⛪Nascido na França em 1090, São Bernardo de Claraval foi uma das figuras mais influentes do século XII. Após ingressar na recém-fundada Ordem de Cister com trinta companheiros, incluindo seus irmãos, ele foi enviado para fundar uma nova abadia em Claraval (Clairvaux), que se tornou um centro de reforma e espiritualidade. Sua pregação fervorosa, escritos profundos e conselhos a papas, reis e concílios moldaram a Igreja de seu tempo. Chamado de "Doctor Mellifluus" (Doutor de Mel) por sua eloquência, ele compôs obras notáveis sobre a graça, o amor de Deus e a Virgem Maria, a quem dedicava uma terna devoção, sendo-lhe atribuída a oração "Lembrai-vos" (Memorare). Sua vida foi um testemunho do poder da contemplação que transborda em ação apostólica.
🙏 Introito (Eclo 15, 5 | Sl 91, 2)
In medio Ecclesiae aperuit os ejus... No meio da Igreja, o Senhor o fez falar; encheu-o do Espírito de sabedoria e inteligência, e revestiu-o com uma túnica de glória. Sl. É bom louvar ao Senhor e cantar salmos a vosso Nome, ó Altíssimo. ℣. Glória ao Pai.
📜 Epístola (Eclo 39, 6-14)
O Justo faz seu coração vigiar, desde o amanhecer, diante do Senhor que o criou e ora na presença do Altíssimo. Abre a sua boca para rezar e pede o perdão de seus pecados. Porque se o soberano Senhor assim quiser, concede-lhe o espirito da inteligência, e então ele derramará as palavras de sua inteligência como chuva, e em sua oração louvará o Senhor. O Senhor conduzirá seus conselhos e instruções e ele penetrará nos segredos de Deus. Exporá publicamente a doutrina que aprendeu, e fará consistir a sua glória na lei da aliança do Senhor. Muitos elogiarão a sua sabedoria e jamais será esquecido. Sua memória não se apagará, e o seu nome será repetido de geração em geração. As nações proclamarão a sua sabedoria e a Igreja celebrará os seus louvores.
✨ Evangelho (Mt 5, 13-19)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Vós sois o sal da terra. Se o sal perder a sua força, como há de receber nova força? Para nada mais presta senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Uma cidade situada sobre um monte, não pode ser escondida. E ninguém acende uma luz para pô-la debaixo do alqueire, mas sim no candieiro, para alumiar a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está no céu. Não julgueis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, e sim cumprir. Porque, em verdade vos digo: enquanto não passar o céu e a terra, nem uma letra, nem um pontinho desaparecerá da lei, até que tudo seja realizado. Aquele, pois, que transgredir um destes mandamentos por pequeno que seja e ensinar assim aos homens, será chamado mínimo no Reino dos céus; mas o que os guardar e os ensinar, esse será chamado grande no Reino dos céus.
🤔 Reflexões
✍️A sabedoria infundida por Deus, descrita na Epístola, é o "sal" que preserva da corrupção e a "luz" que ilumina as nações, como se vê na vida de santos como Bernardo. O sal significa o desejo das coisas celestiais, que preserva a alma da corrupção dos desejos terrenos. Mas se os discípulos, que devem salgar as massas, perderem este desejo do reino dos céus por medo da perseguição terrena, por quem serão libertados do erro, se eles foram escolhidos pelo Senhor para libertar os outros? (Santo Agostinho, Comentário sobre o Sermão da Montanha). A luz não é acesa para si mesma, mas para que brilhe para todos; assim, não basta ser virtuoso, é preciso brilhar com o exemplo para que Deus seja glorificado, pois uma vida santa é o maior louvor a Deus (São João Crisóstomo, Homilias sobre Mateus). Ao dizer que não veio abolir a Lei, mas cumpri-la, Cristo ensina que os preceitos antigos encontram sua perfeição n'Ele, que revela seu sentido pleno e concede a graça para vivê-los; assim, guardar e ensinar os mandamentos é revelar a plenitude da verdade em Cristo (São Tomás de Aquino, Suma Teológica).
📖Comparando o Evangelho de Mateus, Lucas também apresenta as metáforas do sal e da luz, mas em contextos distintos que realçam outras facetas. Em Lucas 14:34-35, a advertência sobre o sal insípido conclui o discurso sobre o custo radical do discipulado, ligando a perda do "sabor" à incapacidade de renunciar a tudo por Cristo. A imagem da luz no candeeiro aparece em Lucas 8:16 e 11:33, onde está conectada não apenas às boas obras, mas à necessidade de que a Palavra de Deus, uma vez ouvida, ilumine todo o interior da pessoa, para que todo o corpo seja luminoso. Marcos 9:50 oferece uma aplicação única da metáfora do sal, exortando os discípulos: "Tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros", conectando a sabedoria divina e o fervor espiritual diretamente à harmonia comunitária.
🕊️São Paulo aprofunda os temas do sal, da luz e da Lei em suas epístolas. Ele ecoa a imagem da luz ao afirmar que os cristãos devem "brilhar como luzeiros no mundo" (Filipenses 2:15) e que Deus "fez brilhar a luz em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo" (2 Coríntios 4:6), conectando a luz não só às obras, mas ao conhecimento de Cristo. Sobre a Lei, Paulo explica como Cristo é o seu "fim" (Romanos 10:4), não no sentido de abolição, mas de cumprimento e meta. Ele contrasta a "letra que mata" com o "Espírito que dá vida" (2 Coríntios 3:6), mostrando que a Lei é cumprida perfeitamente não pela observância externa, mas pela caridade infundida pelo Espírito Santo, que é "a plenitude da lei" (Romanos 13:10).
🏛️Os documentos da Igreja consistentemente interpretam o papel dos mestres da fé, como São Bernardo, através das imagens do sal e da luz. O Catecismo Romano, por exemplo, ensina que os pastores de almas são o sal da terra ao preservar os fiéis da corrupção da heresia e do pecado com a sã doutrina. São a luz do mundo quando, por sua pregação e pelo exemplo de suas vidas, dissipam as trevas da ignorância e mostram o caminho da salvação. A encíclica Aeterni Patris do Papa Leão XIII exalta os Doutores da Igreja como luzes que, com a sabedoria herdada e aprofundada, iluminaram os mistérios da fé, cumprindo perfeitamente o mandato de não esconder a luz, mas de colocá-la no candeeiro para que alumie a toda a Igreja.