✝️São Josafá (c. 1580-1623), nascido na atual Ucrânia, foi uma figura central na busca pela unidade da Igreja. Originalmente da tradição ortodoxa, tornou-se monge basiliano e, mais tarde, Arcebispo de Polotsk. Dedicou sua vida a promover a União de Brest, que restabeleceu a plena comunhão de muitos rutenos com a Sé de Roma, preservando suas ricas tradições litúrgicas orientais. Sua fervorosa defesa da unidade e sua reforma do clero despertaram ódios violentos, culminando em seu martírio às mãos de uma multidão em Vitebsk. Ele encarnou perfeitamente a imagem do Bom Pastor do Evangelho de hoje, que não foge do lobo, mas dá a vida por suas ovelhas, oferecendo-se como sacrifício pela unidade do rebanho de Cristo.
📖Epístola (Heb 5, 1-6)
Irmãos: Todo pontífice, tirado dentre os homens, é constituído em favor dos homens, no que diz respeito a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados. Ele deve compadecer-se daqueles que ignoram e erram, porque ele mesmo está cercado de enfermidade. Por isso tem de oferecer sacrifícios, tanto pelos pecados do povo, como pelos seus próprios. Ninguém se arroga, entretanto, esta dignidade, senão o que é chamado por Deus, como Aarão. Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, fazendo-se Pontífice, mas foi constituído por Aquele que Lhe disse: “Tu és o meu Filho, hoje te gerei”. Como diz em outro lugar: “Tu és Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec”.
🌿Evangelho (Jo 10, 11-16)
Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor dá a sua vida por suas ovelhas. O mercenário, porém, o que não é pastor, de quem não são próprias as ovelhas, vendo chegar o lobo, deixa as ovelhas e foge; e o lobo rouba e dispersa as ovelhas. O mercenário foge, porque é mercenário e não lhe importam as ovelhas. Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas me conhecem. Assim como o Pai me conhece, e eu conheço o Pai, eu dou a minha vida por minhas ovelhas. Outras ovelhas tenho eu ainda que não são deste aprisco. É preciso que eu as chame também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor.
🕯️Reflexões
🕊️O contraste traçado por Cristo entre o Bom Pastor e o mercenário não é uma mera ilustração poética, mas o próprio coração do mistério da salvação e do sacerdócio. O Bom Pastor possui as ovelhas e as ama a ponto de dar a vida por elas; o mercenário, por outro lado, trabalha apenas pela paga, e seu interesse não está no bem do rebanho, mas em sua própria segurança e ganho. Santo Agostinho aprofunda essa distinção, identificando o "lobo" não apenas como um predador físico, mas como o diabo, o tentador que ataca a alma. O mercenário, que pode ser qualquer líder que busca o próprio interesse em vez da glória de Deus, "vê o lobo e foge porque não se preocupa com as ovelhas. Ele não se interpõe ao perigo pelas ovelhas, porque não as ama; ama somente a recompensa temporal" (Santo Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de João, 46, 5). São Josafá viveu o oposto radical dessa figura. Diante dos lobos do cisma e do ódio, que ameaçavam dispersar seu rebanho, ele não fugiu. Pelo contrário, permaneceu firme, interpondo-se com seu próprio corpo e sangue, provando ser um verdadeiro pastor segundo o coração de Cristo.
⛪A Epístola aos Hebreus revela o fundamento da autoridade do verdadeiro Pastor: o chamado divino. Cristo não se autonomeou Sumo Sacerdote; Ele foi constituído pelo Pai, assim como Aarão. Esta vocação divina é a fonte de Sua legitimidade e poder para salvar, diferenciando-o radicalmente do mercenário, que se arroga uma dignidade que não lhe pertence. O Catecismo da Igreja Católica ensina que o sacerdócio ministerial é uma participação no único sacerdócio de Cristo, configurando o sacerdote a Cristo Cabeça para que possa agir em Sua pessoa em favor do rebanho (cf. CIC 1548). São Josafá compreendeu que seu episcopado não era uma honra mundana ou um cargo de poder, mas uma vocação para se configurar ao Sumo Sacerdote que "deve compadecer-se daqueles que ignoram e erram". Sua vida foi um contínuo sacrifício, oferecido não apenas pelos pecados do povo, mas em união com o único sacrifício de Cristo pela unidade da Igreja.
🌍A consumação do ministério do Bom Pastor e a missão de São Josafá convergem na profecia de Cristo: "Outras ovelhas tenho eu ainda que não são deste aprisco... e haverá um só rebanho e um só pastor". Esta passagem é o fundamento bíblico do zelo pela unidade dos cristãos. Não se trata de uma unidade vaga ou meramente espiritual, mas de uma comunhão visível, um "só rebanho" sob um "só pastor". São Tomás de Aquino ensina que a unidade é uma das quatro marcas essenciais da Igreja, pois ela tem "um só Senhor, uma só fé, um só batismo" (cf. Ef 4,5). São Josafá compreendeu que a separação de seus irmãos da Sé de Pedro era uma ferida no Corpo Místico de Cristo e uma contradição ao desejo explícito do Bom Pastor. Seu martírio, portanto, é um testemunho poderoso de que a unidade da Igreja, selada pela autoridade petrina, não é uma questão política ou administrativa, mas uma verdade de fé pela qual vale a pena morrer. Ele deu a vida para que as "outras ovelhas" pudessem ouvir a voz do Pastor e se reunir no único aprisco, cumprindo a oração e o mandato de Nosso Senhor.