15 set
As Sete Dores de Nossa Senhora


💔A comemoração das Sete Dores de Nossa Senhora mergulha na profunda união de Maria com o sacrifício redentor de seu Filho. Esta devoção, enraizada na profecia de Simeão de que uma espada transpassaria sua alma (Lc 2, 35), contempla os momentos de mais intensa dor na vida da Virgem, culminando em sua presença ao pé da Cruz. Ali, ela não foi uma espectadora passiva, mas uma participante ativa no mistério da Redenção, oferecendo seu sofrimento em união com o de Cristo. Por sua compaixão e fortaleza, a Igreja a venera com o título de Co-Redentora. Como ensinou São Bernardo de Claraval, "A força da dor trespassou a tua alma, de modo que não sem razão te chamamos mais que mártir, pois a tua compaixão superou em muito as dores físicas da paixão".

🕯️Introito (Jo 19, 25 | ib., 26-27)
Stabant juxta Crucem Jesu Mater ejus, et soror Matris ejus, María Cléophæ, et Salóme et María Magdaléne... Estavam de pé junto à Cruz de Jesus, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, Salomé e Maria Madalena. Sl. Mulher, eis aí o teu filho, e, dirigindo-se ao discípulo, disse Jesus: Eis a tua Mãe. ℣. Glória ao Pai…

📖Leitura (Jd 13, 22 e 23-25)
O Senhor vos abençoou com seu poder, aniquilando por vosso intermédio os nossos inimigos. Bendita sois vós entre todas as mulheres da terra, ó filha do Senhor, Deus Altíssimo. Bendito seja o Senhor que criou o céu e a terra, pois de tal sorte glorificou o vosso nome que todos os homens vos louvarão, lembrando-se para sempre do poder do Senhor. Não poupastes a vossa vida, vendo as angústias e as tribulações de vosso povo, mas evitastes a sua ruína, apresentando-vos perante o nosso Deus.

✝️Evangelho (Jo 19, 25-27)
Naquele tempo, estavam junto à Cruz de Jesus, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua Mãe e perto dela o discípulo que Ele amava, disse a sua Mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis tua Mãe. E desde aquela hora a levou o discípulo para sua casa.

🤔Reflexões

🙏A leitura do Livro de Judite prefigura a Virgem Maria como a mulher forte que, por sua coragem e sacrifício, alcança a vitória para seu povo. Assim como Judite arriscou a vida para derrotar Holofernes, Maria arriscou sua alma na dor ao pé da Cruz para esmagar a cabeça da serpente. Sua maternidade, selada no Calvário, não é apenas biológica, mas se estende a todos os membros do Corpo de Cristo. “Maria foi mártir não pela espada do algoz, mas pela acerba dor de sua alma” (São Bernardo de Claraval, Sermo in dom. infra oct. Assumptionis). Esta dor não foi de desespero, mas de amor cooperante, pois, como ensina Santo Agostinho, “pela caridade cooperou para que nascessem na Igreja os fiéis, que são os membros daquela cabeça” (Santo Agostinho, De sancta virginitate). No testamento de Cristo na Cruz, ela se tornou a Mãe da Igreja, gerando em dor os filhos que seu Filho redimia com sangue.

↔️O Evangelho de São João é único ao detalhar a presença de Maria ao pé da Cruz e o diálogo que estabelece sua maternidade espiritual sobre os discípulos. Em contraste, os Evangelhos sinóticos (Mateus 27, 55-56; Marcos 15, 40-41; Lucas 23, 49) mencionam um grupo de mulheres, incluindo Maria Madalena e outras, que observavam a crucificação "de longe". Nenhum deles registra a presença da Mãe de Jesus tão próxima do madeiro nem as palavras de Cristo a ela e ao discípulo amado. A narrativa joanina, portanto, não foca apenas no evento histórico, mas em sua profunda consequência teológica: a entrega de Maria como mãe da humanidade redimida, um papel central que os outros evangelistas não explicitam.

📜Os escritos de São Paulo, embora não narrem a Paixão, oferecem o arcabouço teológico para compreender a compaixão de Maria. Em Gálatas 4, 4, Paulo afirma que Deus enviou seu Filho "nascido de mulher", sublinhando o papel indispensável de Maria na Encarnação, que torna o sacrifício possível. Mais profundamente, em Colossenses 1, 24, Paulo escreve: "Completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, em favor do seu corpo, que é a Igreja". A dor de Nossa Senhora ao pé da Cruz é a mais perfeita realização desta verdade. Ela une seu sofrimento ao de Cristo de uma forma única, completando em seu coração de mãe o que era necessário para a aplicação da Redenção ao Corpo Místico.

🏛️Os documentos da Igreja corroboram a doutrina da participação de Maria na Redenção. O Papa Pio X, na encíclica Ad Diem Illum Laetissimum, ensina que Maria, ao estar junto à Cruz, "mereceu ser, de modo digníssimo, a reparadora do gênero humano perdido". O Papa Bento XV, na carta apostólica Inter Sodalicia, afirma que se pode dizer que ela redimiu o gênero humano juntamente com Cristo, pois "renunciou aos direitos de mãe sobre seu Filho para a salvação dos homens e O imolou, quanto a si, para aplacar a justiça divina". O Papa Pio XII, na encíclica Mystici Corporis Christi, reafirma que foi ela quem, "no Calvário, ofereceu seu Filho ao Pai Eterno, juntamente com o holocausto de seus direitos e de seu amor materno", recebendo todos nós como filhos em testamento.