22 JUNHO - II DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES


Domingo na oitava de Corpus Christi

Introito (Sl 17, 19-20 | ib., 2-3) (Áudio)
Factus est Dóminus protéctor meus, et edúxit me in latitúdinem... O Senhor se fez o meu protetor e conduziu-me ao largo; salvou-me porque me amava. Sl. Amar-vos-ei, Senhor, que sois a minha força! O Senhor é o meu apoio, o meu refúgio e o meu libertador.

Epístola (I Jo 3, 13-18)
Caríssimos: Não vos admireis, se o mundo vos odeia. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os nossos irmãos. Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia a seu irmão é homicida. E bem sabeis que nenhum homicida- tem permanente em si a vida eterna. Nisto conhecemos o Amor de Deus: em ter Ele dado a sua vida por nós; e assim também devemos nós dar a vida por nossos irmãos. Se alguém possuí bens neste mundo, e, vendo o seu irmão passar necessidade, lhe fecha o coração, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos somente em palavras, nem de língua, mas por ações e em verdade.

Evangelho (Lc 14, 16-24)
Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus esta parábola: Um homem preparou um grande banquete, para o qual convidou muitas pessoas. E, à hora do banquete, mandou um de seus servos dizer aos convidados que viessem, porque já estava tudo pronto. Todos, porém, unanimemente, começaram a excusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei uma quinta e preciso ir vê-la: rogo-te que me dês por escusado. Um outro disse.- Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los, peço-te que me dispenses. Disse um terceiro: Casei-me, e por isso não posso ir. Voltando o servo, referiu estas coisas a seu senhor. Então, indignado, o pai de família disse a seu servo: Sai já pelas praças e ruas da cidade, traze aqui os pobres, os aleijados, os cegos, e os coxos. E disse o servo: Senhor, está feito o que mandaste, e ainda há lugar. Respondeu o senhor ao servo: Vai pelos caminhos e cercados, e obriga a gente a entrar para que se encha a minha casa. Eu vos digo porém, que nenhum daqueles que foram convidados provará a minha ceia.

Homilias e Explicações Teológicas
A parábola do grande banquete revela a generosidade divina que convida todos à salvação, mas também a ingratidão humana que rejeita esse chamado por pretextos mundanos, mostrando que o Reino de Deus não se impõe, mas exige uma resposta livre e sincera, sendo os pobres e marginalizados os primeiros a acolhê-lo quando os privilegiados o desprezam (Santo Agostinho, Sermão 112). A epístola exorta à caridade não apenas em palavras, mas em ações concretas, pois o amor verdadeiro imita Cristo, que deu a vida pelos irmãos, sendo a fé sem obras uma contradição que não subsiste perante Deus (Santo Ambrósio, Comentário sobre a Primeira Epístola de João). O introito, ao proclamar Deus como refúgio e libertador, sublinha que a confiança no Senhor é a base para responder ao seu convite, pois somente quem reconhece sua dependência divina pode participar dignamente do banquete eterno (Santo Hilário de Poitiers, Comentário ao Salmo 17). A recusa dos convidados na parábola também aponta para a dureza de coração que impede a conversão, enquanto a insistência do senhor em encher a casa simboliza a missão universal da Igreja, que não cessa de chamar todos os povos à comunhão com Deus (Santo Gregório Magno, Homilia 36 sobre os Evangelhos).

Comparação com os Demais Evangelhos
A parábola do grande banquete em Lucas 14,16-24 encontra um paralelo em Mateus 22,1-14, mas esta última adiciona o detalhe do traje nupcial, enfatizando a necessidade de uma disposição interior adequada para participar do Reino, um aspecto não explicitado em Lucas. Em João 6,35-40, o tema do banquete é aprofundado pela identificação de Jesus como o “pão da vida”, sugerindo que o convite ao banquete é um chamado à comunhão eucarística, ausente na narrativa lucana. Marcos 2,15-17 complementa Lucas ao mostrar Jesus compartilhando a mesa com pecadores, reforçando que os “coxos, cegos e aleijados” da parábola de Lucas representam os marginalizados que Deus prioriza, um enfoque menos desenvolvido nos outros evangelhos.

Comparação com Textos de São Paulo
A epístola de 1 João 3,13-18, com sua ênfase no amor prático, encontra eco em Gálatas 5,13-14, onde Paulo exorta os cristãos a servirem uns aos outros pelo amor, cumprindo toda a lei, um aspecto que complementa a exigência de ações concretas em João. Em Romanos 12,1-2, Paulo fala do culto espiritual como entrega total a Deus, o que aprofunda o convite do evangelho de Lucas ao banquete, sugerindo que aceitar o chamado divino implica uma transformação completa da vida. Em 1 Coríntios 11,23-29, Paulo descreve a Eucaristia como o banquete do Senhor, reforçando a ideia de Lucas de um convite universal, mas adicionando a necessidade de discernimento espiritual para participar dignamente, um ponto não abordado diretamente nos textos indicados.

Comparação com Documentos da Igreja
O evangelho de Lucas 14,16-24, com o convite universal ao banquete, é complementado pelo Missal Romano (edição de 1962, Oração do Segundo Domingo após Pentecostes), que pede a Deus que torne os fiéis dignos de participar do banquete celestial, enfatizando a preparação espiritual não detalhada na parábola. A epístola de 1 João 3,13-18, que exorta ao amor em ações, ressoa com o Breviário Romano (Hino do Ofício de Laudes, Festa do Sagrado Coração), que celebra o amor de Cristo como modelo de caridade, reforçando a necessidade de imitar esse amor em atos concretos, um aspecto menos explicitado em João. O introito (Salmo 17) encontra paralelo no Pontifical Romano (Rito da Consagração de Virgens), que destaca Deus como refúgio e fortaleza, sublinhando a confiança total no Senhor como condição para responder ao chamado divino, uma ênfase ausente no salmo isoladamente.