Introito (Mt 25, 34 | Sl 95, 1)
Veníte, benedícti Patris mei, percípite regnum, allelúia... Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino, aleluia, que vos está preparado desde o princípio do mundo. Aleluia, aleluia, aleluia. Sl. Cantai ao Senhor um cântico novo; cantai ao Senhor, toda a terra.
Epístola (At 3, 13-15 e 17-19)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.Naqueles dias, Pedro, tomando a palavra, disse: Homens de Israel e vós, tementes a Deus, ouvi: O Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó, o Deus de nossos país, glorificou a seu Filho Jesus, que vós entregastes e renegastes diante de Pilatos, quando este O julgava e O queria livrar. Mas vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que concedessem a liberdade ao homicida. Fizestes morrer o Autor da vida a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que somos testemunhas. Agora, porém, irmãos, sei que o fizestes por ignorância, assim como vossos magistrados. Deus, no entanto, que havia predito pela voz de todos os Profetas que o seu Cristo devia sofrer, assim o executou. Fazei, pois, penitência e convertei-vos para que os vossos pecados sejam apagados.
Evangelho (Jo 21, 1-14)
Naquele tempo, manifestou-se Jesus novamente a seus discípulos, junto ao mar de Tiberíades. E apareceu-lhes dessa maneira: Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo e Natanael, que era de Caná de Galileia, os filhos de Zebedeu e dois outros de seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: Eu vou pescar. Responderam-lhe eles: nós vamos contigo. E foram e subiram a uma barca, mas nesta noite, nada pescaram. De madrugada, estava Jesus em terra; porém os discípulos não reconheceram que era Jesus. Disse-lhes pois, Jesus: Moços, tendes porventura, alguma coisa para comer? Responderam-Lhe: Não. Disse-lhes Jesus: Lançai a rede à direita da barca e a achareis. Eles o fizeram e já nem podiam retirá-la, pela grande quantidade de peixes. Disse então o discípulo que Jesus amava, a Pedro: É o Senhor. Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, cingiu-se com uma túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar. Vieram os outros discípulos com a barca (pois não estavam muito afastados da terra: apenas duzentos côvados), puxando a rede de peixes. Desembarcando em terra, viram brasas preparadas e nelas, um peixe e pão. Disse-lhes Jesus: Trazei-me do peixe que acabais de pescar. Subiu Simão Pedro à barca e puxou para terra a rede com cento e cinquenta e três peixes grandes. E embora fossem tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes Jesus: Vinde e comei. E nenhum dos que tomavam parte na refeição, ousava perguntar-Lhe: Quem és Tu? convencidos de que era o Senhor. E veio Jesus, e tomando o pão, deu-o a todos, assim como o peixe. Era essa a terceira vez que Jesus se mostrava a seus discípulos, depois que ressuscitou dentre os mortos.
Homilias e Explicações Teológicas
A ressurreição de Cristo, manifestada na aparição aos discípulos junto ao mar de Tiberíades, revela a continuidade da missão confiada aos apóstolos, onde o chamado à pesca simboliza a pregação do Evangelho para reunir as nações, com Pedro sendo restaurado em sua primazia após sua tríplice negação, um ato de misericórdia divina que sublinha a fraqueza humana superada pela graça (Santo Agostinho, Sermão 252). A abundante pesca, guiada por Cristo, aponta para a eficácia da Igreja quando orientada pela Palavra divina, contrastando com a esterilidade dos esforços humanos sem a presença do Ressuscitado (São Gregório Magno, Homilia 24 sobre os Evangelhos). Em Atos, a proclamação de Pedro exalta a glorificação do Servo Sofredor, cuja ressurreição valida a promessa messiânica e convoca à conversão, mostrando que o poder do Nome de Jesus é o fundamento da cura e da salvação (Santo Ambrósio, Comentário sobre Atos). A ignorância dos que crucificaram Cristo, mencionada por Pedro, é superada pelo chamado ao arrependimento, que transforma a culpa em oportunidade de redenção, um tema que ecoa a paciência divina revelada na restauração de Pedro em João (São João Crisóstomo, Homilia sobre Atos 3). A unidade entre os textos reside na centralidade de Cristo ressuscitado como fonte de missão, perdão e renovação, com João enfatizando a intimidade do encontro com o Ressuscitado e Atos destacando a proclamação pública de sua vitória.
Síntese Comparativa com os Demais Evangelhos
O relato de João 21,1-14, com a pesca milagrosa e a refeição à beira do mar de Tiberíades, apresenta elementos únicos ausentes em Mateus, Marcos e Lucas. Diferentemente de Mateus 28,16-20, que foca na Grande Comissão na Galileia sem detalhes de um encontro cotidiano, João destaca a intimidade do Ressuscitado com os discípulos em um contexto de trabalho e refeição, enfatizando a restauração de Pedro através do diálogo sobre o amor. Marcos 16,7 menciona um encontro na Galileia, mas o texto canônico termina abruptamente sem narrá-lo, deixando João como o único a detalhar uma aparição galileia com a pesca milagrosa. Lucas 24,36-49 apresenta uma refeição com os discípulos em Jerusalém, mas foca na explicação das Escrituras e na prova física da ressurreição, sem o simbolismo da pesca ou a restauração de Pedro. João, portanto, complementa os outros evangelhos ao oferecer uma narrativa que une a missão eclesial (a pesca) com a reconciliação pessoal (Pedro) e a presença eucarística (o pão e o peixe).
Síntese Comparativa com Textos de São Paulo
O evangelho de João 21,1-14, com sua ênfase na presença do Ressuscitado guiando a missão dos discípulos, encontra complementos significativos nas epístolas paulinas. Em 1 Coríntios 15,4-8, Paulo lista as aparições de Cristo, mas sem detalhar encontros específicos como o de João, focando na ressurreição como fundamento da fé e da pregação apostólica, o que reforça a autoridade da missão simbolizada pela pesca milagrosa. Em Gálatas 2,7-9, Paulo menciona a missão de Pedro aos judeus, um aspecto que João 21 implicitamente prepara ao restaurar Pedro, mas Paulo explicita a divisão de tarefas missionárias, complementando o chamado universal sugerido pela pesca abundante. Filipenses 3,10-11 destaca a participação no sofrimento e na ressurreição de Cristo como meta da vida cristã, um tema que ecoa a transformação de Pedro, de sua negação à liderança, mas que Paulo aplica a todos os crentes. Assim, Paulo amplia o alcance teológico de João, conectando a experiência dos discípulos com a vocação universal da Igreja.