🕊️A Igreja celebra hoje a festa de dois Apóstolos, São Simão, o Zelote, e São Judas Tadeu. São Simão, chamado "o Zelote" possivelmente por seu antigo zelo pela lei judaica ou por pertencer ao partido dos Zelotes, dedicou sua vida a Cristo após o chamado. São Judas, autor da epístola canônica que leva seu nome e conhecido como o patrono das causas desesperadas, era parente próximo de Nosso Senhor. A tradição relata que, após Pentecostes, ambos pregaram o Evangelho com grande fervor, viajando juntos pela Mesopotâmia e pela Pérsia. Foi ali que selaram seu testemunho com o sangue, sofrendo o martírio por volta do ano 65. Sua união no apostolado e no martírio é um poderoso símbolo da comunhão na Igreja, edificada sobre o fundamento dos Apóstolos.
📖 Epístola (Ef 4, 7-13)
Irmãos: A cada um de nós foi concedida a graça segundo a medida do Dom de Jesus Cristo. Pelo que, diz a Escritura: Tendo subido ao alto [ao céu] conduziu preso o cativeiro e prodigalizou dádivas aos homens. Ora, que significa: Ele subiu, senão que Ele desceu antes às regiões inferiores da terra? Quem desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de realizar todas as coisas. E Ele constituiu a uns como Apóstolos, a outros como Profetas, a outros como Evangelistas, a outros como Pastores e Doutores para o aperfeiçoamento dos Santos, para a obra do ministério, para a formação do Corpo de Cristo [a Igreja], até que alcancemos todos a unidade da fé e o conhecimento do Filho de Deus, a condição de homem perfeito, e a medida da plenitude de Cristo.
✝️ Evangelho (Jo 15, 17-25)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: É este o preceito que vos dou: o de amar-vos uns aos outros. Se o mundo vos odeia, sabei que odiou a mim, antes do que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que lhe pertence; porém como não sois do mundo, eu dele vos escolhi, e o mundo vos odeia. Recordai-vos da palavra que eu vos disse: o servo não pode ser maior do que o seu senhor. Se a mim perseguiram, também o farão a todos vós; se observarem meu ensinamento, igualmente observarão o vosso. Eles porém vos farão todos esses vexames por causa de meu Nome, pois desconhecem Aquele que me enviou. Se eu não tivesse vindo e não lhes tivesse falado, não teriam cometido o pecado. Porém já não têm agora escusa para o seu pecado. Quem me odeia, odeia a meu Pai. Se eu não tivesse feito tais obras entre os homens como nenhum outro as fez, eles não teriam pecado. Como porém as viram, [as obras] eles me odeiam, e não só a Mim, como a meu Pai. [Aconteceu porém assim] para que a palavra escrita em sua lei seja cumprida: Eles me odiaram sem motivo.
🕯️ Reflexões
🙏O Evangelho deste dia revela a condição paradoxal do discípulo de Cristo: ser escolhido para o amor e, por isso mesmo, ser alvo do ódio do mundo. As palavras de Jesus a São Simão, São Judas e aos demais apóstolos não são um consolo fácil, mas uma profecia que se cumpre em suas vidas e na vida da Igreja ao longo dos séculos. “Se o mundo vos odeia, sabei que odiou a mim, antes do que a vós”. Este ódio não é um sinal de fracasso, mas a marca da autenticidade da eleição divina. O mundo, entendido como o sistema de valores oposto a Deus, ama o que lhe é próprio: o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência. Ao escolher os Apóstolos “do meio do mundo”, Cristo os separou para uma lógica diferente, a do amor oblativo, do serviço e da verdade. O martírio de Simão e Judas na Pérsia não foi um acidente trágico, mas a consequência lógica de sua fidelidade a um Mestre que foi, Ele mesmo, odiado “sem motivo”.
⛪A Epístola aos Efésios oferece a estrutura divina que sustenta a comunidade dos eleitos em meio à hostilidade do mundo. Cristo, ao subir aos céus, não abandonou os seus; pelo contrário, “prodigalizou dádivas aos homens”. Estas dádivas não são talentos meramente humanos, mas funções ministeriais — Apóstolos, Profetas, Pastores — destinadas a “formação do Corpo de Cristo”. São Simão e São Judas foram receptores e instrumentos primordiais deste dom apostólico. A unidade da fé e o amor mútuo, preceito central do Evangelho, não são apenas sentimentos, mas o resultado da graça que flui de Cristo, a Cabeça, para os membros de seu Corpo. Santo Agostinho, comentando o Evangelho de João, explica que o amor entre os discípulos é o sinal visível que os distingue do mundo e lhes dá força para suportar o seu ódio. "Que ninguém se engane, irmãos: há apenas duas cidades, a que ama a Deus até ao desprezo de si, e a que ama a si até ao desprezo de Deus. O mundo pertence a esta última. Por isso odeia aqueles que pertencem à primeira" (Santo Agostinho, A Cidade de Deus, Livro XIV, 28). O apostolado, portanto, é o ministério de construir esta cidade de Deus na terra, um corpo unido pelo amor, capaz de resistir à dissolução pregada pelo mundo.
📜A celebração litúrgica dos Apóstolos nos recorda que a Igreja é, por sua natureza, “apostólica”, como professamos no Credo. O Catecismo da Igreja Católica ensina que ela está “edificada sobre o fundamento dos Apóstolos” (CIC 857), homens frágeis como Simão e Judas, mas que se tornaram colunas firmes pela graça de Cristo. A missão que receberam de pregar a verdade e administrar os sacramentos continua através de seus sucessores, os bispos. O Prefácio dos Apóstolos, no Missal Romano, expressa essa realidade perene: “Pastor eterno, vós não abandonais o rebanho, mas o guardais constantemente pela proteção dos Apóstolos, fazendo que seja governado pelos mesmos pastores que estabelecestes como representantes de vosso Filho”. O ódio do mundo persiste, mas as “dádivas” de Cristo ressuscitado também. A festa de hoje é, assim, um convite a renovar nossa fé na estrutura divina da Igreja e a viver o mandamento do amor, que é a sua alma, sabendo que a nossa união em Cristo é a única força capaz de vencer o mundo.