01 JULHO - FESTA DO PRECIOSÍSSIMO SANGUE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO


Introito (Ap 5, 9-10 | Sl 88, 2)
Redemísti nos,Dómine, in sánguine tuo, ex omni tribu et lingua et pópulo et natióne... Com o vosso Sangue, Senhor, Vós nos resgatastes de todas as tribos e línguas, de todos os povos e nações, e fizestes de nós um Reino para o nosso Deus. Sl. Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor; de geração em geração anunciarei por minha boca a vossa fidelidade.

Epístola (Heb 9, 11-15)
Irmãos: Cristo se manifestou como Pontífice dos bens futuros. Por um mais vasto e mais perfeito tabernáculo, não feito por mão de homem, isto é, não deste mundo, sem recorrer ao sangue de cabritos e novilhos, mas por seu próprio Sangue, entrou uma vez no santuário, tendo adquirido uma redenção eterna. Com efeito, se o sangue dos cabritos e touros e a cinza da novilha, aspergida sobre os manchados, os santificava para a purificação da carne, quanto mais o Sangue do Cristo, que pelo Espírito Santo a Si mesmo se ofereceu imaculado a Deus, purificará nossa consciência das obras mortas, fazendo-nos capazes de servir ao Deus vivo. E por esse motivo, Ele é o Mediador do Novo Testamento a fim de que por sua morte, que sofreu para o perdão das prevaricações que havia sob o primeiro Testamento, os que foram chamados à herança eterna recebam a promessa, no Cristo Jesus, Senhor nosso.

Evangelho (Jo 19, 30-35)
Naquele tempo, havendo Jesus provado o vinagre, disse: Tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, expirou. Como era preparação da Páscoa, para que não ficassem na cruz os corpos em dia de sábado, (porque aquele dia de sábado era de grande solenidade), rogaram os judeus a Pilatos que se lhes quebrassem os ossos e os corpos fossem tirados. Vieram pois os soldados, e quebraram os ossos ao primeiro e ao outro que com ele fora crucificado. Tendo vindo depois a Jesus, como O viram já morto, não Lhe quebraram os ossos. Mas um dos soldados Lhe abriu o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água. E aquele que o viu, deu testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro.

Homilias e Explicações Teológicas
O Preciosíssimo Sangue de Cristo, derramado na cruz, é o preço da nossa redenção, pois por ele fomos comprados não com ouro ou prata, mas com o sacrifício do Cordeiro imaculado, que purifica as consciências e estabelece uma nova aliança entre Deus e a humanidade, superando os ritos antigos que apenas prenunciavam essa oferta perfeita (Santo Agostinho, Sermão 304). Este sangue, ao fluir do lado aberto de Cristo, revela a fonte da vida divina, que não apenas expia os pecados, mas também constitui a Igreja como corpo místico, unindo os fiéis em um só povo sacerdotal, chamado a oferecer louvores eternos (Santo Ambrósio, De Sacramentis, Livro IV). A efusão desse sangue não é apenas um ato passado, mas uma realidade perene que continua a santificar, pois, como a água e o sangue que jorraram do coração trespassado, ele é o fundamento dos sacramentos que vivificam a Igreja (Santo Cirilo de Alexandria, Comentário sobre o Evangelho de João, Livro XII). Assim, o Sangue de Cristo é o selo da nova lei, que não apenas perdoa, mas transforma os corações, conduzindo-os à glória eterna por meio da caridade divina infundida nas almas (Santo Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 62, a. 5).

Comparação com os Demais Evangelhos
O relato de João 19, 30-35, que descreve a consumação da obra de Cristo na cruz e o jorrar de sangue e água de seu lado, é singular entre os Evangelhos. Mateus (27, 50-54) enfatiza os sinais cósmicos, como o véu do templo rasgado e os sepulcros abertos, destacando a vitória de Cristo sobre a morte, mas não menciona o sangue e a água, omitindo o simbolismo sacramental. Marcos (15, 37-39) foca na confissão do centurião, que reconhece Jesus como Filho de Deus, mas não detalha o golpe da lança, deixando implícita a profundidade do sacrifício. Lucas (23, 46-47) destaca a entrega do espírito de Jesus ao Pai e a glorificação do centurião, mas silencia sobre o lado trespassado, enfatizando mais a serenidade da morte de Cristo do que os efeitos físicos de sua paixão. João, por sua vez, sublinha o cumprimento das Escrituras e a origem dos sacramentos, com o sangue e a água como sinais da Igreja nascente, um aspecto teológico ausente nos sinóticos.

Comparação com Textos de São Paulo
A Epístola de Hebreus 9, 11-15, lida na Festa do Preciosíssimo Sangue, apresenta Cristo como o Sumo Sacerdote que, com seu próprio sangue, entra no santuário celestial, garantindo uma redenção eterna. Outros textos paulinos complementam essa visão. Em Romanos 5, 8-9, Paulo destaca que fomos justificados pelo sangue de Cristo, enfatizando a reconciliação com Deus, um aspecto relacional menos explícito em Hebreus. Em 1 Coríntios 10, 16, o apóstolo liga o sangue de Cristo ao cálice eucarístico, sublinhando a participação dos fiéis na comunhão com esse sacrifício, um elemento sacramental que Hebreus não desenvolve. Já em Colossenses 1, 20, Paulo fala da paz estabelecida pelo sangue da cruz, que reconcilia todas as coisas, cósmicas e terrenas, ampliando a perspectiva de Hebreus para uma redenção universal. Esses textos, ao contrário de Hebreus, acentuam a dimensão comunitária e cósmica do sangue de Cristo, enriquecendo sua compreensão.

Comparação com Documentos da Igreja
A Encíclica Mediator Dei (1947) de Pio XII destaca que o sacrifício de Cristo, consumado na cruz, é perpetuado na Missa, onde o sangue derramado se torna o meio de nossa participação na redenção, um aspecto que complementa a ênfase de Hebreus na entrada única de Cristo no santuário celestial. A Bula Ineffabilis Deus (1854) de Pio IX, ao tratar da Imaculada Conceição, menciona que Maria foi preservada do pecado pelo mérito do sangue de Cristo, apontando para a aplicação universal desse sacrifício, um tema implícito, mas não desenvolvido, nos textos litúrgicos da festa. Já a Encíclica Quas Primas (1925) de Pio XI, ao instituir a Festa de Cristo Rei, conecta o domínio de Cristo ao seu sacrifício cruento, sugerindo que o sangue derramado estabelece sua realeza espiritual, uma dimensão não abordada diretamente em João. Esses documentos reforçam a centralidade do Sangue de Cristo como fonte de santificação, realeza e unidade da Igreja.