implícito, mas não desenvolvido, em I Pedro. Em Romanos 12, 6-8, Paulo reforça a exortação de Pedro ao uso dos dons com humildade e serviço, mas adiciona a ideia de que cada dom é uma graça específica para a edificação da Igreja, não apenas uma virtude geral. Quanto ao Evangelho de João (15, 26-27; 16, 14), a ação do Espírito como testemunha da verdade ressoa com Gálatas 5, 22-23, onde Paulo descreve os frutos do Espírito, como amor e verdade, que capacitam os fiéis a viverem como testemunhas de Cristo, mas sem a ênfase joanina na glorificação de Cristo como missão central do Espírito. Em Efésios 4, 3-4, Paulo destaca a unidade no Espírito, complementando a ideia de Pedro sobre a caridade como vínculo que cobre pecados e une a comunidade.

Comparação com Documentos da Igreja 
O "Catecismo Tridentino" (1566) ensina que o Espírito Santo é a fonte da unidade e santidade da Igreja, guiando os fiéis à verdade por meio dos sacramentos e da doutrina apostólica, complementando a ideia joanina do Espírito como aquele que glorifica Cristo ao revelar sua verdade (Parte I, Art. 9). A encíclica "Divinum Illud Munus" (1897) de Leão XIII aprofunda o papel do Espírito como o santificador que vivifica a Igreja, enfatizando sua ação na distribuição dos dons espirituais, o que amplia a exortação de Pedro sobre o uso dos dons para a glória de Deus. O "Missal Romano" de 1920, na liturgia de Pentecostes, destaca a efusão do Espírito como renovação da criação e capacitação dos apóstolos para testemunhar, reforçando João 15, 26-27, mas com maior foco na manifestação visível dos dons, como as línguas de fogo, do que na iluminação interior descrita por João.