Missa Comum das Festas da Bem-Aventurada Virgem Maria


Introito (- |Sl 44, 2)Salve, sancta Parens, eníxa puérpera Regem... Salve, ó Santa Mãe, em cujo seio foi gerado o Rei que governa o céu e a terra, por todos os séculos dos séculos. Sl. Exulta o meu coração em alegre canto; ao Rei dedico as minhas obras.

Leitura (Eclo 24, 14-16)
Desde o princípio e antes dos séculos fui criada; e não deixarei de existir em toda a sucessão dos tempos; na morada santa exerci perante Ele o meu ministério. Fui assim firmada em Sião, e repousei na cidade santa; e em Jerusalém está o meu poder. Arraiguei-me em um povo glorioso, e nesta porção do meu Deus, que é a sua herança. Na assembléia dos Santos, estabeleci a minha assistência.

Evangelho (Lc 11, 27-28)
Naquele tempo, falava Jesus ao povo, quando uma mulher elevando a voz, do meio da multidão, Lhe disse: Bem-aventurado o seio que Vos trouxe e os peitos que Vos amamentaram. Ele porém disse: Antes, bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a põem em prática.

Homilias e Explicações Teológicas
A Virgem Maria, celebrada na liturgia como Mãe de Deus, manifesta a plenitude da graça divina, sendo a primeira entre os redimidos a refletir a glória do Criador, pois sua alma, imaculada desde a concepção, foi adornada com virtudes que transcendem a natureza humana, tornando-a o modelo perfeito de obediência e humildade que o Introito (Sl 44, 2) exalta como a rainha adornada com esplendor celestial (Santo Agostinho, Sermão 195). A Leitura (Eclo 24, 14-16) apresenta a Sabedoria divina personificada, que encontra em Maria sua morada singular, pois ela, como a oliveira frutífera e a videira fecunda, é o canal pelo qual a Sabedoria encarnada, Cristo, veio ao mundo, sendo sua virgindade um sinal da pureza que acolhe o Verbo sem corrupção (São Bernardo de Claraval, Homilia super Missus Est 4). No Evangelho (Lc 11, 27-28), a bem-aventurança de Maria é elevada não apenas por sua maternidade física, mas por sua adesão perfeita à vontade divina, pois sua fé a fez ouvir e guardar a palavra de Deus, tornando-a a primeira discípula e a verdadeira Mãe dos fiéis (Santo Ambrósio, Exposição do Evangelho Segundo Lucas 2). Assim, Maria é o espelho da Igreja, que, como ela, é chamada a gerar Cristo no mundo através da obediência e da caridade, unindo a humanidade ao mistério da redenção (Santo Tomás de Aquino, Comentário ao Evangelho de Lucas).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de Lucas (11, 27-28) destaca a bem-aventurança de Maria por ouvir e guardar a palavra de Deus, um aspecto que encontra complemento em Mateus 12, 46-50, onde Jesus aponta que seus verdadeiros parentes são aqueles que fazem a vontade do Pai, sublinhando que a maternidade espiritual de Maria é fundamentada em sua perfeita conformidade com a vontade divina, um elemento implícito, mas não explicitado em Lucas. Em Marcos 3, 31-35, a narrativa similar reforça que a união com Cristo transcende laços carnais, destacando a primazia da fé de Maria, que a torna modelo para os discípulos, um ponto que Lucas não desenvolve diretamente. João 19, 25-27, por sua vez, apresenta Maria ao pé da cruz, onde sua presença silenciosa e fiel complementa a obediência ativa de Lucas, mostrando-a como Mãe da Igreja, um papel que vai além da bem-aventurança declarada no Evangelho lucano.

Comparação com Textos de São Paulo
Em Gálatas 4, 4-5, Paulo descreve Cristo como nascido de uma mulher sob a Lei para redimir os que estavam sob a Lei, apontando para a maternidade de Maria como o meio pelo qual a redenção entrou no mundo, um aspecto implícito na fecundidade da Sabedoria em Eclesiástico, mas não diretamente abordado no Evangelho. Em Efésios 1, 3-4, a escolha dos fiéis para serem santos e imaculados diante de Deus ecoa a pureza de Maria, sugerindo que sua obediência à palavra, celebrada em Lucas, é um reflexo da eleição divina para a santidade, um tema não explicitado na liturgia do dia. Finalmente, em Romanos 16, 6, Paulo saúda Maria, que muito trabalhou pelo Evangelho, indicando que a bem-aventurança de Maria em Lucas não se limita à contemplação, mas se estende à missão ativa, um ponto não abordado diretamente nos textos litúrgicos.

Comparação com Documentos da Igreja
O Concílio de Éfeso (431), ao proclamar Maria como Theotokos (Mãe de Deus), reforça a dignidade celebrada no Introito (Sl 44, 2), destacando sua realeza espiritual como Mãe do Verbo Encarnado, um aspecto implícito, mas não desenvolvido na liturgia. A Encíclica Ineffabilis Deus (1854) de Pio IX, ao definir a Imaculada Conceição, complementa a Leitura (Eclo 24, 14-16), pois a pureza de Maria como morada da Sabedoria é fundamentada em sua preservação do pecado original, um tema apenas sugerido no texto litúrgico. Além disso, a Bula Munificentissimus Deus (1950) de Pio XII, ao definir a Assunção, amplia o Evangelho (Lc 11, 27-28), mostrando que a bem-aventurança de Maria por sua obediência culmina em sua glorificação corporal e espiritual, um desfecho não explicitado diretamente na liturgia do dia, mas que enriquece sua compreensão teológica.