14 dez
III Domingo do Advento (Gaudete)


🕯️Este dia, conhecido liturgicamente como Domingo "Gaudete" (vídeo), marca o ponto central do Advento, permitindo o uso de paramentos cor-de-rosa em substituição ao roxo penitencial, simbolizando uma pausa de alegria em meio à expectativa da vinda do Salvador. No calendário tradicional, celebra-se a proximidade do Natal com um convite insistente ao regozijo espiritual, pois "o Senhor está perto". A figura central, além da exortação paulina à alegria cristã, é São João Batista, que no Evangelho define sua identidade não por aquilo que é, mas por quem ele anuncia, apresentando-se como a voz humilde que prepara o caminho para a Palavra Eterna. A Igreja, neste dia, renova a esperança dos fiéis, lembrando que a penitência não é um fim em si mesma, mas uma preparação para a suprema felicidade da Redenção.

📜Epístola (Fl 4, 4-7)
Irmãos: Regozijai-vos sempre no Senhor. Ainda uma vez vos digo: regozijai-vos. Seja a vossa modéstia conhecida de todos os homens; o Senhor está perto. De nada vos inquieteis mas, em toda oração e súplica, dando graças, apresentai a Deus os vossos pedidos. E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guarde os vossos corações e os vossos espíritos no Cristo Jesus, Senhor nosso.

📖Santo Evangelho (Jo 1, 19-28)
Naquele tempo, os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas a João, para lhe perguntar: Quem és tu? Ele confessou e não negou. E confessou: Eu não sou o Cristo. E perguntaram-lhe: Então, quem és? És tu Elias? Ele respondeu: Não sou. És tu o Profeta? Ele repetiu: Não. Disseram-lhe então: Quem és, pois, para respondermos aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo? E ele respondeu-lhes: Eu sou a voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. Ora, os enviados eram da seita dos fariseus. E fizeram-lhe esta pergunta: Por que então batizas tu, se não és o Cristo, nem Elias, nem o Profeta? Respondeu-lhes João, dizendo: Eu batizo com água, mas no meio de vós está Um que vós não conheceis. Este é O que virá depois de mim, que era antes de mim e de quem não sou digno de desatar a correia dos sapatos. Isto se deu em Betânia, além do Jordão, onde João batizava.

🕊️A Humildade da Voz e a Proximidade do Verbo

⛪A liturgia deste terceiro domingo do Advento entrelaça magistralmente o imperativo da alegria cristã com a virtude fundamental da humildade, personificada em São João Batista. O Apóstolo Paulo, na Epístola, ordena "Gaudete" — alegrai-vos — não por uma emoção passageira, mas pela certeza teológica de que "o Senhor está perto". Esta proximidade de Deus é a causa eficiente de nossa paz interior, aquela que excede todo o entendimento. Contudo, para acolhermos essa presença divina, o Evangelho nos apresenta a condição indispensável: o esvaziamento de si mesmo. Quando interrogado pelos líderes religiosos, o Batista não toma para si títulos de honra; ele define sua existência apenas em função de Cristo. Santo Agostinho, ao meditar sobre este mistério, estabelece uma distinção luminosa: "João é a voz; o Senhor, no entanto, é a Palavra que no princípio já existia. João é a voz passageira; Cristo é o Verbo eterno desde o princípio. Tira a palavra, e o que é a voz? Onde não há entendimento, há apenas um som vazio" (Santo Agostinho, Sermão 293). Assim, João nos ensina que, para que o Cristo cresça em nós, o nosso "eu" egoísta deve diminuir; devemos ser apenas a voz que carrega o Verbo, e não o ruído que o abafa. A "modéstia" pedida por São Paulo é, portanto, o reflexo exterior dessa ordem interior, onde a alma, pacificada pela graça e livre da ansiedade mundana, torna-se um caminho plano no deserto deste mundo para a chegada do Rei. O batismo de água de João era um sinal de penitência, mas ele apontava para Aquele que batizaria com o Espírito Santo; reconhecer a nossa indignidade, como João que não ousava desatar as sandálias do Mestre, é paradoxalmente o passo que nos permite "regozijar sempre no Senhor".